Ransomware DarkBit decifrado: recupere seus arquivos de graça

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Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Uma vitória da cibersegurança: entenda como a falha na criptografia do malware ligado ao Irã permitiu a recuperação de dados.

Nos últimos tempos, o ransomware DarkBit tem se destacado como uma ameaça preocupante para organizações que utilizam servidores críticos, principalmente devido à sua capacidade de comprometer sistemas e exigir resgates altos para liberação dos dados. Porém, uma excelente notícia chegou para as vítimas desse malware: pesquisadores da empresa de cibersegurança Profero conseguiram quebrar a criptografia do DarkBit, permitindo que os arquivos afetados sejam recuperados sem a necessidade de pagar resgate.

Neste artigo, vamos explicar como essa descoberta foi feita, detalhando o método técnico que possibilitou a descriptografia dos arquivos, além de contextualizar quem são os agentes por trás do ransomware e qual o impacto dessa vitória para a comunidade de segurança digital. Para profissionais de TI, entusiastas de tecnologia e todos que acompanham o mundo da cibersegurança, esta é uma importante notícia que mostra como, mesmo ameaças complexas, podem apresentar falhas que podem ser exploradas para ajudar as vítimas.

Essa conquista da Profero representa uma significativa vitória contra grupos ligados a estados nacionais, no caso o grupo iraniano MuddyWater, mostrando que a segurança cibernética pode evoluir e se fortalecer diante dos desafios atuais.

Ransomware Darkbit
Imagem: Bleeping Computer

O que é o ransomware DarkBit e quem está por trás?

O ransomware DarkBit é um tipo de malware focado em atacar principalmente servidores que utilizam a plataforma VMware ESXi — uma solução bastante usada em ambientes corporativos para virtualização. Ao infectar esses servidores, o DarkBit criptografa dados importantes, bloqueando o acesso dos administradores até que o resgate seja pago.

Diferentemente de alguns ransomwares tradicionais, o DarkBit tem uma característica peculiar: seu objetivo principal não é simplesmente o lucro financeiro. Os operadores por trás desse malware parecem estar mais interessados em causar interrupção nos negócios e danos à reputação das vítimas, usando mensagens políticas e hacktivistas nas notas de resgate para enviar sinais contra certos alvos.

A conexão com o grupo MuddyWater

O grupo MuddyWater é uma APT (sigla para Advanced Persistent Threat) originária do Irã, conhecida por sua atuação em operações de espionagem cibernética e ataques direcionados. A ligação do ransomware DarkBit com esse grupo foi apontada pela Diretoria Cibernética Nacional de Israel, que identificou semelhanças técnicas e comportamentais que confirmam essa relação.

Além das ações puramente maliciosas, o DarkBit também carrega uma carga hacktivista, exibindo mensagens e símbolos anti-Israel em suas notas de resgate, reforçando que os ataques têm motivações políticas além do impacto econômico.

O alvo: servidores VMware ESXi

Para entender o impacto do ransomware DarkBit, é essencial compreender a importância dos servidores VMware ESXi. Esses servidores são amplamente usados por empresas para hospedar várias máquinas virtuais em um único hardware físico, otimizando recursos e garantindo flexibilidade.

Quando esses servidores são comprometidos por um ransomware, o dano é muito maior do que um simples arquivo criptografado, pois todo o ambiente virtual pode ficar indisponível, paralisando operações inteiras de negócios. Por isso, ataques a servidores ESXi representam uma ameaça crítica e que exige atenção máxima em segurança.

A grande virada: como a Profero quebrou a criptografia do ransomware DarkBit

A quebra da criptografia do DarkBit foi resultado de um trabalho técnico minucioso da equipe da Profero. O processo envolveu várias etapas de análise para identificar uma vulnerabilidade fatal na forma como o ransomware gerava as chaves usadas para a criptografia dos arquivos.

A fraqueza fatal na geração de chaves

O ransomware DarkBit usa o algoritmo AES-128-CBC para criptografar os dados, uma técnica padrão e considerada segura. Contudo, o problema estava no modo como as chaves de criptografia eram geradas.

Os pesquisadores descobriram que o método utilizado para criar essas chaves era fraco e previsível, o que significa que não havia verdadeira aleatoriedade na geração das chaves. Essa falha permitia, em tese, prever ou reproduzir as chaves usadas para criptografar os arquivos — algo fatal para um ransomware, pois compromete toda a segurança do processo.

Do ataque de força bruta à solução inteligente

Inicialmente, a Profero aplicou um ataque de força bruta para tentar encontrar as chaves e recuperar os dados. Essa técnica envolve tentar sistematicamente todas as combinações possíveis até encontrar a correta. Embora tenha funcionado, esse método era muito lento: levava cerca de um dia para recuperar um único arquivo.

Mas os pesquisadores foram além e descobriram uma característica importante dos arquivos afetados: os arquivos VMDK, que armazenam as máquinas virtuais, são esparsos, ou seja, grande parte de seu conteúdo é vazio ou não contém dados relevantes.

Sabendo disso, eles perceberam que o DarkBit criptografava apenas partes específicas desses arquivos, não o conteúdo inteiro. Com essa informação, a equipe da Profero conseguiu desenvolver um método muito mais eficiente para “esculpir” ou extrair os dados originais não criptografados, recuperando a maioria dos arquivos intactos sem a necessidade de quebrar todas as chaves.

Essa abordagem representou uma solução técnica engenhosa que reduz drasticamente o tempo e o esforço necessários para a recuperação, facilitando a vida das vítimas.

O impacto da descoberta e o que significa para as vítimas do ransomware DarkBit

A recuperação gratuita dos dados

A principal consequência dessa descoberta é que as vítimas do ransomware DarkBit podem agora recuperar seus arquivos sem a necessidade de pagar o resgate exigido pelos criminosos.

A Profero já desenvolveu uma ferramenta que automatiza o processo de recuperação usando o método encontrado, embora essa ferramenta ainda não tenha sido liberada ao público no momento da notícia. Assim, as vítimas contam com uma alternativa segura e gratuita para restaurar seus dados.

Uma lição para os desenvolvedores de ransomware

Além do alívio para as vítimas, esse caso serve como um importante aviso para os autores de ransomware. Mesmo com o uso de algoritmos robustos como o AES-128-CBC, uma implementação incorreta, como a geração previsível de chaves, pode comprometer todo o esquema.

Esse episódio reforça a importância da análise e revisão constante de técnicas maliciosas por equipes de cibersegurança, que ajudam a identificar e explorar falhas para minimizar os danos causados pelo crime digital.

Conclusão: uma vitória na guerra contra o cibercrime

A quebra da criptografia do ransomware DarkBit pela equipe da Profero é uma notícia positiva para o setor de segurança digital e para as inúmeras organizações afetadas por esse malware ligado ao grupo iraniano MuddyWater.

A inteligência técnica aplicada, aliada ao entendimento profundo do funcionamento do ransomware e de seus alvos, permitiu transformar uma situação crítica em uma oportunidade para recuperação e aprendizado.

Contudo, essa vitória não elimina a necessidade de manter práticas robustas de segurança, como a realização de backups atualizados e armazenados offline, que são a melhor defesa contra qualquer ataque de ransomware, já que nem todos os malwares podem ser quebrados dessa forma.

Fique atento, mantenha seus sistemas protegidos e acompanhe sempre as novidades em cibersegurança para garantir a segurança dos seus dados.

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