Carl Pei, fundador da Nothing e uma das mentes por trás da ascensão da OnePlus, está apostando em uma ideia ousada: a de que, em um futuro não muito distante, os smartphones terão apenas um único aplicativo — o sistema operacional. Em entrevista à revista WIRED, o executivo afirmou que a inteligência artificial (IA) mudará completamente a maneira como interagimos com nossos dispositivos móveis, eliminando a necessidade de diversos aplicativos tradicionais.
A visão radical de Carl Pei para o futuro dos smartphones
Segundo Pei, o sistema operacional do futuro será capaz de compreender o contexto do usuário, suas preferências, comportamentos e necessidades em tempo real. A promessa é de uma experiência completamente proativa: em vez de desbloquear o celular, abrir um app e realizar uma ação manualmente, o próprio sistema sugerirá e executará a tarefa automaticamente.

Menos apps, mais inteligência: o novo conceito de interação
A proposta de Pei não se trata apenas de remover ícones da tela inicial. O conceito vai além da estética e busca reformular completamente a arquitetura de software dos dispositivos móveis. A ideia é que o SO se torne uma espécie de “concierge digital”, centralizando todas as funções e integrando recursos de IA para fornecer soluções antecipadas ao usuário, com base em aprendizado de máquina, localização, hábitos e até humor.
Por exemplo, ao acordar, o smartphone já pode ativar o alarme, mostrar o clima e sugerir o melhor trajeto para o trabalho com base nas condições do trânsito — tudo isso sem que o usuário precise tocar na tela.
O papel da Nothing no novo ecossistema móvel
A Nothing está trabalhando ativamente para tornar essa visão uma realidade. O Nothing Phone (3), previsto para o segundo semestre de 2025, será o primeiro dispositivo da marca a introduzir funcionalidades que apontam para essa nova era. Ele deverá trazer uma nova interface de usuário baseada em IA, com foco em automação, simplicidade e adaptação dinâmica às necessidades do usuário.
O sistema inteligente será capaz de apresentar cartões informativos em tempo real — como embarques, compromissos ou alertas — em vez dos tradicionais aplicativos fixos. Essa abordagem poderá revolucionar a forma como os usuários acessam informações e interagem com seus dispositivos.
IA centrada no consumidor, não na narrativa
Pei ressalta que o objetivo não é impressionar o mercado com discursos exagerados sobre a IA, mas sim utilizá-la para resolver problemas reais. “Queremos que o produto seja a história”, disse ele, afirmando que a IA deve funcionar nos bastidores para facilitar a vida do usuário.
Enquanto outras empresas concentram-se em promessas grandiosas, a Nothing quer seguir o caminho inverso: entregar soluções práticas e funcionais. “A IA deve estar lá para servir ao consumidor, de forma discreta, sem que ele precise entender como tudo funciona por trás”, completou Pei.
Barreiras e o papel das Big Techs
Apesar da visão promissora, Pei reconhece que essa transição não será rápida. Ele estima que uma mudança desse porte possa levar de 7 a 10 anos para se consolidar, principalmente devido à forte dependência que os consumidores ainda têm de aplicativos e à resistência das grandes empresas, como Apple e Google, que lucram com ecossistemas baseados em apps, assinaturas e taxas.
No entanto, o cenário pode começar a mudar com as recentes pressões regulatórias na Europa e nos Estados Unidos. Novas diretrizes estão exigindo maior flexibilidade e abertura nos sistemas de pagamento e distribuição de conteúdo, o que pode abrir espaço para abordagens mais inovadoras, como a que a Nothing propõe.
Um novo ciclo de inovação no horizonte
Embora muitos possam ver a proposta como ousada demais ou até utópica, é impossível ignorar o histórico de Carl Pei em identificar tendências e disruptar o mercado. Seu papel na criação da OnePlus e agora na liderança da Nothing o posicionam como uma voz influente e, frequentemente, visionária na indústria de tecnologia.
A analogia feita por ele com o iPod é emblemática: da mesma forma que o dispositivo da Apple transformou a forma como ouvimos música, a proposta da Nothing busca transformar a maneira como interagimos com nossos smartphones, tornando-os mais intuitivos, inteligentes e humanos.
Conclusão
A ideia de um único aplicativo que comanda tudo no smartphone pode parecer radical hoje, mas a tecnologia evolui justamente por meio de ideias disruptivas. À medida que a IA se torna mais sofisticada e os sistemas operacionais mais dinâmicos, não é impossível imaginar um mundo em que desbloquear o celular e procurar por aplicativos seja algo do passado. Carl Pei e a Nothing estão plantando a semente dessa mudança — e o futuro pode estar mais próximo do que pensamos.