Mesa anuncia: GPUs NVIDIA Kepler agora são totalmente compatíveis com Vulkan 1.2, turbinando gráficos em hardware mais antigo no Linux

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Suporte moderno para GPUs antigas: Mesa ativa Vulkan 1.2 nas placas NVIDIA Kepler com driver NVK no Linux

A Mesa 3D Graphics Library acaba de marcar um ponto histórico para quem ainda confia na robustez das placas NVIDIA da geração Kepler. Em 16 de julho de 2025, a desenvolvedora Faith Ekstrand (Collabora) comitou a alteração que remove a última barreira de verificação e declara o driver NVK (Nouveau Vulkan) oficialmente Vulkan 1.2 conformant para toda a linha Kepler — validação chancelada pelos envios #932 e #934 do Khronos Group.(cgit.freedesktop.org, The Khronos Group)

Para milhões de usuários que ainda rodam GeForce GT/GTX 600, 700, 800 M e as Quadro K‑series, isso significa acesso nativo a recursos gráficos modernos, desempenho melhor em jogos e aplicações 3D e, acima de tudo, vida útil estendida para um hardware lançado em 2012.

A seguir, destrinchamos por que esse passo é tão relevante para o ecossistema Linux, o que muda na prática e como o trabalho colaborativo no código aberto continua redefinindo o suporte a GPUs da NVIDIA.

O que significa ser ‘Vulkan 1.2 conformant’ para as GPUs NVIDIA Kepler?

Estar em conformidade com o Vulkan 1.2 implica passar por milhares de testes do Conformance Test Suite (CTS) que avaliam precisão matemática, integridade de memória, comportamento de sincronização, compilação de shaders e dezenas de extensões obrigatórias. Uma GPU só recebe o selo após “zerar” todos esses cenários, garantindo que qualquer aplicação 3D que siga a especificação rode sem glitches ou workarounds. Para o usuário final, isso se traduz em estabilidade, performance previsível e suporte imediato a engines modernas como Godot 4, Unity e Unreal Engine 5.

Vulkan: a API gráfica de ponta para jogos e aplicações 3D no Linux

Vulkan surgiu como sucessora de baixo nível do OpenGL, cortando abstrações antigas e devolvendo o controle fino de pipeline, memória e threads ao desenvolvedor. Desde a versão 1.2, o padrão incorpora recursos essenciais como timeline semaphores, buffer device address e descriptor indexing, fundamentais para efeitos avançados de pós‑processamento, ray‑tracing por software e multi‑GPU. Com a chegada de Kepler, o Linux amplia a base instalada de placas capazes de aproveitar essas técnicas sem recorrer ao driver proprietário — um divisor de águas para distros focadas em gaming.

A certificação do Khronos Group: garantindo a padronização e a interoperabilidade

O selo CTS não é simbólico: somente produtos listados como conformant podem ostentar a marca “Vulkan”. O processo exige que o proponente (neste caso, a Software Freedom Conservancy, que mantém a infraestrutura de testes para a Mesa) rode o conjunto de provas em hardware real, grave logs e submeta tudo ao Khronos Group para auditoria. A aceitação das submissões #932 e #934 confirma que o driver NVK entrega resultados idênticos aos de implementações proprietárias, viabilizando a portabilidade de jogos sem gambiarras.

O impacto do suporte Vulkan 1.2 para a arquitetura NVIDIA Kepler

Até ontem, donos de GPUs Kepler enfrentavam três dilemas:

  1. Driver proprietário legacizado — A NVIDIA encerrou novas features para Kepler, focando apenas correções críticas.
  2. Desempenho limitado no Nouveau OpenGL — Sem re‑clock adequado nem acesso às extensões modernas.
  3. Incompatibilidade com jogos Vulkan‑only — Títulos recentes compilados para Vulkan 1.1+ simplesmente não iniciavam.

Com o NVK Vulkan 1.2, esses gargalos se dissipam. Jogos que dependem exclusivamente de Vulkan (ex.: The Talos Principle 2, Baldur’s Gate 3 via DXVK) passam a rodar — ainda dentro das limitações de potência de uma GPU 2012, mas funcionalmente completos. Ferramentas de visualização 3D, CAD e emulação também se beneficiam das otimizações de pipeline.

GPUs Kepler: revitalizando hardware de 2012 com tecnologia moderna

A linha de placas abrangida é extensa. Todas ganham o carimbo oficial e passam a se identificar como compatíveis durante a inicialização do driver:

  • GeForce GT 630, GeForce GT 635, GeForce GT 640, GeForce GT 640M, GeForce GT 645M, GeForce GT 650M
  • GeForce GTX 645, GeForce GTX 650, GeForce GTX 650 Ti, GeForce GTX 660, GeForce GTX 660M, GeForce GTX 660 Ti
  • GeForce GTX 670, GeForce GTX 670MX, GeForce GTX 675MX, GeForce GTX 680, GeForce GTX 680M, GeForce GTX 680MX, GeForce GTX 690
  • GeForce GT 740, GeForce GT 740M, GeForce GT 750M, GeForce GTX 760, GeForce GTX 760 Ti, GeForce GTX 765M, GeForce GTX 770, GeForce GTX 780, GeForce GTX 780M, GeForce GTX 780 Ti
  • GeForce GTX 860M, GeForce GTX 870M, GeForce GTX 880M, GeForce GTX TITAN, GeForce GTX TITAN Black, GeForce GTX TITAN Z
  • GeForce GT 710, GeForce GT 710M, GeForce GT 720, GeForce GT 720M, GeForce GT 730, GeForce GT 730M, GeForce GT 735M, GeForce GT 825M, GeForce GT 910M, GeForce GT 920M
  • Quadro 410, Quadro K420, Quadro K600, Quadro K1100M, Quadro K2000, Quadro K2000D, Quadro K2100M, Quadro K3100M, Quadro K4000, Quadro K4100M, Quadro K4200, Quadro K5000, Quadro K5100M, Quadro K5200, Quadro K6000

A magnitude da lista ressalta o compromisso da comunidade em manter vivo um portfólio vasto que, em muitos casos, ainda oferece potência suficiente para e‑sports, retro‑gaming ou workloads de visualização científica. Você pode consultar mais informações sobre todos os modelos neste link e neste outro link.

Benefícios práticos para gamers e usuários de aplicações 3D no Linux

  1. Melhor frame pacing: o driver NVK já implementa asynchronous presentation e pipeline cache, reduzindo stutter em engines como Source 2 e id Tech 7.
  2. Menos CPU overhead: por ser de baixo nível, o Vulkan corta chamadas de kernel extra presentes no caminho OpenGL. Em títulos como Dota 2 vê‑se subida de 10–20 fps em processadores mais modestos.
  3. Compatibilidade com camadas de tradução Direct3D→Vulkan (DXVK/vkd3d‑proton): jogos Windows via Proton que exigem DX12 passam a inicializar, desde que a GPU suporte os recursos mínimos de shader.
  4. Ferramentas profissionais: softwares como Blender e Godot Editor já contam com back‑ends Vulkan — a edição de cenas complexas torna‑se mais fluida.

Mesa e NVK (Nouveau Vulkan): o papel do open source na ampliação do suporte a GPUs

A Mesa centraliza implementações para dezenas de arquiteturas, e o NVK nasceu como reescrita limpa usando a infraestrutura do Nouveau no kernel. Ao contrário do driver proprietário, todo o stack é compilável em distribuições rolling release, recebe correções de segurança rapidamente e facilita back‑port de otimizações.

NVK: o driver que traz o poder do Vulkan para as GPUs NVIDIA

Desde a inclusão experimental no Mesa 23.3, o NVK evoluiu em ciclos curtos, habilitando:

  • Dynamic rendering para dispensar render‑passes complexos.
  • Depth/stencil resolve por subpass, acelerando pós‑processamento.
  • Sparse residency parcial (essencial para texture streaming).
  • Shader L1 caching reativado com re‑clock estável em Kepler, recurso antes inacessível no Nouveau OpenGL.

O commit de 16 de julho removeu a condição que exigia classe 3D MAXWELL_A+ para marcar conformidade, estendendo‑a às variantes NVE4 e NVE6 presentes em Kepler.(cgit.freedesktop.org)

A Collabora: impulsionando o desenvolvimento de drivers gráficos open source

A Collabora tem financiado desenvolvedores que já estiveram nas equipes de Intel, Red Hat e Valve. Com Faith Ekstrand à frente, o foco é entregar paridade de features, não apenas “fazer compilar”. O financiamento cobre:

  • Infraestrutura de testes com AMD Ryzen 9 9950X, Linux 6.15.0 (Fedora 42) e GPUs Kepler de referência.
  • Manutenção de branches de integração contínua para evitar regressões antes do feature freeze do Mesa 25.2.
  • Comunicação direta com o Khronos Group para acelerar o ciclo CTS.

Conclusão: NVIDIA Kepler e Vulkan 1.2 — longe de serem peças de museu

A oficialização do Vulkan 1.2 em GPUs Kepler reforça a relevância do modelo open source para prolongar a vida útil de hardware e democratizar tecnologias de ponta. Seja para reviver um desktop antigo, montar um servidor de streaming de jogos na LAN ou apenas experimentar engines modernas sem gastar em placas novas, usuários Linux agora contam com um caminho suportado, auditado e em constante evolução. O próximo passo? Testar, reportar e, claro, jogar!

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