Uma unidade de processamento quântico (QPU, na sigla em inglês) é um dispositivo que utiliza os princípios da mecânica quântica para realizar operações computacionais. Uma QPU é diferente de uma unidade de processamento central (CPU, na sigla em inglês) ou de uma unidade de processamento gráfico (GPU, na sigla em inglês), que são baseadas na lógica clássica e usam bits para representar informações.
Uma QPU usa qubits, que são unidades básicas de informação quântica. Um qubit pode estar em um dos dois estados possíveis, 0 ou 1, como um bit clássico, mas também pode estar em uma superposição desses estados, ou seja, em uma combinação linear de 0 e 1. Além disso, dois ou mais qubits podem estar emaranhados, o que significa que suas propriedades estão correlacionadas de forma não local.
A vantagem de usar qubits é que eles permitem explorar fenômenos quânticos como a interferência e a entropia para realizar operações paralelas e reversíveis, que são mais eficientes e rápidas do que as operações clássicas. Por exemplo, uma QPU pode resolver problemas de otimização, criptografia, simulação e aprendizado de máquina que são intratáveis para uma CPU ou uma GPU.
No entanto, uma QPU também enfrenta desafios como a decoerência, que é a perda de informação quântica causada pela interação com o ambiente. Para evitar a decoerência, é preciso manter os qubits em condições físicas extremas, como baixas temperaturas e isolamento magnético. Além disso, é preciso desenvolver algoritmos e protocolos quânticos robustos e eficazes para codificar, manipular e medir os qubits.
Atualmente, existem vários modelos e arquiteturas de QPU, como os baseados em íons presos, átomos frios, circuitos supercondutores, pontos quânticos e fotônicos. Cada um desses modelos tem suas vantagens e limitações em termos de escalabilidade, fidelidade, coerência e complexidade. Ainda não há um consenso sobre qual modelo é o mais adequado para a computação quântica universal.
A computação quântica é uma área de pesquisa multidisciplinar e inovadora, que promete revolucionar a ciência e a tecnologia. Uma QPU é um componente essencial para o desenvolvimento dessa área, mas ainda há muitos desafios teóricos e práticos a serem superados. Por isso, é importante acompanhar os avanços e as aplicações dessa tecnologia emergente.
Como funciona a decoerência?
A decoerência é um fenômeno que ocorre quando um sistema quântico interage com o seu ambiente e perde a sua coerência, ou seja, a sua capacidade de exibir interferência e superposição de estados. A decoerência é considerada um dos principais obstáculos para a construção de computadores quânticos, pois impede que os qubits mantenham a sua informação por longos períodos de tempo.
Para entender como funciona a decoerência, é preciso primeiro entender o que é um estado quântico. Um estado quântico é uma descrição matemática da situação de uma partícula ou de um conjunto de partículas, que pode incluir propriedades como posição, momento, energia, spin, polarização, etc. Um estado quântico pode ser representado por uma função de onda, que é uma equação que associa cada ponto do espaço a uma probabilidade de encontrar a partícula nesse ponto. A função de onda também pode ser escrita como uma combinação linear de outros estados quânticos mais simples, chamados de estados-base. Por exemplo, um elétron pode estar em um estado quântico que é uma combinação linear de dois estados-base: um com spin para cima e outro com spin para baixo.
Um dos aspectos mais intrigantes da mecânica quântica é que um estado quântico pode estar em uma superposição de dois ou mais estados-base, o que significa que ele não tem um valor definido para uma determinada propriedade, mas sim uma probabilidade de ter cada um dos valores possíveis. Por exemplo, um elétron em uma superposição de spin para cima e para baixo não tem um spin definido, mas sim uma chance de 50% de ter spin para cima e outra chance de 50% de ter spin para baixo. Essa superposição só é revelada quando se faz uma medida sobre o sistema quântico, que faz com que ele colapse para um dos estados-base possíveis, com uma probabilidade dada pela função de onda. Esse processo é chamado de redução do pacote de onda.
Um dos fenômenos mais surpreendentes da mecânica quântica é a interferência, que ocorre quando dois ou mais estados quânticos se sobrepõem e produzem um padrão de interferência na função de onda resultante. A interferência é a evidência mais clara da natureza ondulatória das partículas quânticas e da existência da superposição. Um exemplo clássico de interferência é o experimento da dupla fenda, no qual se faz um feixe de elétrons passar por duas fendas estreitas e se observa o padrão formado na tela atrás das fendas. Se os elétrons fossem partículas clássicas, eles formariam dois pontos luminosos na tela, correspondentes às duas fendas. Mas se os elétrons forem tratados como ondas quânticas, eles formam um padrão de franjas claras e escuras na tela, correspondentes aos pontos onde as ondas se reforçam ou se cancelam.
A interferência só é possível quando os estados quânticos são coerentes entre si, ou seja, quando eles mantêm uma relação fixa de fase ao longo do tempo. A fase é um parâmetro que indica o ponto do ciclo em que uma onda se encontra em um dado instante. Duas ondas estão em fase quando elas têm o mesmo valor de fase e estão fora de fase quando elas têm valores diferentes. A coerência é essencial para a computação quântica, pois permite que os qubits sejam manipulados por operações lógicas que exploram a superposição e a interferência.
No entanto, a coerência é muito frágil e pode ser facilmente perdida quando o sistema quântico interage com o seu ambiente. O ambiente é composto por inúmeros graus de liberdade que podem afetar o sistema quântico de forma aleatória e imprevisível. Por exemplo, campos elétricos ou magnéticos externos podem alterar o spin ou a energia dos elétrons. Essa interação faz com que o sistema quântico troque informação e energia com o ambiente e se torne entrelaçado com ele. O entrelaçamento é outro fenômeno quântico que ocorre quando dois ou mais sistemas quânticos se influenciam de tal forma que eles passam a ter propriedades correlacionadas, mesmo que estejam separados no espaço. O entrelaçamento é uma forma de coerência, mas é uma coerência global, que envolve todo o sistema mais o ambiente, e não uma coerência local, que envolve apenas o sistema de interesse.
Quando o sistema quântico se entrelaça com o ambiente, ele perde a sua coerência local e, consequentemente, a sua capacidade de interferir consigo mesmo ou com outros sistemas quânticos. Esse processo é chamado de decoerência e é irreversível, pois a informação que o sistema quântico perdeu para o ambiente não pode ser recuperada. A decoerência faz com que o sistema quântico se comporte como um sistema clássico, que tem propriedades bem definidas e não exibe superposição nem interferência. A decoerência é responsável pela transição do mundo quântico para o mundo clássico e pela aparente ausência de efeitos quânticos na escala macroscópica.
A decoerência é um dos maiores desafios para a realização da computação quântica, pois ela limita o tempo em que os qubits podem manter a sua informação antes de serem corrompidos pelo ambiente. Esse tempo é chamado de tempo de coerência e depende do tipo de qubit e do grau de isolamento do sistema quântico. Quanto maior o tempo de coerência, maior a complexidade dos algoritmos quânticos que podem ser executados. Por isso, os pesquisadores buscam formas de aumentar o tempo de coerência dos qubits e de corrigir os erros causados pela decoerência, usando técnicas como refrigeração, blindagem, codificação e correção de erros quânticos.