Entrevista com Boris Kuszka Diretor de Arquitetura de Soluções, Red Hat Brasil

Boris Kuszka
Boris Kuszka à esquerda e Sandro (SempreUPdate) à direita.

O SempreUPdate estava no evento da Red Hat Brasil, o evento aconteceu no dia 19 de setembro em São Paulo e reuniu milhares de pessoas que tem como missão manter a chama acesa o open source, e como não poderia ser diferente, o SempreUPdate foi convidado para participar do evento e nos sentimos lisonjeados pelo convite. Confira abaixo a entrevista com Boris Kuszka Diretor de Arquitetura de Soluções, Red Hat Brasil.

SempreUPdate:
Como foi entrar para a família Red Hat? Foi através de algum convite?
Boris Kuszka:
Falar sobre carreira então. Olha na verdade eu venho de T.I já faz muito tempo, comecei a trabalhar em 90, passei por grandes fabricantes, sempre trabalhei com Unix então eu era um cara Unix, é até interessante a gente comentar sobre isso, a gente viu que o Unix começou a ficar obsoleto e começou a ser ultrapassado pelo Linux, tanto em termos de tecnologia como em adoção e aí eu mesmo achei cara está na hora de eu mesmo me modernizar, ai como eu comentei na minha carreira acabei passando por um monte de empresas de Unix, as três principais eu trabalhei, então a IBM com AIX, trabalhei 15 anos na Sun com Solaris e cheguei passar na HP também com HP-UX, então os três grandes sabores de Unix eu trabalhei, depois da HP ainda passei rapidamente pela NetApp aí me convidaram pra vir na Red Hat para liderar a área de pré vendas que era mais ou menos o que eu fazia em todas as outras empresas, e aí foi muito legal né porque a Sun sempre teve aquela idéia de Open Systems só que a Red hat é muito mais do que Open Systems por ser Open Source, então não é só padrões abertos, efetivamente você começa a entender toda essa interação da comunidade ajudando a desenvolver, empresas e indivíduos cooperando para você desenvolver um software em conjunto, e foi uma grata surpresa a forma como a Red Hat trabalha, tem tudo haver com toda a linha da carreira que eu sempre coloquei. Respondendo a pergunta fui convidado a trabalhar aqui e meio que pra organizar essa área de pré vendas que ela ainda estava sendo consolidada, estou a 5 anos, e é uma empresa que eu me identifico muito não só pela tecnologia em si mas pela forma de trabalho, eu acho que a filosofia do Open Source é um negócio que faz muito sentido hoje em dia.
SempreUPdate:
O que cativa bastante é isso, o que eu acredito que mais cative os usuários é a filosofia do Open Source.
Boris Kuszka:
O pessoal é apaixonado aqui pela empresa, é uma coisa que eu nunca vi, na Sun eu vi um pouco, em outras empresas que trabalhei vi menos, mas na Red Hat é mais ainda, pra você ter ideia, acho que vão até falar mais pra frente mas já vou adiantar, vários funcionários da Red Hat tem a tatuagem do logo da Red Hat, isso você não vê em nenhuma empresa, uma vez vi uma estatística que falava que a Harley Davidson é a marca que mais tem tatuagem eu acho que em segundo é a Red Hat, isso mostra que não é a empresa na verdade, é filosofia que está por trás e dentro deles, a paixão pela empresa é o negócio que eu vejo muito fortemente aqui na Red Hat, tem alguns tatuados aqui mesmo no evento, o Thomas Cameron que é um americano que vem é um dos caras que tatuado no braço, pra você ver o cara que tatua o logo da empresa no braço não é assim a empresa por si só é realmente tudo que está por trás e dentro dela.
SempreUPdate:Em 2015 James Whitehurst lançou um livro sobre princípios abertos de gerenciamento(The Open Organization), na sua opinião é algo que poderia ser aderido nas empresas brasileiras? Poderia ajudar nesse momento de crise?
Boris Kuszka:
Na verdade eu estou vendo esse tipo de transformação andando junto com a tecnologia, essa coisa de transformação digital não é só uma ferramenta que se implementa, você efetivamente tem que pegar e alterar alguns padrões de comportamentos culturais mesmo, como sempre falam a famosa tríade processos, pessoas e tecnologia né, não basta só uma delas e essa parte cultural deve ser mudada também, você tem menos aversão a risco mais experimentação e a cabeça mais aberta para inovação, você não pode pensar da forma que você estava pensando até agora, então essa mudança cultural tem haver com esse Open Organization, então você tem que começar a pensar de uma outra forma, a organização tem que estar mais aberta, ela tem que respeitar a opinião de todos indivíduos que estão lá dentro, tem que ter uma meritocracia, quem faz o que agrega mais vai ser mais valorizado e não pelo cargo ou pela patente da pessoa, então é isso que o livro prega sobre uma organização aberta o Open Organization. E aí respondendo a tua pergunta sim eu acho que não só Brasil na verdade no mundo todo, estou vendo todas empresas caminhando para uma outra forma de administração uma outra forma de abertura, a gente vai ver alguns clientes fazendo uma apresentação, vai ter um painel agora umas 11 e pouquinho e tem desde empresas muito tradicionais até empresas novas que já nasceram nesse mundo digital, uma das coisas que eu vou estar explorando até a reação deles é quais mudanças comportamentais e culturais vocês viram na sua empresa para começar a adotar nova estrutura ágil, desenvolvimento ágil, devops, todas essas abordagens mais recentes exigem você mudar o comportamento, então só ratificando, efetivamente a gente vê todas empresas mudando ai o comportamento e sendo mais abertas, começando a se aproximar da filosofia Open Source em si.
SempreUPdate:
Um dos serviços oferecidos pela Red Hat é o serviço de Nuvem, porém no Brasil muitas empresas tem receio da solução, acreditam que Nuvem é um computador de outro, ficam com o pé atrás.
Boris Kuszka:
Aí vem a parte cultural como eu estava te falando, faz parte também dela, de qualquer forma a Red Hat tem approach bastante paulatino pra você implementar uma estrutura de nuvem, as nossas soluções não são somente para nuvem pública, você pode começar a automatizar seu data center e transformar no que a gente chama de nuvem privada, efetivamente a gente enxerga no futuro o que a gente chama de nuvem híbrida mas no sentido até mais abrangente possível, nuvem híbrida no sentido sim você vai ter máquinas virtuais tradicionais, vai ter máquinas em bare metal, você vai ter tua nuvem privada com openstack e automação dentro dela e você vai utilizar várias nuvens públicas e não uma apenas, a porcentagem que se vai estar utilizando nuvens públicas e nuvens privadas vai variar na vertical, exatamente como você falou tem gente que é mais conservador e tem medo de colocar os dados ou até tem responsabilidades com os dados que ele simplesmente não pode passar a responsabilidade pra uma nuvem pública, ele tem essa responsabilidade, vamos dar um exemplo que tem aqui bancos, bancos são responsáveis por conta corrente, teu dinheiro que está lá dentro, por mais seguro que seja uma nuvem pública ele não vai terceirizar essa responsabilidade para nuvem pública, então é muito mais do que só confiar ou não, existe uma questão de responsabilidade, mas nada impede de que o mesmo banco e eles estão utilizando nuvens públicas para outros projetos, onde não é o core business, mas projetos paralelos e projetos satélites vão estar sendo colocados, e a nossa visão é bem clara, todo mundo vai continuar utilizando as estruturas tradicionais e vai adicionar automação nuvem privada e começar a utilizar nuvem privada, e de novo a proporção pode variar, vão ter empresas que vão estar usando 100% nuvem pública e vai ter gente que vai estar usando 10% de nuvem pública, um pouco de nuvem pública eu acho improvável de o pessoal não utilizar, então nem que seja uma porcentagem pequena, é muito fácil utilizar, é muito mais ágil você usar, tipo eu tenho um projeto novo, poxa vou começar na nuvem depois eu vejo o tamanho dele e passo pra nuvem privada, Facebook mesmo faz assim, Facebook é extremamente ágil, ninguém nem questiona sobre agilidade do Facebook, o Facebook não começa colocando no data center deles não, eles colocam em uma nuvem pública aí obtém uma ideia do size e de quanto vai demandar de servidores e da estrutura depois eles passam pra nuvem privada que eles têm uma estrutura gigantesca dentro Facebook, inclusive um dos data centers da Sun foi comprado pelo Facebook, o principal data center da Sun lá da Califórnia acabou indo pro Facebook, então interessante você ver né um data center de uma empresa que era um marco de servidores e etc foi pra um site social que também é um marco, é interessante a mudança de paradigma e a forma de trabalho.
SempreUPdate:
Existe algum projeto que a Red Hat desenvolve que seja aplicável no setor governamental, seja âmbito municipal, estadual ou federal?
Boris Kuszka:
A gente tem participado de um monte de eventos, teve agora mesmo o evento do secop em Porto de Galinhas, eu estava até agora semana passada, onde se discute muito sobre aumentar a agilidade do governo, o governo brasileiro mas no mundo todo a gente vê isso enfoca muito em Open Source, por várias razões né, abertura de padrões, mais oportunidade pra todo mundo fazer serviço, não ficar alimentando indústrias proprietárias e assim por diante, então o open source por si só já é uma coisa que é muito fomentada dentro do governo, a Red Hat como sendo a maior empresa de Open Source empresarial ou seja a gente pega as versões comunidades e transforma esses projetos comunidade em produtos empresariais tendo uma empresa grande por trás sem perder o DNA o que é importante enfatizar, somos 100% Open Source, isso dá bastante tranquilidade para órgãos governamentais e de maior porte se apoiarem na gente, então a gente tem sido convidado em vários eventos, teve em Brasília ainda este ano o Agile Trends Gov, ou seja o governo está pensando muito sobre aumentar a parte desenvolvimento ágil, então é uma coisa que está muito na cabeça do governo, então está sendo muito rico a pesquisa digamos assim ou a forma como o governo brasileiro tem estudado essas soluções, então o governo brasileiro está bastante em linha com o Open Source, a gente vê projetos novos surgindo focados em transparência, ainda mais nessa situação toda que a gente está passando né você ter mais ferramentas mais aplicativos para atender o cidadão acho que imprescindível, trazer mais conforto pra ele, mostrar que o governo brasileiro está evoluindo e está partindo para uma transparência maior em termos de informações, então é uma preocupação que eu vejo dentro do governo brasileiro e eu vejo uma evolução bastante grande nesse sentido. A gente não tem um projeto específico para governo, mas a gente participa com nossos componentes de software em projetos governamentais, mas efetivamente uma interação muito forte de governo e Red Hat existe.
SempreUPdate:
Quais as principais fatias do mercado brasileiro que a Red Hat está focando?
Boris Kuszka:
A Red Hat até pelas características dos produtos dela e a variedade de clientes é gigantesca, a gente atende desde o pequeno escritório que tem o nosso linux ou tem uma ferramenta ou outra de governança e automação até gigantes como bancos e operadoras, governo sempre foi um ponto muito forte, a gente tem uma diretoria só pra governo, a gente está agora começando a criar em paralelo com a diretoria de governo uma diretoria de negócios estratégicos, onde as duas principais verticais que a gente vê é a vertical de finanças tanto banco como seguradoras e tel, tel é um negócio que a gente está vendo cada vez mais abraçando novas tecnologias até para reduzir o custo e coisas assim, então as operadoras de telecomunicações em geral também estão entre as principais empresas que estão interagindo com a gente, isso sem deixar obviamente todo resto da pirâmide de ser atendido, a gente tem muitos parceiros, vocês viram aí alguns estandes de alguns parceiros nossos, a gente está tentando obviamente atender a todas as verticais, mas essas três vamos dizer que estamos dando um foco pessoal maior são setor financeiro, telecomunicações e governo.
SempreUPdate:
E para as pessoas que querem trabalhar na Red hat? Quais o passos?
Boris Kuszka:
Cara https://jobs.redhat.com você tem anúncios de varias oportunidades, volta e meia a gente tem crescido, está 20% ao ano mundialmente, aqui no Brasil até um pouco mais, então efetivamente você vê aí a Red Hat cada vez mais presente no país, atualmente tem acho que 260 pessoas trabalhando no Brasil, metade engenharia e metade escritório de vendas, então a gente tem de tudo que é tipo de trabalho, trabalho de engenharia que é de desenvolvimento mesmo tem três tipos de engenharia, tem a engenharia de desenvolvimento que trabalha nos projetos upstream por exemplo que trabalham no Fedora, a maioria dos engenheiros que trabalham no projeto Fedora são da própria Red Hat, além da própria comunidade, etc,etc, e outros projetos assim por diante, nós temos os engenheiros da qualidade de quality assurance que transformam o projeto comunidade em produto Enterprise e a gente tem ainda o terceiro grupo que é engenharia de suporte que a gente chama de Seg que é o pessoal que desenvolve os patchs,etc, então fora esses grupos de desenvolvimento que normalmente trabalham home office até, que só trabalham em casa com vídeo e desenvolvendo, eles tem os objetivos deles de entrega e assim por diante, existe muita interação via vídeo hoje em dia, é muito fácil estar fazendo dessa forma, e a outra metade trabalhando em escritórios de venda mesmo, que é o meu time por exemplo arquiteto de solução que aí interage com os clientes bolam a arquitetura, qual é a solução que está mais adequada, então a gente tem aí uma gama grande né de diferentes tipos de perfis de trabalho dentro da Red Hat, é só ficar de olho no que está aparecendo ou sendo anunciado e mesmo lá fora, tem muitos brasileiros que trabalham lá fora, já teve gente da minha equipe que acabou saindo e indo trabalhar na Red Hat nos Estados Unidos e assim por diante, é uma empresa global, todo nosso desenvolvimento é descentralizado o que é legal, você tem gente espalhado por todos países para trabalhar, mesmo você trabalhando na Red Hat nada impede de você trabalhar da sua casa, então é um formato moderno né obviamente mas existe muito controle por incrível que pareça, a gente tem diversas reuniões por dia pra ver como está sendo e ir acompanhando o desenvolvimento cada uma delas, mas enfim todo mundo é bem vindo ai pra trabalhar, fora trabalhar diretamente na Red Hat, obviamente tem todo o ecossistema de parceiros que não deixa de ser trabalhar na Red Hat estar trabalhando com um parceiro nosso.
SempreUPdate:
Uma das ferramentas que eu como desenvolvedor tive a oportunidade de utilizar foi o OpenShift, o que eu gostaria de saber é se tem novas ferramentas que vem aí pela frente voltadas para desenvolvimento?
Boris Kuszka:
Cada vez mais, o OpenShift inclusive é o nosso carro chefe hoje ai no evento, a gente fez o anuncio do https://openshift.io agora Red Hat Summit em Boston onde a gente está colocando cada vez mais ferramentas, a idéia do OpenShift é estar abraçando outras tecnologias, então estamos falando de Node.Js, falando de Python, PHP, .Net Core agora com o anúncio do 2.0, você está começando a ver todas as tecnologias convivendo dentro de um ambiente de containers e essa é a ideia realmente de uma plataforma com o OpenShift, você ter o controle de versionamento e de quais frameworks você está utilizando mas sem abrir mão da liberdade do desenvolvedor de escolher qual tecnologia que é mais adequada para estar atendendo as demandas para desenvolvimento específico que você está colocando e muito em breve a gente vai ter mais anúncios ainda, o Eclipse Che não sei se você já tinha ouvido falar, é uma interface web do nosso eclipse, foi comprado agora pela Red Hat a empresa que desenvolvia né e a gente está colocando dentro do OpenShift pra você ter uma interface via web para estar acessando o OpenShift online, em breve a gente vai ter anúncios aí, coisas novas estão surgindo a toda hora e esse anúncio da Microsoft chamou muita atenção, ainda ano que vem provavelmente a gente vai ter nós de servidores windows convivendo com nós de servidores linux todos coordenados pelo OpenShift e cada um rodando seus containers, containers windows e containers linux obviamente cada um no seu servidor que ainda não existe interoperabilidade de container o que existe é uma acoplagem muito grande entre o container e sistema operacional, mas cada vez mais você vê realmente approaches muito distintos sendo simultaneamente acessados por uma plataforma como o OpenShift.
Agradecemos pelo convite a Red Hat, e atenção com a qual fomos recebidos pela assessoria no Fórum da Red Hat em São Paulo!