
Apesar da entrada triunfante da Xiaomi no setor de veículos elétricos, o sedã SU7 tem gerado mais dor de cabeça do que aplausos. Um relatório recente da Rede de Qualidade Automotiva da China, vinculada ao governo, classificou o modelo como o pior em qualidade entre 29 sedãs elétricos chineses com baterias de grande capacidade, com base nas reclamações de usuários e riscos potenciais de falhas.
Críticas ao SU7 geram instabilidade para a Xiaomi Auto
A pontuação do SU7 foi de alarmantes 239 pontos de penalidade — muito acima da média do segmento. Em contraste, modelos como o GAC Hyptec GT (149), Voyah Passion (152) e Avatr 12 (153) demonstraram qualidade superior. Mesmo veículos em ascensão no mercado europeu, como o Nio ET7 e ET9, registraram desempenho melhor, assim como o Zeekr 001, Lotus Emeya, BYD Han e Denza Z9 GT.
Consumidores se mobilizam judicialmente
Um novo capítulo foi adicionado à crise quando mais de 400 donos do modelo SU7 Ultra anunciaram a intenção de mover uma ação coletiva contra a Xiaomi. Cada participante teria contribuído com cerca de 3.000 yuans (aproximadamente €374) para cobrir os custos legais. Embora os registros online das conversas entre os proprietários ainda careçam de verificação oficial, a repercussão reflete um aumento na insatisfação entre os consumidores.
No centro da controvérsia está o capô de fibra de carbono vendido como um opcional de alto desempenho, com o custo de 42.000 yuans (em torno de €5.250). A Xiaomi havia promovido esse item como dotado de “dutos de ar duplos funcionais”, voltados a melhorar o resfriamento do motor e a aerodinâmica. No entanto, vídeos e testes realizados pelos próprios proprietários indicam que os supostos dutos não oferecem funcionalidade real — em muitos casos, simulando aberturas inexistentes.
Pedido de desculpas não basta
A Xiaomi reconheceu falhas na comunicação do produto e, em 7 de maio, ofereceu um pedido público de desculpas. A fabricante também disponibilizou 20.000 pontos de fidelidade e a possibilidade de troca do capô por uma versão em alumínio. A medida, porém, não apaziguou os ânimos: muitos clientes recusaram a proposta, alegando que o tempo de espera pela peça de reposição pode superar 30 semanas. Para eles, a compensação não cobre a frustração com a promessa de desempenho não cumprida.
Desdobramentos legais e danos à imagem
O caso ganhou contornos ainda mais delicados quando Lei Jun, CEO da Xiaomi Auto, afirmou publicamente que as últimas semanas foram as mais difíceis desde a criação da divisão automotiva. Setores da indústria automobilística lembraram casos semelhantes, como o da Avatr, que precisou responder a questionamentos por meio de testes públicos independentes.
Especialistas em direito do consumidor sugerem que, caso uma análise técnica comprove que os dutos não funcionam como anunciado, a Xiaomi poderá ser penalizada por violar as rígidas normas de publicidade da China — um golpe potencialmente devastador à reputação da marca no setor automotivo.
Impacto além do SU7
Para muitos consumidores, a questão não se resume à compensação financeira. A credibilidade da Xiaomi enquanto montadora está em jogo. Um dos proprietários expressou indignação nas redes sociais: “Compramos algo que nos foi vendido como diferencial de performance. A empresa precisa provar que funciona ou assumir sua responsabilidade”.
Essa crise pode afetar diretamente o lançamento do próximo SUV da marca, o Xiaomi YU7, e servir de alerta para outras fabricantes. A forma como a Xiaomi resolverá essa disputa poderá influenciar futuras estratégias de marketing de veículos elétricos, especialmente no que diz respeito a componentes de desempenho.