Ubuntu pensa em dividir o pacote linux-firmware: o que isso significa para seus drivers de GPU e instalações?

Por
Emanuel Negromonte
Fundador do SempreUPdate. Acredita no poder do trabalho colaborativo, no GNU/Linux, Software livre e código aberto. É possível tornar tudo mais simples quando trabalhamos juntos, e...

Uma mudança pequena no backend que pode transformar a forma como o Ubuntu lida com drivers e atualizações!

O Ubuntu, uma das distribuições Linux mais populares do mundo, está considerando uma mudança significativa na forma como lida com firmwares. A proposta, publicada recentemente na lista de discussão ubuntu-devel, parte de Juerg Haefliger, engenheiro da Canonical, e sugere a divisão do pacote linux-firmware, que atualmente reúne todos os firmwares essenciais para funcionamento de diversos hardwares — de placas Wi-Fi a GPUs.

Mas o que essa mudança realmente significa? Por que dividir esse pacote? E como isso pode afetar suas instalações, atualizações e drivers de GPU no Ubuntu?

O que é o linux-firmware e por que ele virou um problema?

O linux-firmware é um dos pacotes mais importantes do sistema, contendo dezenas de blobs binários — arquivos de firmware proprietários que o kernel carrega para fazer dispositivos funcionarem corretamente. Sem esse pacote, o Ubuntu não conseguiria suportar adequadamente placas gráficas, adaptadores de rede, chipsets de Wi-Fi e muito mais.

O problema é que o linux-firmware está crescendo de forma contínua. A cada nova GPU lançada, novos blobs são adicionados. O resultado: o pacote se tornou volumoso e ineficiente, pesando na instalação do sistema e nas atualizações de versão.

A proposta da Canonical: dividir para otimizar

Diante desse cenário, Juerg propôs iniciar uma divisão moderada, diferente da abordagem altamente granular do Debian. A ideia seria criar um novo conjunto de pacotes:

  • linux-firmware: manteria a maior parte dos firmwares não gráficos.
  • linux-<vendor>-graphics: pacotes específicos por fornecedor (ex: AMD, Intel, NVIDIA) com os blobs gráficos pesados.

Vantagens dessa divisão

1. Downloads mais leves: usuários só baixariam o firmware gráfico correspondente ao seu hardware.

2. Instalações mais rápidas: imagens ISO do Ubuntu poderiam ser menores, o que é especialmente útil em conexões lentas ou instalações em massa.

3. Gerenciamento otimizado de drivers: com os firmwares gráficos separados, a Canonical pode acelerar correções e distribuições específicas.

4. Atualizações de versão mais eficientes: menos dados para processar ao subir de versão, reduzindo possíveis gargalos.

Desafios técnicos e dúvidas em aberto

Nem tudo são flores. Juerg foi claro em afirmar que a divisão não pode quebrar a experiência do usuário. Isso significa que o Ubuntu precisa garantir uma transição transparente, tanto em instalações novas quanto em upgrades.

Ferramentas que precisam de atualização

A proposta levanta questões sobre quais componentes do sistema precisarão ser ajustados para garantir que os pacotes certos de firmware gráfico sejam instalados:

  • ubuntu-release-upgrader: responsável pelas atualizações de versão do sistema.
  • subiquity: o instalador padrão do Ubuntu.
  • ubuntu-drivers: ferramenta usada para detectar hardware e sugerir drivers adequados.

Além disso, há impacto direto na geração de imagens do Ubuntu e nas chamadas “seeds” — listas de pacotes incluídos nas ISOs das distribuições.

O debate ainda está aberto

Juerg deixa claro que está apenas “entretenendo a ideia” neste momento. Ou seja, a proposta está em discussão e não foi oficialmente aprovada. A Canonical abriu espaço para que a comunidade opine, levante problemas e sugira melhorias.

Contexto mais amplo: o crescimento descontrolado dos firmwares no Linux

O caso do linux-firmware não é isolado. À medida que o Linux precisa suportar mais hardware — especialmente GPUs e chips de Wi-Fi —, o número de firmwares binários cresceu exponencialmente. Como muitos desses firmwares são proprietários, eles não podem ser modificados ou otimizados como código livre, o que complica sua gestão.

Distribuições como o Debian já adotaram uma divisão mais detalhada desses arquivos. A proposta da Canonical tenta encontrar um meio-termo entre praticidade, eficiência e compatibilidade.

Conclusão: o Ubuntu caminha para uma abordagem mais modular

Se implementada, essa mudança pode representar um avanço importante na eficiência do Ubuntu. Instalações mais leves, atualizações mais rápidas e uma abordagem mais inteligente para lidar com drivers gráficos podem beneficiar diretamente os usuários — especialmente aqueles com hardware moderno ou que realizam instalações frequentes.

Resta agora acompanhar os desdobramentos da proposta na lista ubuntu-devel. O futuro do linux-firmware ainda está em aberto, mas uma coisa é certa: a otimização do Ubuntu está em pauta, e a comunidade terá papel crucial na definição do caminho a seguir.

📚 Glossário técnico

  • Firmware: Software de baixo nível que opera diretamente no hardware. É essencial para o funcionamento de dispositivos como placas de vídeo, Wi-Fi e SSDs.
  • Blobs binários: Arquivos proprietários fornecidos por fabricantes, sem código-fonte aberto.
  • subiquity: Instalador moderno do Ubuntu usado em versões recentes do sistema.
  • Seeds: Listas de pacotes usadas para compor imagens oficiais do Ubuntu.
  • Canonical: Empresa responsável pelo desenvolvimento do Ubuntu.
  • ubuntu-devel: Lista oficial de desenvolvedores do Ubuntu, onde discussões técnicas sobre o futuro da distro acontecem.
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