Morre hacker mais famoso de todos os tempos

Morre hacker mais famoso de todos os tempos

Kevin Mitnick, o hacker mais famoso e procurado da América, morreu aos 59 anos, vítima de um câncer de pâncreas. Ele fez história, foi tema de filmes e livros e desafiou a segurança do maior país do mundo por alguns anos até ser detido. Ele se tornou um verdadeiro mito no mundo todo por sua ousadia. Mesmo descoberto, continuava invadindo sistema pelo puro prazer do desafio.

Depois de longa atuação nos anos 90, fugiu para Israel e acabou descoberto por outro hacker. Depois, passou a atuar como consultor de segurança.

Para Mitnick, porém, era real, tanto que sua história motivou filmes e documentários. Mais do que isso, ele ganhou as páginas dos jornais após uma caçada realizada pelo FBI, que o colocou em listas de criminosos mais procurados até sua captura, em 1995. Entre seus crimes estavam o roubo de dados, informações de cartões de crédito e informações confidenciais de operadoras de telefonia, agências do governo e universidades.

Sua história, porém, começa de forma mais simples, quando ele burlou o sistema de ônibus da cidade americana de Los Angeles, rodando de graça por meses com o uso de um furador de cartões e passagens de baldeação que encontrou no lixo de uma das empresas de transporte que serviam a cidade. O interesse por computadores, porém, veio mais tarde, quando aos 16 anos de idade, ele invadiu os sistemas computadorizados da DEC (Digital Equipment Corporation), uma das pioneiras do mercado de informática dos EUA.

Morre hacker mais famoso de todos os tempos

O primeiro ataque foi contra o sistema de transporte, quando tinha apenas 12 anos. Ele burlou esse sistema e passou a andar de graça com um cartão adulterado.

Ele ainda não havia atingido a maioridade quando acessou ilegalmente sua primeira rede de computadores (em 1979, aos 16 anos). Cumpriu-se o cliché de começar pelo sistema administrativo do seu próprio instituto, mas Mitnick sempre garantiu que não mexeu em nada, que o fez “só para olhar”.

Em 1981, cometeu um crime pela primeira vez: junto com dois amigos, roubou fisicamente manuais e uma lista de códigos de segurança da operadora de telefonia Pacific Bell e acessou seu sistema COSMOS (responsável pela gravação de chamadas e correio de voz). A namorada de um de seus amigos os delatou.

O resultado foram três meses de prisão e um ano de liberdade condicional… que ele começou desligando o número de telefone de seu oficial de condicional, que descobriu que a companhia telefônica de repente não tinha nenhum registro dele.

Continuando com o clichê, em 1982 ele entrou nos servidores do NORAD (o Comando Aeroespacial dos Estados Unidos, onde acontecia o filme ‘Jogos de Guerra’), e em 1983 invadiu os servidores da ARPAnet para tentar acessar o pentágono.

Meritíssimo, estou viciado

Em 1988, uma tentativa de acessar o protótipo do novo sistema operacional de segurança da Digital Equipment Corporation (chamado VMS) resultou em sua detenção e prisão. O caso gerou polêmica e atenção da mídia por dois motivos:

  • O promotor conseguiu convencer o tribunal a proibir Mitnick de usar o telefone na prisão para impedi-lo de continuar hackeando da prisão. Ele só podia ligar para seu advogado, sua esposa, sua mãe e sua avó… e sob a supervisão de um agente penitenciário.
  • A sua (bem sucedida) estratégia de defesa baseou-se em convencer o juiz de que sofria de uma dependência informática comparável à de um toxicodependente: foi condenado a apenas um ano de prisão, após o que teve de passar meio ano em tratamento para o seu vício. E não toque nos computadores, é claro.

Em seu primeiro emprego depois disso, em uma agência de detetives, ele voltou aos seus velhos truques de manipulação de banco de dados, violando assim os termos de sua liberdade condicional. A essa altura, com as autoridades já avisadas, optou por se tornar um foragido.

Era 1992 e o melhor ainda estava por vir.

Mitnick faz mágica

Mitnick adotou uma nova tática para evitar ser rastreado: usar telefones celulares para suas atividades criminosas e permanecer em movimento. Precisava de programas que facilitassem sua movimentação na rede telefônica, e para isso assaltou o computador de outro hacker —mas este, um dos ‘bons’, colaborador do FBI—, Tsutomu Shimomura.

Shimomura não aceitou muito bem (ele levou para o lado pessoal, hein) e fez de sua missão ajudar a detê-lo. Semanas depois, ele localizou seu próprio software – roubado por Mitnick – nos servidores de uma operadora de telefonia. A intrusão de Mitnick foi a corda que eles começaram a puxar para localizar a linha móvel que ele estava usando para se conectar. Não levaria mais de dois meses para detê-lo, embora ele se mostrasse bastante escorregadio nesse meio tempo.

Minutos antes de prendê-lo, Mitnick conseguiu aparecer no rastreador de sinal em dois pontos simultaneamente e, oito horas depois de ser preso, conseguiu deixar uma mensagem provocativa (“Meu kung-fue é mais forte que o seu”) na secretária eletrônica de Shimomura. Ainda não se sabe como ele fez isso.

Kevin é o único no centro. E o da direita, em 2019.

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Após sua prisão em 1995, Mitnick passou 5 anos na prisão, sendo libertado em janeiro de 2000 após chegar a um acordo judicial, declarando-se culpado de parte das acusações… e concordando em passar os próximos três anos sem usar qualquer dispositivo tecnológico além de seu telefone fixo. Além disso, foi proibido por sete anos de tirar proveito de sua história na mídia por meio de livros, séries ou filmes.

Durante esse período, Shimomura co-escreveu o livro que narrou todo o caso, ‘Takedown’.

O filme (não tanto o livro) foi bastante ruim. Você pode contrastar ambos com a perspectiva fornecida anos depois por Mitnick em seu próprio livro “Ghost in the Wires: My Adventures as the World’s Most Wanted Hacker” ou pelo documentário ‘Freedom Downtime’:

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