A Apple anunciou a expansão do seu programa de Reparo por Autoatendimento (Self Service Repair) para o Canadá, ampliando o alcance de uma iniciativa que já cobre dezenas de países. Isso significa que consumidores canadenses agora podem comprar peças originais, alugar ferramentas e acessar manuais oficiais para consertar seus próprios iPhones, iPads e Macs.
Esse movimento é mais um marco no debate sobre o direito ao reparo Apple, uma pauta global que busca garantir maior autonomia ao consumidor, reduzir o desperdício eletrônico e desafiar o modelo fechado que grandes empresas de tecnologia vêm impondo há décadas.
Neste artigo, vamos explicar o que é esse programa de reparo, analisar a virada histórica de postura da Apple sobre o tema, entender o impacto da expansão para o Canadá e discutir a situação brasileira nesse cenário.

O que é o programa de reparo por autoatendimento da Apple?
O Self Service Repair foi lançado pela Apple em 2021 e tem como proposta permitir que qualquer usuário possa comprar peças genuínas, alugar ou adquirir ferramentas profissionais e acessar manuais técnicos oficiais para consertar seus próprios dispositivos.
Atualmente, o programa cobre modelos selecionados de iPhone, MacBook e iMac, incluindo trocas de bateria, tela, câmeras e até componentes mais avançados em notebooks.
Entre os benefícios, destacam-se:
- Maior autonomia do consumidor, que pode consertar o aparelho sem depender de uma assistência autorizada.
- Possibilidade de reduzir custos em comparação ao reparo feito diretamente nas lojas Apple.
- Incentivo à sustentabilidade, prolongando a vida útil dos dispositivos.
Mas existem também limitações e riscos:
- O processo pode ser tecnicamente complexo, exigindo habilidades avançadas.
- Uma instalação incorreta pode causar danos irreversíveis.
- Dependendo do reparo, há risco de perda de garantia.
Assim, embora seja um avanço, o programa ainda é voltado principalmente para usuários avançados e técnicos independentes, mais do que para o consumidor comum.
A surpreendente virada da Apple na guerra do reparo
Por muitos anos, a Apple foi considerada uma das empresas mais resistentes ao movimento de direito ao reparo. A companhia fez lobby contra legislações que obrigassem fabricantes a liberar peças e manuais, restringiu reparos fora de suas autorizadas e até implementou mecanismos de software para dificultar a substituição de componentes por terceiros.
O cofundador da empresa, Steve Wozniak, chegou a criticar publicamente essa postura, afirmando que a Apple deveria ser mais aberta a reparos independentes. Paralelamente, ativistas e órgãos de defesa do consumidor pressionavam a empresa, principalmente nos Estados Unidos e na União Europeia.
A virada começou em 2021, quando a Apple anunciou o lançamento do Self Service Repair. Desde então, a companhia não apenas expandiu o programa como passou a apoiar algumas legislações específicas de direito ao reparo, um movimento visto como estratégico para se alinhar às crescentes exigências regulatórias e, ao mesmo tempo, melhorar sua imagem pública.
Expansão para o Canadá: um sinal para o resto do mundo
Com a chegada ao Canadá, o programa de reparo autoatendimento Apple já está disponível em 35 países. Esse crescimento mostra que a empresa está disposta a tornar a iniciativa global, ainda que gradualmente.
A expansão pode ser vista de duas formas:
- Comprometimento real da Apple com a pauta da sustentabilidade e autonomia do consumidor.
- Estratégia defensiva, antecipando-se a leis mais rígidas que já estão sendo aprovadas em várias regiões, como a União Europeia e alguns estados norte-americanos.
Seja qual for a motivação, o resultado é o mesmo: mais consumidores terão acesso a reparos independentes, e a pressão sobre outras empresas do setor tende a aumentar.
E o Brasil? Qual a situação do direito ao reparo por aqui?
No Brasil, o tema ainda está em estágio inicial. Embora não exista uma legislação específica de direito ao reparo, já há projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que abordam o tema, inspirados em modelos internacionais.
Hoje, os consumidores brasileiros enfrentam obstáculos como:
- Custo elevado de reparos em assistências autorizadas.
- Falta de peças oficiais para técnicos independentes.
- Pouca pressão social organizada sobre o tema, se comparado a Estados Unidos e Europa.
A chegada do programa de reparo autoatendimento Apple ao país ainda não foi confirmada, mas a expansão para novos mercados pode servir como um sinal de que isso poderá acontecer no futuro. Se vier, traria não apenas benefícios práticos para usuários da marca, mas também um precedente importante para estimular o debate legislativo nacional.
Conclusão: um passo na direção certa, mas a jornada continua
A expansão do reparo autoatendimento Apple para o Canadá é mais um capítulo da longa batalha pelo direito ao reparo. A empresa, que antes era considerada uma das maiores opositoras dessa pauta, agora se coloca em uma posição mais aberta – ainda que parcialmente.
Para consumidores e defensores da sustentabilidade, trata-se de uma vitória simbólica e prática. Ainda assim, o caminho está longe de terminar: a maioria das pessoas continua dependente de assistências autorizadas, e a autonomia plena do consumidor ainda enfrenta barreiras.
No Brasil, o debate está apenas começando, mas a pressão internacional e a atuação de empresas como a Apple podem acelerar mudanças.
E você, teria coragem de abrir seu iPhone para fazer um reparo? Acredita que o Brasil deveria ter uma lei de Direito ao Reparo? Deixe sua opinião nos comentários!