O que levou a Microsoft a se apaixonar pelo open source?

Tudo ainda é visto com muita desconfiança. Entretanto, a guindada da Microsoft rumo ao código aberto é para valer. Pelo menos é o que garante o ex-chefe da Divisão Windows, Steven Sinofsky. Em um depoimento inédito, ele deu pistas sobre o que realmente ocorreu nos anos 90 quando a Microsoft abriu guerra declaradamente contra o código aberto até o início dos anos 2000.

Sinofsky disparou uma série de tweets em resposta a notícias sobre o presidente da Microsoft e o assessor jurídico Brad Brad Smith de que o ataque de sua empresa ao código aberto o colocou no “lado errado da história” .

A citação mais famosa coube ao ex-CEO da Microsoft, Steve Ballmer. Referindo-se ao licenciamento de código-fonte aberto, Ballmer em 2001 chamou o Linux de “câncer”, enquanto o co-fundador da Microsoft Bill Gates disse que a GPL (GNU General Public License) engoliu o software proprietário como o Pac-Man.

Depois que a Microsoft transportou o SQL Server para o Linux, Ballmer disse que não via mais o Linux como um câncer. Contudo, o estrago (na verdade lucros milionários) já estava feito.

Smith foi principal advogado da Microsoft durante a guerra contra o código aberto. Ele admitiu que a empresa estava errada, entretanto, disse que agora havia mudado. Smith aponta para a aquisição do GitHub e as atividades de código aberto da empresa no site de compartilhamento de código.

Mudança de foco foi o que levou a Microsoft a se apaixonar pelo open source

Steven Sinofsky: “A Microsoft foi fundada no princípio de que o software era propriedade intelectual”. Imagem: Andreessen Horowitz/YouTube

Agora Sinofsky, que tem um novo livro detalhando os problemas antitruste e de segurança da Microsoft  durante seus anos supervisionando o Windows e o Office, tentou contextualizar a nova atitude da Microsoft e seu antigo antagonismo ao código aberto.

A Microsoft hoje adotou o código aberto à medida que seu foco muda dos PCs com Windows para o Azure e o Office na nuvem. Além disso, Sinofsky descreve os motivos pelos quais a abordagem da Microsoft na época era compreensível. Afinal, somente depois o modelo foi modificado pelo software como serviço por volta de 1999-2000. Assim, o Linux se tornou mais adequado que o Windows e a infra-estrutura do Google.

A defesa de Sinofsky da Microsoft revela a explicação de Gates sobre a GPL, em 2001, de que “torna impossível para uma empresa comercial usar esse trabalho ou se basear nele”.

A Microsoft foi fundada no princípio de que o software era propriedade intelectual, diz Sinofsky, fazendo distinções entre as várias abordagens de software e hardware adotadas pela Microsoft, IBM, Google e Apple.

Ele aponta para a linguagem de programação BASIC e o intérprete Altair BASIC, o primeiro produto de Bill Gates e seu co-fundador da Microsoft, Paul Allen, que eles criaram na década de 1970 para os amadores programarem em bare metal. Aliás, a Microsoft forneceu o interpreter GW-BASIC de 1983 na semana passada como um artefato histórico de software.

Outros tempos

Os tempos eram diferentes quando a Microsoft começou, escreve Sinofsky. Não havia distribuição via rede. De fato, custa dinheiro (COGS) para distribuir software, disse ele, referindo-se ao custo adicional de distribuição de software em comparação com a maneira como o Google distribui seu software suportado por anúncios na nuvem, como a Apple vincula seus software ao hardware e como a IBM acoplou seu software a taxas de consultoria.

Nos primórdios da Microsoft, Gates e Allen estavam atendendo a entusiastas, assim como os desenvolvedores de hoje que compram Raspberry Pi e computadores de placa única similares executados em sistemas operacionais gratuitos baseados em Linux.

Os entusiastas adoraram. Eles adoraram tanto que estavam dispostos a enviar fitas (fitas de papel) umas às outras de graça. Foi quando a famosa ‘Carta Aberta’ foi escrita, escreveu Sinofsky.

Bill Gates e as patentes

Em 1976, Gates escreveu uma carta desaforada para os entusiastas de computação, acusando-os de roubar o Altair BASIC e reclamando que os revendedores estavam ganhando dinheiro enquanto a Microsoft não estava.

O hardware deve ser pago, mas o software é algo para compartilhar. Quem se importa se as pessoas que trabalharam nele são pagas?, Gates escreveu.

O futuro filantropo bilionário, que sonhava com a lucratividade da Microsoft, reclamou que o tempo que ele e Allen haviam gasto para criar especificações do chip do BASIC chegava a US$ 40.000 – mas os royalties que a Microsoft havia recebido até agora eram inferiores a US$ 2 por hora.

Que hobbyista pode dedicar três anos à programação, encontrar todos os bugs, documentar seu produto e distribuí-lo gratuitamente? O fato é que ninguém além de nós investiu muito dinheiro em software para hobby. Escrevemos 6900 BASIC e estão escrevendo 8080 APL e 6800 APL, mas há muito pouco incentivo para disponibilizar esse software para entusiastas. Mais diretamente, o que você faz é roubo.

Linux tem sua força nos servidores

Sinofsky argumenta que onde o software livre e de código aberto (FOSS) atingiu a Microsoft com força foi o Linux no servidor.

Primeiro, o Linux fez um monte de coisas na internet do que o WinNT não fazia (e quase todas as contas ainda não o fazem). Custa menos para rodar e escalar melhor, escreve ele.

Até certo ponto, os clientes de negócios não se concentraram nos custos, mas preferiram ter o apoio de uma empresa para lidar com isso. Isso explica a ascensão dos servidores Windows corporativos a partir de 2000. Essencialmente, os clientes disseram que iam ‘instalar’ software em servidores ‘ eles preferiram pagar.

Depois disso, o Google passou a executar código-fonte aberto em seus próprios data centers, sem nunca redistribuir o FOSS.

Eles simplesmente pegaram o código aberto, modificaram e usaram, ele escreve.

Foi isso que alterou a dinâmica competitiva e impediu a Microsoft de responder. Os negócios da Microsoft foram baseados na distribuição de software. Todas as licenças de código aberto foram escritas para explicar isso. Se você usou o [software] e distribuiu, distribuiu * tudo *.

Hoje existe um modelo próspero de [empresas] usando código aberto da maneira do Google ou desenvolvendo um projeto que cria um negócio mantendo o relacionamento OSS. Mas, para entender uma mudança de opinião, deve-se fazê-lo no contexto que criou a visão inicial e permitido para a mudança.

Via ZDNet

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Jornalista com pós graduações em Economia, Jornalismo Digital e Radiodifusão. Nas horas não muito vagas, professor, fotógrafo, apaixonado por rádio e natureza.
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