Nos últimos anos, o Google Discover se consolidou como uma das principais formas de consumo de notícias para milhões de usuários de Android e iOS. Alimentado por inteligência artificial, o feed exibe conteúdos personalizados com base nos interesses e hábitos de navegação do usuário. No entanto, uma nova mudança em teste pode alterar radicalmente essa experiência: o uso de resumos de IA no Discover.
O Google está testando uma funcionalidade que exibe resumos automáticos de notícias diretamente no feed, antes mesmo do usuário clicar no conteúdo original. Esta novidade, que aparentemente oferece conveniência, levanta questões importantes sobre autoria, tráfego de sites e o papel crescente da inteligência artificial no ecossistema de informações online.
Neste artigo, você vai entender como funciona esse teste, quais as motivações por trás dele e, principalmente, quais são suas implicações para usuários, criadores de conteúdo e a própria internet como conhecemos.

O que está mudando no feed do Google Discover?
De forma silenciosa, o Google começou a testar resumos gerados por IA diretamente no feed do Discover para alguns usuários. A alteração afeta principalmente os cards marcados como “Tendências”. Em vez de exibir o nome do site ou editor, esses cards mostram um pequeno resumo gerado por inteligência artificial, seguido por logotipos de várias fontes combinadas para gerar aquele texto.
A mudança está sendo observada tanto no Android quanto no iOS, o que indica que a empresa está fazendo um teste amplo, buscando entender como os usuários reagem a esse tipo de conteúdo.
Como funcionam os novos resumos de IA
A nova funcionalidade se baseia em resumos de IA que combinam informações de múltiplas fontes confiáveis, segundo o Google. Ao invés de um link único, o Discover agora mostra ícones de diferentes sites empilhados, sugerindo que aquele conteúdo é um “consenso” de várias publicações.
Visualmente, o cartão apresenta as primeiras linhas do resumo, seguidas por um botão “Ver mais” para expandir o conteúdo resumido. Em muitos casos, não há um destaque claro para o autor original ou o site que ofereceu a notícia principal. Isso dilui a responsabilidade editorial e levanta preocupações sobre credibilidade e atribuição de conteúdo.
Um novo botão para ‘salvar para depois’
Paralelamente, o Google está testando um novo botão de favoritos, que permite ao usuário salvar artigos para leitura posterior. Esse conteúdo salvo pode ser acessado na aba “Atividade”, reforçando o foco da empresa em manter os usuários engajados dentro de seu próprio ecossistema.
O impacto para os usuários: conveniência ou uma nova bolha?
Para o usuário médio, essa novidade pode parecer uma evolução lógica. Receber um resumo direto no feed significa economizar tempo e acessar rapidamente os pontos principais de uma notícia, sem precisar abrir diversos sites.
No entanto, há um lado sombrio nessa conveniência. O uso de resumos de IA no Google Discover introduz o risco de interpretações enviesadas, erros de contexto e perda da voz editorial do autor original. Quando a IA reescreve o conteúdo, ela pode omitir nuances, interpretações e até análises que fazem parte do valor da reportagem.
Além disso, existe o risco de que a IA priorize fontes específicas, reforçando ainda mais os filtros-bolha aos quais os usuários já estão expostos. Isso pode tornar o Discover menos diverso, reforçando apenas perspectivas que agradam ao algoritmo — e não necessariamente as mais relevantes ou completas.
O alerta vermelho para criadores de conteúdo e sites
Embora o impacto para os usuários ainda seja incerto, para os criadores de conteúdo a ameaça é clara e direta. A funcionalidade de resumos automáticos introduz o temido conceito de “conteúdo de clique zero”: o usuário consome a informação sem jamais visitar o site que a produziu.
Isso representa um golpe potencial no tráfego de referência vindo do Google Discover, que é vital para monetização, crescimento e relevância de milhares de blogs, sites jornalísticos e portais de nicho.
A situação lembra — e complementa — a polêmica envolvendo as visões gerais de IA na Busca (SGE). Em ambos os casos, o Google parece estar reposicionando seu papel: de curador de links para produtor de resumos automáticos, o que pode reduzir a visibilidade e o valor do conteúdo original.
Ao fazer isso, o Google corre o risco de minar o ecossistema que alimenta sua própria plataforma. Afinal, se os criadores deixarem de ser recompensados pelo seu trabalho, quem produzirá as informações que o Google deseja resumir?
Conclusão: uma mudança que ninguém pediu, mas que pode chegar para todos
O teste de resumos de IA no Google Discover parece, à primeira vista, uma inovação voltada à conveniência do usuário. Mas, ao olhar mais de perto, traz implicações profundas para a forma como consumimos, produzimos e valorizamos a informação online.
Reduzir o papel dos sites e autores em nome da eficiência algorítmica pode comprometer a diversidade de vozes, a qualidade da informação e a própria sustentabilidade do jornalismo digital.
E você, o que acha dessa novidade? Gostaria de ter resumos de IA no seu feed ou prefere clicar e ler o artigo original da fonte? Deixe sua opinião nos comentários!