No coração do Brejo Paraibano, na cidade de Solânea, uma revolução silenciosa e tecnológica está em pleno vapor. Longe dos grandes centros urbanos, a EMEF José Menino de Oliveira e a EMEFM Celso Cirne estão se destacando ao introduzir tecnologia de ponta no aprendizado de seus alunos, utilizando ferramentas como Arduino e Raspberry Pi para criar projetos inovadores. Essa iniciativa, impulsionada por professores engajados e com o apoio de bolsistas do CNPq, já levou estudantes a conquistar medalhas em eventos importantes, evidenciando o potencial transformador da educação em tecnologia e robótica. Para esta matéria conversamos com o professor Alan Oliveira, que informou ao SU sobre os detalhes do uso da robótica dentro da escola.
Segundo o professor Alan, o projeto nasceu de uma visão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus III, através da iniciativa do professor Lauro Xavier. O objetivo era capacitar graduandos e, principalmente, professores da região para que pudessem levar o conhecimento em robótica educacional diretamente para suas salas de aula. A necessidade era clara: muitos colégios já possuíam kits de robótica, mas eles permaneciam inutilizados por falta de formação adequada dos educadores.
Desafios superados e a metodologia que inspira
Introduzir tecnologia de ponta em escolas do interior, como a EMEF José Menino de Oliveira e a EMEFM Celso Cirne no Brejo Paraibano, não é tarefa fácil. Os desafios iniciais incluíram a escassez de material, principalmente kits de robótica mais atualizados, a falta de uma internet de qualidade e a ausência de salas destinadas para essas atividades. No entanto, a visão do projeto foi amplamente abraçada por discentes, pais e pela gestão escolar, que viram o projeto com bons olhos e o ajudaram a melhorar a cada ano. No início, escolas estaduais já dispunham de alguns kits, enquanto alunos de municípios vizinhos utilizavam os equipamentos da UFPB.
A metodologia de ensino é focada na experiência prática. As aulas de robótica são concebidas para serem um preparativo contínuo para os grandes eventos e competições, pois as aulas já são voltadas para estes eventos. Isso significa que os estudantes estão constantemente envolvidos em projetos “mão na massa”, transformando a teoria em aprendizado real e interativo.
O projeto atende alunos do ensino fundamental ao ensino médio, com uma faixa etária média entre 11 e 17 anos. A complexidade dos projetos é cuidadosamente adaptada ao nível de conhecimento e ao ano de estudo de cada aluno. Hoje, há um professor de cada escola que participa ativamente do projeto e há a possibilidade de incluir todas num processo interdisciplinar.
Projetos que fazem a diferença
Um dos projetos que mais se destacou em 2023 foi um joguinho interativo que ensinava sobre a coleta seletiva. Através dele, os discentes aprendiam sobre a coleta de uma forma interativa e divertida. Esses projetos demonstram como o Arduino e o Raspberry Pi são ferramentas poderosas para tornar conceitos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) mais práticos e tangíveis, indo além do abstrato da teoria. É essencial hoje em dia para preparar os alunos para os desafios do mundo contemporâneo, trabalhando o pensamento crítico, resolução de problemas, colaboração, comunicação digital, criatividade e inovação.
O caminho das medalhas: dedicação e apoio comunitário

A paixão pela robótica levou os alunos da EMEFM Celso Cirne a palcos nacionais. Em 2022, um grupo de estudantes e professores embarcou para São Paulo para a Mostra Nacional de Robótica (MNR), o maior evento do gênero na América Latina. Lá, eles apresentaram seus projetos de Robótica Educacional. A jornada se repetiu em 2023, com duas escolas da mesma região, a EMEFM Celso Cirne e EMEF José Menino de Oliveira com o evento em Salvador, Bahia, e em 2024, em Goiânia, Goiás. O próximo grande destino em 2025 é Vitória, no Espírito Santo, a “cidade da inovação”.
As conquistas são notáveis: a escola já participou da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), e ano passado (2024), dois discentes ganharam medalhas. Além disso, em 2023, um dos projetos apresentados nas Mostras Nacionais de Robótica foi contemplado com uma bolsa para melhoria do projeto.
A sensação de competir e, principalmente, de conquistar medalhas, é um poderoso motor de motivação. O professor relata que essas competições “aguçam a vontade de estudar e se empenhar cada vez mais nos projetos”.
Um dos momentos mais emocionantes e inusitados, que demonstra a força da comunidade de Solânea e do Brejo Paraibano, ocorreu em 2022 e 2023. Conseguiram levar muitos alunos e professores através da venda de rifas e apoio do comércio local. “Foi muito bonito de ver muita gente de mãos dadas em prol de uma educação de qualidade”, afirma o professor. A sociedade vem abraçando o projeto como um todo, e o poder público municipal de Solânea também contribuiu desde sempre e o espaço chegou para fortalecer o apoio em 2024.
Transformando vidas e o futuro do Brejo Paraibano
A experiência com tecnologia vai muito além dos muros da escola. Ao criar projetos com Arduino e Raspberry Pi, os alunos aprendem a resolver problemas do cotidiano por conta própria, como automatizar tarefas domésticas ou construir ferramentas úteis. Desenvolvem confiança para aprender e experimentar novas tecnologias sozinhos, fora do ambiente escolar.
O impacto na vida dos estudantes é profundo. Com o projeto de aulas de robótica na EMEF José Menino de Oliveira e na EMEFM Celso Cirne, os discentes começaram a ter acesso a um mundo que antes estava muito distante para eles e hoje está presente em seu cotidiano. Hoje, eles percebem que há muitas possibilidades a serem exploradas. O professor observa que “Vemos muitos discentes empolgados e estimulados para produzir e aprender cada vez mais”. Essa transformação é a verdadeira medalha de ouro do projeto.
O futuro do projeto é ambicioso: o plano maior é poder estendê-lo para um número maior de discentes e que possam ter mais formações para professores, assim, o trabalho interdisciplinar pode se fortalecer cada vez mais.
Para outras escolas do interior que hesitam em iniciar um projeto similar, a mensagem é clara e inspiradora: “A tecnologia não é mais o futuro, mas o presente e os discentes amam quando ela está presente nas aulas”. É fundamental buscar formações e projetos que disponibilizam bolsas para discentes e professores, pois isso serve de incentivo para engajar cada vez mais neste mundo da robótica educacional. A história da EMEF José Menino de Oliveira e da EMEFM Celso Cirne em Solânea, no Brejo Paraibano, é a prova de que, com paixão, colaboração e visão, a inovação pode florescer em qualquer lugar.