Apple perde impulso em IA por decisões internas e excesso de cautela

Imagem do autor do SempreUpdate Jardeson Márcio
Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson é Jornalista, Mestre em Tecnologia Agroalimentar e Licenciado em Ciências Agrária pela Universidade Federal da Paraíba. Entusiasta no mundo tecnológico, gosta de arquitetura e design...

Em setembro de 2024, a Apple apresentou a linha iPhone 16 sob o lema de que os aparelhos eram “feitos para a Apple Intelligence”. Na prática, porém, o lançamento ficou aquém das expectativas: a assistente Siri reformulada — considerada peça-chave da novidade — sequer estava disponível.

Como decisões internas e foco em privacidade atrasaram a IA da Apple

O atraso não foi acidental. De acordo com funcionários da própria Apple, o tropeço tem raízes em dois fatores principais: a resistência de seus líderes seniores à inteligência artificial e a postura inflexível da empresa quanto à privacidade dos usuários.

Imagem com a logomarca do Apple Intelligence

Ceticismo interno paralisou avanços

Enquanto empresas como Google, Meta e Amazon investiam agressivamente em IA há mais de uma década, executivos da Apple mantinham-se cautelosos. Mesmo com o histórico interesse de Steve Jobs pela Siri, Craig Federighi, atual vice-presidente sênior de engenharia de software, teria demonstrado pouco entusiasmo pela tecnologia. Outros líderes da companhia também partilhavam dessa visão conservadora, o que impediu investimentos relevantes em um momento crucial.

Foi somente após o sucesso do ChatGPT que a Apple começou a reconsiderar sua postura. Federighi, ao experimentar o modelo da OpenAI para tarefas pessoais, reconheceu o potencial da tecnologia. Mas o tempo perdido já havia deixado a Apple muito atrás na corrida.

Privacidade como entrave para treinar modelos

A Apple é conhecida pelo seu compromisso com a privacidade, e essa reputação se manteve mesmo na era da IA. Ao contrário de outras empresas que utilizam dados públicos e interações dos usuários para treinar seus modelos, a Apple optou por uma abordagem restritiva. Seu rastreador online respeita pedidos de exclusão de sites e não coleta dados de usuários do iPhone ou do macOS.

Essa escolha dificultou o avanço dos modelos internos. Enquanto a OpenAI contava com bilhões de interações para treinar seus LLMs (Modelos de Linguagem de Grande Escala), a Apple avançava com mais lentidão, dependendo da análise humana de respostas geradas por sua IA. O resultado foi um conjunto de recursos limitados e um atraso no lançamento da tão aguardada nova Siri, agora batizada de “LLM Siri”.

Reformulação na liderança de IA

John Giannandrea, que entrou na Apple vindo do Google para liderar os esforços em inteligência artificial, teve sua posição enfraquecida. Tim Cook, CEO da empresa, que hoje defende o avanço da IA dentro da Apple, perdeu a confiança na capacidade de Giannandrea de entregar resultados.

Craig Federighi passou a comandar diretamente a pesquisa e desenvolvimento em IA. A mudança de liderança é um sinal claro de que a Apple está tentando reorganizar suas prioridades internas após reconhecer os erros estratégicos do passado.

Parcerias e planos para o futuro

Com a intenção de acelerar o desenvolvimento, a Apple agora busca alianças estratégicas. A empresa está negociando com o Google para incorporar o modelo Gemini ao iPhone, uma iniciativa semelhante à da Samsung com a linha Galaxy S25.

Esse movimento evidencia uma guinada na estratégia da Apple: o foco agora está em entregar resultados rápidos e concretos, mesmo que isso signifique contar com tecnologias externas.

Internamente, a Apple já determinou que futuras inovações só serão anunciadas quando estiverem perto de serem lançadas — o oposto do que ocorreu com a Apple Intelligence. A expectativa é que a WWDC deste ano, tradicional evento da empresa para apresentar novidades a desenvolvedores, seja mais contida, refletindo esse novo posicionamento.

Conclusão

O atraso da Apple no campo da inteligência artificial foi resultado de decisões estratégicas conservadoras e de um compromisso ético com a privacidade de seus usuários. Apesar disso, a gigante de Cupertino está determinada a recuperar o tempo perdido, seja com projetos internos ou alianças com concorrentes. O futuro da Siri e da IA na Apple ainda está em construção — mas, desta vez, com olhos bem abertos para o que vem pela frente.

Compartilhe este artigo