Você sabia que o Google chegou a oferecer milhões de euros para uma associação de provedores de nuvem na Europa? A revelação veio com exclusividade pelo site The Register, que mostrou documentos confidenciais sobre o caso. A disputa gira em torno de licenciamento de software, e, pelo que tudo indica, o Google estava disposto a pagar caro para manter a pressão contra a Microsoft.
O que está acontecendo?
Tudo começou com uma queixa formal apresentada pela CISPE (Cloud Infrastructure Service Providers in Europe), uma associação que reúne grandes provedores de nuvem, como AWS, Leaseweb e UpCloud. O grupo acusou a Microsoft de dificultar a vida de quem escolhe rodar seus softwares em infraestruturas de terceiros, cobrando valores absurdamente mais altos em comparação ao uso no Azure.
Em 2022, a CISPE levou o caso à Comissão Europeia, alegando que as práticas da Microsoft eram anticompetitivas. Foi aí que o Google viu uma oportunidade e entrou em cena.
O que o Google ofereceu?
De acordo com documentos obtidos pelo The Register, o Google apresentou uma proposta recheada de incentivos financeiros e tecnológicos para tentar ganhar o apoio da CISPE. O pacote incluía:
- Fundo de Inovação para Membros: Um total de €4 milhões, ou cerca de €100 mil para cada membro, com o objetivo de financiar projetos e taxas de licenciamento.
- Contribuição para Associação: Outros €10 milhões destinados à estrutura e funcionamento da CISPE.
- Créditos em Software: A oferta mais generosa – €100 milhões em créditos para uso do Google Distributed Cloud, uma solução para implantações baseadas em Kubernetes.
O Google deixou claro que esses benefícios só seriam liberados se a CISPE continuasse promovendo princípios de “licenciamento justo”.
Por que a cispe recusou?
Apesar da oferta tentadora, a CISPE decidiu aceitar um acordo com a Microsoft, que incluía um pagamento estimado entre €10 milhões e €30 milhões. A gigante de Redmond também se comprometeu a aprimorar seu produto Azure Local (antes conhecido como Stack HCI), adaptando-o para atender melhor os membros da CISPE.
Fontes ligadas à associação explicaram que os membros estavam cansados de um conflito prolongado. Para eles, o acordo com a Microsoft parecia a solução mais prática e direta para resolver os problemas de licenciamento.
E o Google foi para onde?
Depois de ser rejeitado pela CISPE, o Google voltou suas atenções para a Open Cloud Coalition (OCC), um grupo menor que reúne principalmente provedores de nuvem do Reino Unido e Espanha. A OCC tem como objetivo combater práticas restritivas e influenciar reguladores a promoverem um mercado mais competitivo.
A Microsoft, por sua vez, não perdeu tempo em criticar o movimento, chamando a OCC de “grupo de fachada” financiado pelo Google para desacreditá-la junto às autoridades.
O mercado de nuvem e a disputa por poder
Essa disputa não é só sobre política; é uma corrida bilionária. Só no segundo trimestre de 2024, o mercado europeu de infraestrutura em nuvem movimentou US$ 16 bilhões. Nesse cenário, a AWS lidera com 32% de participação, seguida pela Microsoft (26%) e pelo Google (15%).
O principal problema está nas políticas de licenciamento da Microsoft. Desde 2019, a empresa cobra até quatro vezes mais por licenças de produtos como o Windows Server quando usados em nuvens que não são Azure. Não é à toa que o Google chama isso de “imposto Microsoft”.
E agora, o que esperar?
Embora a CISPE tenha encerrado a briga com a Microsoft, o Google segue pressionando por mudanças. A empresa espera convencer reguladores no Reino Unido e na Europa a adotarem regras mais rígidas contra práticas anticompetitivas.
O resultado dessa batalha vai moldar não só o futuro do mercado de nuvem, mas também a forma como grandes empresas lidam com questões de concorrência e inovação.