Atingir **5,03 % de market share em desktops nos Estados Unidos é mais do que um número redondo para o Linux: é a confirmação estatística de mudanças culturais, técnicas e comerciais que vinham se acumulando silenciosamente—e, agora, explodem em visibilidade. Por décadas, o sistema operacional open‑source enfrentou a clássica “barreira do 1 %” nos PCs pessoais; superar cinco vezes esse patamar em junho de 2025, conforme o StatCounter Global Stats, inaugura um novo capítulo para a plataforma e para a “família Linux” como um todo.
Diversos motores empurram essa curva ascendente: a insatisfação do usuário com o ecossistema Microsoft, o carisma do Steam Deck da Valve—apresentando o gaming no Linux para milhões—, a evolução de distros como Ubuntu e Linux Mint, os avanços do Wine e de projetos de compatibilidade, além de um renovado desejo de privacidade e controle num mundo dominado por telemetria invasiva.
Cinco anos de crescimento: Estados Unidos em foco
Ano | Participação aproximada do Linux no desktop dos EUA* |
---|---|
2020 | ~2,0 % |
2021 | ~2,4 % |
2022 | ~2,8 % |
2023 | ~3,1 % |
2024 | ~4,4 % |
2025 | 5,03 % |
*Valores aproximados a partir da série histórica do StatCounter; pequenas oscilações mensais não alteram a tendência de alta.
A leitura desses números deixa claro que o Linux não ganhou apenas “ares de novidade”: ele vem se acelerando – a taxa composta anual de crescimento (CAGR) fica em torno de 21 % para o período.
Trajetória do Linux no Brasil: sinais de aceleração

O relatório da mesma fonte para o Brasil aponta 3,33 % de desktops Linux em junho de 2025, partindo de cerca de 2,1 % em 2020 — confira o painel completo nesta página. Mesmo saindo de uma base menor que a norte‑americana, isso representa um crescimento relativo de 58 % em cinco anos.
Fatores específicos do cenário brasileiro
- Reaproveitamento de hardware antigo: o alto custo de PCs novos torna o suporte a hardware legado uma vantagem crítica das distros Linux‑based.
- Regulamentação de dados: discussões sobre a LGPD aquecem a busca por sistemas com telemetria opt‑in e controle total de dados pessoais.
- Adoção em órgãos públicos: iniciativas como o Portal do Software Público mantêm viva a cultura open source em instituições governamentais.
O significado simbólico e prático da barreira dos 5 %
Romper o limite dos 5 % nos EUA tem efeitos em cascata: mais desenvolvedores passam a oferecer binários nativos, fabricantes certificam drivers e lojas adicionam etiquetas “Linux Ready”. A percepção de nicho se dilui e abre‑se um ciclo virtuoso de adoção.
A insatisfação com o ecossistema Microsoft: um catalisador
A aproximação do End‑of‑Life (EOL) do Windows 10 em outubro de 2025 obriga usuários a escolher entre atualizar hardware para atender aos requisitos de TPM 2.0 e Secure Boot do Windows 11 ou buscar alternativas. Somam‑se atualizações forçadas, adware embutido e coleta de dados por IA, e o resultado é um vácuo de confiança que o Linux preenche oferecendo instalação limpa, liberdade de interface e privacidade como padrão.
O fenômeno Steam Deck e a explosão do gaming no Linux
Com mais de cinco milhões de unidades vendidas, o Steam Deck (veja detalhes no site da Valve) é o maior “porta de entrada” recente para o gaming no Linux. Ele roda SteamOS 3 (baseado em Arch) e a camada Proton, que hoje garante desempenho “clique‑e‑jogue” para cerca de 75 % do Top‑100 da Steam, segundo a comunidade ProtonDB. O “Modo Desktop” embutido familiariza usuários com KDE Plasma ou GNOME, transformando curiosidade em adoção real.
Evolução do Linux: usabilidade, compatibilidade e ethos open source
Ferramentas como Flatpak, Snap e AppImage simplificam a instalação de apps populares (Zoom, Discord, Spotify). Distros como Ubuntu 24.04 LTS e Linux Mint 22 “Wilma” centralizam drivers, firmware LVFS e snapshots em guias amigáveis, enquanto o Wine 9.0 introduz compatibilidade WoW64 completa.
Market share “invisível” e a força da “família Linux”
Softwares de análise web não contam sessões que bloqueiam rastreadores; parte dos usuários Linux aparece como “Unknown” nas estatísticas. Além disso, quando somamos Chrome OS (2,71 % nos EUA) aos 5,03 % do Linux, a “família Linux” supera 7,7 % dos desktops americanos—já flertando com dois dígitos.
Conclusão: rumo a dois dígitos?
Nos Estados Unidos, o Linux quadruplicou sua fatia em cinco anos; no Brasil, cresceu quase 60 %. A convergência de jogos, privacidade e custos mais baixos sugere que o sistema deixou de ser alternativa de nicho para se tornar opção principal – tanto para gamers quanto para usuários corporativos e governamentais. Se o ritmo se mantiver, romper a barreira dos 10 % globalmente já não parece questão de “se”, mas de “quando”.