Entre as diversas mudanças que a pandemia de Covid-19 deve provocar, ou acelerar, uma que deveremos acompanhar bem de perto é a do perfil das lideranças corporativas. É uma transformação que já vinha em curso e que vai ganhar velocidade, acompanhando a mudança nos hábitos e no perfil dos consumidores.
Na verdade, uma será consequência da outra. Isso porque os consumidores estarão interessados não apenas em produtos e serviços, mas no propósito e nos valores das empresas das quais consomem. Neste novo mundo, os valores que guiam nossas decisões é que vão direcionar as empresas e seus resultados vão variar de acordo com as diferentes visões de mundo.
O que vai garantir o sucesso das empresas é o que elas terão no centro de sua cultura. E para isso será preciso que as lideranças estabeleçam os valores que vão conduzir a entrega de resultados. Isso vale para países, empresas ou projetos.
No caso das empresas, valores e cultura são construtos teóricos muito claros: eles orientam as decisões, definindo o que é certo e errado dentro de cada um de nós. Um bom exemplo de como isso se constrói dentro das empresas é a questão da diversidade. Há empresas que prezam e respeitam a diversidade e não se deixam afetar por isso. Como resultado, já há estudos comprovando que essa atitude aumenta a produtividade, o que reforça a posição da empresa em relação isso.
Mas a diversidade é apenas um exemplo. No nosso caso, acreditamos que tudo o que produzimos tem que estar disponível para que todos aproveitem o conhecimento e, em cima dele, construam algo ainda melhor. Acreditamos estar indo para um lugar em que a inovação não pode ser propriedade de alguém, mas parte da comunidade.
E não há compartilhamento de conhecimento sem trabalho colaborativo. No chamado novo normal, deveremos trabalhar dessa forma, com foco em realizar para todos. É basicamente o que temos visto na busca pela vacina para o Covid-19. Nunca se viu tal nível de colaboração como agora, na busca da cura.
Toda essa situação tem provocado uma quebra de paradigma que vai levar o crescimento da colaboração. Ela estará no centro das empresas e, com isso, será preciso descobrir novos modelos de negócio e de liderança. As empresas terão que trazer para a comunidade projetos nos quais acreditam e conseguir a colaboração das pessoas porque elas também acreditam.
É aqui que muda o conceito de liderança. Deixamos de lado o modelo hierárquico e o chefe, adotando o modelo colaborativo e o líder engajador. Na comunidade, sua voz fica mais forte na medida em que você contribui mais com ela. O novo líder vai conquistar espaço na comunidade, tendo seu valor diretamente relacionado à contribuição que ele dá.
Este novo perfil deve exercitar uma atitude engajadora, deixando claro que sua participação tem relação direta com seu propósito. Isso é que fará o colaborador querer trabalhar em um projeto: saber que ele vai na mesma direção que seu propósito. Também é isso que fará o nível de produtividade crescer tremendamente. O líder engajador será aquele que encontrar propósitos comuns entre o projeto da empresa e o projeto de vida do colaborador.
Esse é o líder do qual as empresas, mesmo que ainda não saibam, vão precisar. E vão precisar muito antes do que imaginam.
*Cristiana Maranhão é presidente da SUSE para a América Latina.
Free Software Foundation escolhe novo presidente após saída polêmica de Richard Stallman