Antes mesmo da ascensão das ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, a Apple já vislumbrava um futuro onde qualquer pessoa, com ou sem conhecimentos técnicos, poderia criar aplicativos a partir de comandos de voz. Essa ideia, revelada em 2023 por uma reportagem de Wayne Ma para o The Information, mostrava que a empresa estava experimentando internamente uma forma de utilizar a Siri para desenvolver apps de realidade aumentada no Vision Pro.
Apple quase lançou criação de apps com Siri no Vision Pro

Segundo o relatório, a ferramenta permitiria que usuários instruíssem o headset Vision Pro por meio da Siri para criar experiências interativas, como animais virtuais andando por uma sala e interagindo com objetos reais. Tudo isso sem a necessidade de programar comportamentos, animações ou cálculos de movimentação em um ambiente tridimensional. Um processo que hoje lembraria a chamada “codificação Vibe”, onde se descreve o que se quer e a IA cria.
Codificação Vibe antes da moda
O termo “codificação Vibe” ganhou força nos últimos tempos com o avanço das IAs generativas. Ele descreve um modelo onde qualquer pessoa pode imaginar um app, explicar como gostaria que ele fosse, e ver essa ideia se transformar em um aplicativo funcional, graças à mediação de ferramentas como o ChatGPT, Copilot ou o Gemini.
Na prática, é uma forma de democratizar a criação de software — e a Apple já pensava nisso em 2023. O mais curioso é que essa ideia partiu da mesma equipe que hoje lidera a Siri: sob a gestão de Mike Rockwell, um dos nomes por trás da estratégia do Vision Pro e agora também responsável pela evolução da assistente virtual.
O projeto interno visava transformar a Siri em uma plataforma criativa e interativa, não apenas uma assistente de tarefas simples. A proposta era tão ousada que, na época, soava quase inverossímil: permitir que qualquer pessoa criasse um aplicativo e o publicasse diretamente na App Store com comandos de voz. E, no entanto, dois anos depois, essa abordagem faz muito mais sentido diante das capacidades atuais da IA.
De plano ambicioso a silêncio total
Apesar do potencial inovador, o recurso nunca foi anunciado oficialmente pela Apple. Desde a divulgação do relatório, a empresa manteve silêncio sobre o assunto e não voltou a mencioná-lo em seus eventos ou materiais de marketing. Enquanto isso, a Siri segue sendo aprimorada — com promessa de novos recursos baseados em IA ainda não totalmente entregues desde seu anúncio inicial em 2024.
A ausência desse projeto no portfólio atual da Apple pode indicar que a ideia foi engavetada ou absorvida em outras frentes, como o próprio desenvolvimento de apps para o Vision Pro por meio do Xcode e do Reality Composer Pro. Ainda assim, o simples fato de essa visão ter existido internamente é uma forte evidência de que a Apple estava pensando à frente do mercado.
Mike Rockwell: peça-chave para o futuro da Siri?
Ao revisitar essa história, uma conclusão se impõe: Mike Rockwell tinha uma visão clara e ousada para o futuro da Siri. Mais do que assistente de voz, ela poderia se tornar uma ferramenta de criação e expressão — um verdadeiro facilitador de experiências imersivas em realidade aumentada.
A retomada dessa ambição pode ser justamente o diferencial que a Siri precisa para se destacar em um cenário cada vez mais dominado por IAs conversacionais. E talvez o fato de Rockwell estar à frente da Siri agora não seja coincidência, mas parte de um plano maior para finalmente dar vida àquilo que, em 2023, parecia um sonho distante.