A Apple ajustou significativamente sua produção para o segundo trimestre de 2025, aumentando a fabricação de iPhones de 41 para 45 milhões de unidades. A produção de iPads também cresceu, subindo de 11,5 milhões para 13 milhões de unidades. Esses números representam um salto de 15% e 24%, respectivamente, em comparação com o mesmo período de 2024.
Expansão estratégica da Apple em meio a tensões comerciais

Esse movimento não é aleatório. Ele está diretamente ligado às incertezas no cenário comercial internacional, especialmente às tensões entre os Estados Unidos e a China. Diante da possibilidade de mudanças nas tarifas de importação e exportação — incluindo possíveis aumentos —, a Apple optou por antecipar sua produção para evitar surpresas e impactos financeiros mais adiante.
Embora alguns dispositivos eletrônicos, como smartphones e certos componentes, estejam temporariamente fora da lista de produtos tarifados pelos EUA, essa isenção pode ser revogada a qualquer momento. Diante da instabilidade, a Apple preferiu agir de forma preventiva.
Mitigando riscos com diversificação geográfica
Além de acelerar a produção, a Apple também vem adotando uma estratégia de descentralização de sua cadeia de fornecimento. Tradicionalmente dependente da manufatura chinesa, a empresa tem transferido parte da produção para países como Índia e Brasil — onde os custos e riscos tarifários podem ser menores ou mais estáveis.
A decisão faz sentido do ponto de vista logístico e político. China e Vietnã, por exemplo, enfrentam ameaças de tarifas que podem atingir até 145% e 46%, respectivamente. Já Índia e Brasil, apesar de desafios estruturais, oferecem incentivos para produção local e fortalecem a posição da Apple em mercados estratégicos.
A fabricação no Brasil, em especial, está diretamente relacionada ao modelo iPhone 16e, uma versão voltada para países emergentes. Ao nacionalizar parte da produção, a Apple também ganha em competitividade de preços e reduz os impactos de flutuações cambiais e barreiras de importação.
Samsung e fornecedores sul-coreanos colhem os frutos
Quem mais se beneficia desse salto na produção da Apple são seus fornecedores sul-coreanos. Empresas como Samsung Display, LG Display e LG Innotek desempenham papéis cruciais na cadeia de suprimentos da Apple, especialmente no fornecimento de telas OLED, sensores e módulos de câmera para iPhones e iPads.
A Samsung Display, por exemplo, mantém cerca de 40% de sua receita diretamente ligada à Apple. Já a LG Innotek depende ainda mais dessa parceria: mais de 80% de sua receita, em 2024, veio de pedidos da empresa norte-americana. Esse novo impulso na produção representa não apenas aumento de receita para esses fornecedores, mas também uma maior previsibilidade no planejamento industrial.
Além disso, esse movimento reforça o papel da Coreia do Sul como um polo estratégico de tecnologia de ponta, consolidando ainda mais a interdependência entre gigantes do setor.
Estoque robusto antes do iPhone 17
É importante destacar que o aumento de produção não envolve novos modelos, mas sim unidades dos dispositivos atuais — o que sugere um objetivo claro de criar um estoque robusto para o segundo semestre. A Apple está se preparando para o lançamento do iPhone 17, previsto para o outono americano, e quer garantir que não haja gargalos na distribuição dos modelos existentes.
Essa abordagem proativa é um reflexo da experiência da empresa com interrupções anteriores, como as vistas durante a pandemia e em momentos de instabilidade comercial. Manter estoques abastecidos ajuda a manter a cadeia de suprimentos fluindo, a evitar atrasos em regiões-chave e a preservar margens de lucro mesmo diante de flutuações de custo.
Estratégia de longo prazo com foco em resiliência
A medida da Apple vai além de uma resposta a problemas imediatos. Trata-se de uma política mais ampla de resiliência industrial. Em vez de reagir a crises, a empresa busca prever cenários e se adaptar com agilidade. O aumento da produção, a descentralização geográfica e a diversificação de fornecedores fazem parte de uma estratégia pensada para o futuro.
Com o lançamento do iPhone 17 no horizonte e a pressão crescente sobre cadeias de suprimento globais, a Apple está investindo em controle e estabilidade. E, como efeito colateral positivo, fornecedores como a Samsung Display e LG Innotek veem sua importância estratégica crescer ainda mais.