Guerra declarada

A verdadeira face do conflito entre Matt Mullenweg e o WP Engine

Logotipo do WordPress em tons de preto e cinza, sobre um fundo escuro com várias sombras do mesmo símbolo

Nos bastidores da comunidade WordPress, a batalha entre Matt Mullenweg, o fundador do WordPress, e o WP Engine — uma das maiores empresas de hospedagem focadas na plataforma — tem se intensificado de maneira inesperada. Aqueles que pensam que essa é apenas mais uma disputa empresarial comum, se enganam. O que estamos testemunhando aqui é um embate sobre controle, legitimidade e a verdadeira natureza do ecossistema WordPress. Vamos dissecar os eventos e as alegações de Mullenweg para entender o que está realmente em jogo.

O início da disputa Automatic vs WP Engine: investimento e queda livre

A história começa a se desenrolar com uma entrevista de Mullenweg na conferência Nerdearla no México, onde o entrevistador Ariel Jolo o questiona sobre o WP Engine. Mullenweg, que no passado havia investido a modesta quantia de US$ 25.000 na empresa, fez um elogio inicial ao WP Engine, chamando-os de aliados do WordPress. A situação parecia favorável para todos. Porém, após o WP Engine ser comprado pela Silver Lake, uma poderosa firma de investimentos, a narrativa começou a mudar. Mullenweg não perdeu tempo em mostrar sua insatisfação. Ele afirma que, desde a aquisição, a empresa “ficou cada vez mais maliciosa”, mas não explica claramente o que significa “malícia” dentro desse contexto.

A acusação de Mullenweg parece girar em torno de um aspecto que, para ele, não pode ser tolerado: a maneira como o WP Engine começou a explorar e abusar da marca WordPress para seu próprio benefício. No fundo, a acusação central é clara: ele não está apenas em defesa do WordPress, mas também de sua própria visão de como as coisas devem ser conduzidas.

A acusação de “câncer” e as palavras polêmicas

A cereja do bolo foi a acusação de Mullenweg contra o WP Engine em um post no blog do WordPress. Em uma tentativa de defender a integridade da plataforma que fundou, Mullenweg comparou o WP Engine a um “câncer” para o WordPress. Ele foi claro e direto: “se não for controlado, o câncer se espalha”, escreveu. Para ele, a empresa estava estabelecendo um precedente perigoso e, se não fosse interrompida, poderia destruir o futuro do WordPress. A escolha da palavra, “câncer”, foi um golpe direto e, sem dúvida, uma tentativa de jogar o WP Engine no mesmo campo do vilão corporativo.

Mas a reação da comunidade foi instantânea e feroz. O uso de um termo tão pesado para descrever um concorrente não só gerou um debate sobre a ética de Mullenweg, mas também sobre sua visão sobre concorrência dentro de um ecossistema de código aberto. Afinal, se o WP Engine é um “câncer”, o que Mullenweg acha que são as empresas que, como o WP Engine, trabalham com WordPress? Aliados ou inimigos? O tom de “guerra santa” que ele adotou em suas declarações mais recentes revelou um lado de Mullenweg que muitos, antes de tudo, preferiam não conhecer.

WP Engine: “imitação barata” ou concorrente legítimo?

Mullenweg segue atacando o WP Engine com a alegação de que a empresa está oferecendo “uma imitação barata” do WordPress. Isso não é apenas uma crítica ao serviço, mas uma acusação de que o WP Engine está manipulando o mercado e enganando os consumidores. No entanto, quem já trabalhou com o WP Engine sabe que, embora sua infraestrutura de hospedagem tenha ajustes específicos, a experiência do usuário com o WordPress é legítima, sem grandes modificações no núcleo da plataforma. Portanto, a acusação de Mullenweg parece mais uma tentativa de desqualificar a concorrência de maneira impiedosa.

O ponto que Mullenweg levanta sobre a confusão da marca é, no mínimo, intrigante. Ele afirma que, ao abusar das marcas “WordPress” e “WooCommerce”, o WP Engine estaria fazendo os usuários acreditarem que estava vinculado diretamente à fundação do WordPress. E aqui surge a questão: é realmente algo tão grave assim? O mercado de hospedagem WordPress é um terreno competitivo, e é natural que empresas como o WP Engine tentem se aproximar da marca para alavancar seu próprio crescimento. Mas Mullenweg não vê com bons olhos esse tipo de estratégia. O que parece ser uma simples jogada de marketing para outros, para ele, é uma tentativa clara de usurpar a legitimidade do WordPress.

O impacto da disputa: processos e ações diretas

As tensões entre as duas partes se intensificaram ainda mais quando Mullenweg e a Automattic começaram a pressionar o WP Engine a pagar taxas de licenciamento para usar o termo “WordPress” em sua marca. Quando a empresa se recusou, Mullenweg partiu para a ofensiva. Ele configurou até um site para rastrear a quantidade de clientes que estavam deixando o WP Engine em favor de outros serviços de hospedagem do ecossistema WordPress, como Pressable e Bluehost. A movimentação soou mais como um aviso público para a empresa, do que uma preocupação genuína com os interesses dos consumidores.

A acusação de que o WP Engine estava prejudicando o WordPress não é nova. Mullenweg tem feito essa denúncia por anos, mas o tom da sua fala tem ficado cada vez mais agressivo. Ele vê a empresa não como uma simples concorrente, mas como uma ameaça que precisa ser afastada à força. E se isso significa difamar o nome de uma empresa de sucesso dentro do ecossistema, então que assim seja.

A questão das marcas registradas e a mudança de postura

Durante a entrevista, Mullenweg foi perguntado sobre o uso do termo “WP”, que a WP Engine utilizava para reforçar sua imagem de uma empresa associada diretamente ao WordPress. Ele explicou que, enquanto o “WP” não é uma marca registrada, seu uso indevido, para criar confusão nos consumidores, é o que realmente o incomoda. Ele parece estar mudando as regras do jogo conforme avança a disputa, alegando que, embora “WP” seja livre para uso, a forma como o WP Engine usou o termo ultrapassou os limites aceitáveis.

Porém, essa explicação soa como uma tentativa desesperada de reescrever as regras do jogo. Mullenweg está, em última análise, tentando controlar uma situação que parece ter saído do seu controle, questionando as práticas do WP Engine, mas também criando um precedente perigoso para qualquer empresa que deseje atuar dentro do ecossistema WordPress.

Conclusão: um feudo sem fim

No fundo, o que estamos vendo aqui não é uma disputa sobre melhores práticas ou sobre quem está mais comprometido com o código aberto. O que está em jogo é o controle e a legitimidade do próprio WordPress. Mullenweg, ao longo dos anos, se estabeleceu como o “guardião” da plataforma, mas sua postura agressiva, misturando acusações infundadas e um desejo claro de destruir a concorrência, levanta sérias questões sobre o futuro do WordPress.

Se o WP Engine estivesse realmente tentando destruir o WordPress, eles certamente estariam adotando estratégias bem mais discretas e menos evidentes. Mas a realidade é que estamos lidando com um gigante do mercado que, embora tenha cometido alguns erros, ainda é um dos principais motores do crescimento e da inovação dentro do ecossistema WordPress. Enquanto Mullenweg continua sua cruzada contra a empresa, muitos se perguntam até que ponto ele está disposto a levar essa disputa, e se ele não está apenas tentando salvar sua própria marca.

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