A UISA, uma empresa brasileira de atuação na geração de bioenergia, produção de etanol e açúcar, passou por uma grande transformação digital. Essas mudanças se estendem, literalmente, por todos os campos de negócios, especialmente nos mais de 90 mil hectares de terra nos quais tem sua produção. A empresa está usando IA para registro de horas de trabalho no campo para 3 mil colaboradores. Este é o grande desafio usado como argumento para aprimorar o relacionamento com os seus colaboradores e garantir a assertividade no registro do ponto de trabalho em campo
Para realizar tal tarefa com a máxima precisão, a companhia criou um aplicativo baseado na nuvem da Microsoft e com Inteligência Artificial (IA) que reconhece o colaborador através do celular por meio de geolocalização e reconhecimento facial. O aplicativo já tem nome. O FacePoint foi desenvolvido pelo time de tecnologia da própria UISA em menos de três meses. A fase de testes contou com uma equipe reduzida de 50 pessoas. O índice de sucesso na identificação dos funcionários chegou a 97%.
Atualmente, a solução está à disposição de mais de 3 mil colaboradores do campo que registram os seus horários de entrada, almoço e saída a partir de fotos tiradas em cada um desses momentos, sem precisar se locomover até um determinado ponto para fazer o registro em relógios tradicionais.
IA registra horas de trabalho no campo para 3 mil colaboradores
De acordo com Rodrigo Gonçalves, gerente executivo de tecnologia da informação da UISA, além dos custos de aquisição e manutenção dos materiais, a decisão por trocar esses equipamentos tradicionais de relógio de ponto por uma versão digital também se deu por falta de conectividade nas áreas.
Tínhamos cerca de 200 equipamentos, com um custo total de R$ 2 milhões para a aquisição e, todos os anos, gastávamos cerca de R$ 200 mil em manutenção. Mesmo assim, em 2019, cerca de 700 colaboradores ainda faziam o registro manual e encaminhavam ao setor de Recursos Humanos, por conta de problemas de conectividade ou necessidade de troca dos relógios. Por isso, decidimos encontrar maneiras digitais que resolvessem ambas as nossas dificuldades, comenta.
Como funciona
A primeira ideia era criar um aplicativo de assinatura digital, no entanto, segundo o executivo, alguns dos trabalhadores são analfabetos, o que inviabilizaria o projeto. A solução foi desenvolver, então, uma ferramenta que funcionasse via celular. Assim, a UISA criou o Facepoint apoiado no armazenamento em nuvem e com o uso de IA da Microsoft, que reconhece o local exato e o colaborador que está registrando o ponto, tornando a experiência mais confortável para eles. Como os colaboradores devem tirar fotos no momento em que chegam ou saem do local de trabalho, a tecnologia também reconhece tentativas de fraudes, tais como fotos dos crachás ou quando o ponto é batido fora do campo de atuação de cada um.
Com o celular, os funcionários batem o ponto e recebem automaticamente um SMS com o comprovante com o seu horário e local. Em áreas nas quais a conectividade segue sendo um desafio, o aplicativo funciona off-line e, quando recebe sinal, prossegue com a comunicação via Azure, nuvem da Microsoft, além de enviar a confirmação de ponto via WhatsApp, para os colaboradores que também habilitaram a opção. Essas confirmações também seguem para o RH da empresa, já interligado no sistema de folha de pagamento, considerando as horas extras e diminuindo o esforço manual que tinham.
Segurança e economia
Apenas nos últimos quinze dias foram registrados e confirmados mais de 250 mil pontos pelo modelo digital, que, segundo Gonçalves, provê segurança para os colaboradores, confiabilidade, economia e otimização na manutenção.
Com os relógios de ponto demorávamos cerca de 30 dias para a troca de um equipamento, já com o novo modelo, conseguimos trocar os celulares em poucas horas, pois já temos um estoque disponível em nossas instalações para estes casos, diz.
Para que o aplicativo fosse utilizado por todos na companhia, a UISA adquiriu cerca de 300 celulares emprestados para aqueles que não possuíam equipamentos pessoais, o que permitiu a construção de um relacionamento de confiança e um sentimento de valorização entre os funcionários da empresa, que podem levar e utilizar os aparelhos em casa.
Antes tínhamos um custo de R$ 10 mil por equipamento, agora o preço unitário dos celulares é de cerca de R$ 800 e a nossa relação com os funcionários ficou muito mais próxima. Além disso, no total, economizamos anualmente cerca de R$ 1 milhão, cita.
Parceria
E, mesmo funcionando off-line, a UISA anunciou recentemente parceria com a VIVO que visa combinar conexão, IoT (internet das coisas), big data e sensores para monitoramento dos 90 mil hectares da empresa. Com três torres de internet 4G instaladas e mais quatro em andamento, a indústria de bioenergia e açúcar está inovando sua forma de gestão de dados via internet no campo.
Além dos aparelhos celulares, a empresa distribuiu cerca de 700 devices em campo. Eles estão acompanhados de Internet das Coisas. Servem para coleta dados e integram com o Power BI para analisar diversos fatores como planejamentos, entrada de matéria-prima e produtividade, o que facilita nos processos de tomada de decisão. Também passaram a usar o Sugar, assistente virtual que informa dados de produção como entrada de cana de açúcar, geração de energia elétrica, produção de açúcar, visão geral de moagem, plantio, além de fornecer atendimento de TI.
Atualmente, a empresa, que é uma das cinco maiores unidades de bioenergia do Brasil, afirma que deve liberar o código para que outras empresas do setor possam implementar o FacePoint para seus funcionários. Por fim, a UISA está desenvolvendo também novos projetos tecnológicos na área de segurança para identificação de demandas de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), reduzindo o tempo de troca de equipamentos de 15 dias para cerca de duas horas com o uso da nuvem da Microsoft integrada ao SAP.
O agronegócio é a locomotiva do Brasil e estamos utilizando a tecnologia para nos apoiar na implementação do que chamamos de agrícola 4.0, desenvolvendo soluções que auxiliem a nós e ao mercado como um todo a colocar alimento na mesa de todos os brasileiros, finaliza Gonçalves.
Portanto, a IA que registra horas de trabalho no campo já estreia com muito sucesso.