Imagine comprar um novo dispositivo Android — uma TV Box, um tablet ou até um projetor —, retirá-lo da embalagem e descobrir que ele já vem com um malware instalado de fábrica. Não é preciso clicar em nada, nem baixar um app suspeito: o sistema já está comprometido antes mesmo de você ligá-lo. Esse é o cenário alarmante por trás do malware Android conhecido como BadBox 2.0.
Na última semana, o Google entrou com um processo contra os operadores dessa botnet massiva, que infectou milhões de aparelhos com o objetivo de lucrar com fraudes digitais e atividades ilícitas. Neste artigo, vamos explicar o que é o BadBox, como ele opera, quais dispositivos estão em risco e, o mais importante, como você pode se proteger ao comprar eletrônicos de baixo custo.
Além de trazer detalhes da ação judicial, este conteúdo serve como alerta e guia de segurança, especialmente para usuários que adquirem dispositivos de marcas desconhecidas ou comprados em lojas não certificadas. Entenda por que essa ameaça representa um risco crescente em um mundo cada vez mais conectado.

O que é o caso BadBox 2.0?
O BadBox 2.0 é uma botnet descoberta em 2023, mas que voltou com força total em 2024 e 2025, agora atingindo mais de 10 milhões de dispositivos Android no mundo inteiro. Segundo o Google, os criminosos responsáveis pela botnet vendiam aparelhos com malware pré-instalado na firmware, o que significa que o usuário não tinha como detectar ou remover o vírus com facilidade.
A ação judicial foi movida com base em uma investigação conjunta realizada entre o Google, a HUMAN Security e a Trend Micro, empresas especializadas em segurança digital. A colaboração resultou na identificação de milhares de modelos comprometidos, muitos deles vendidos em marketplaces populares por preços muito abaixo do mercado.
Dispositivos de baixo custo na mira dos cibercriminosos
Boa parte dos dispositivos infectados utilizam o Android Open Source Project (AOSP), uma versão gratuita e sem certificação oficial do Android. Isso significa que esses aparelhos não contam com recursos críticos de proteção, como o Google Play Protect, nem recebem atualizações de segurança frequentes.
TVs Box, tablets infantis, projetores e até celulares baratos são os principais alvos. Muitos desses dispositivos vêm de marcas pouco conhecidas ou genéricas, e são fabricados por empresas que não seguem as diretrizes do Google para certificação e segurança.
Como a botnet funcionava: fraude e aluguel de IP
O malware Android presente nos dispositivos infectados realizava duas atividades principais:
- Fraude de anúncios (ad fraud): O aparelho infectado simulava cliques em anúncios, gerando receita falsa para operadores maliciosos e causando prejuízo a anunciantes legítimos.
- Venda de IPs como proxies residenciais: Os dispositivos comprometidos eram transformados em servidores proxy, permitindo que outros criminosos usassem o IP da vítima para esconder sua localização ou cometer crimes na internet, como fraudes bancárias, spam ou ataques a redes corporativas.
Como saber se seu dispositivo Android foi infectado
Embora o malware esteja escondido na camada mais profunda do sistema, alguns sinais de comportamento anormal podem indicar que o aparelho foi comprometido:
- Lentidão excessiva e travamentos constantes.
- Consumo de dados incomum, mesmo sem uso intenso de internet.
- Aparecimento de aplicativos que você não instalou.
- Anúncios pop-up inesperados, mesmo fora de navegadores.
- Bateria descarregando mais rápido que o normal.
- Configurações de segurança que se desativam sozinhas.
Se você notar mais de um desses sintomas, especialmente em dispositivos novos de marcas desconhecidas, é possível que esteja diante de uma infecção pelo BadBox ou outro malware Android semelhante.
Passos para se proteger e o que fazer agora
Dicas essenciais ao comprar eletrônicos
- Dê preferência a marcas reconhecidas, como Samsung, Motorola, Amazon ou Google.
- Evite preços baixos demais, especialmente se o aparelho parecer “bom demais para ser verdade”.
- Compre de lojas confiáveis, preferencialmente com nota fiscal e garantia.
- Pesquise o modelo antes de comprar, procurando relatos de segurança ou certificação Google.
Se você já tem um dispositivo suspeito
- Desconecte o aparelho da internet imediatamente. Isso interrompe a comunicação com a botnet.
- Tente realizar uma restauração de fábrica, embora isso nem sempre remova o malware, pois ele pode estar na ROM.
- Evite instalar apps de fora da Google Play Store.
- Se tiver conhecimento técnico, monitore o tráfego de rede do aparelho para identificar comunicações suspeitas.
Infelizmente, em muitos casos, a única solução segura é substituir o dispositivo por um modelo certificado.
O impacto da ação do Google e o futuro da segurança em IoT
A ofensiva judicial do Google representa um marco importante na luta contra ameaças como o BadBox. A empresa também atualizou o Google Play Protect, que agora bloqueia ativamente apps relacionados à botnet. O alerta se soma a advertências emitidas por agências como o FBI, que já vinham monitorando o uso de proxies residenciais em atividades criminosas.
O futuro da segurança em dispositivos conectados — especialmente os que compõem o ecossistema de Internet das Coisas (IoT) — depende cada vez mais de colaboração entre empresas de tecnologia, governos e consumidores informados.
A lição mais importante é clara: economizar na compra de dispositivos pode custar caro à sua privacidade e segurança digital. Invista em marcas confiáveis e fique atento aos sinais de infecção.
Você já teve uma experiência ruim com uma TV Box genérica ou um tablet de marca desconhecida? Compartilhe sua história nos comentários e ajude a alertar outros usuários!