No início de agosto de 2025, um anúncio surpreendeu a comunidade de cibersegurança: uma suposta recompensa da Europol de R$ 274.000 por informações sobre o grupo de ransomware Qilin. O que parecia ser uma oportunidade valiosa para jornalistas, pesquisadores e profissionais de segurança rapidamente se revelou um boato, levantando alertas sobre os riscos da desinformação no ciberespaço. A falsa recompensa Europol expôs como ações maliciosas podem manipular a percepção pública e confundir até mesmo especialistas.
Este artigo detalha o ocorrido, explica quem é o grupo Qilin, analisa a confissão que revelou a ação como uma “trollagem” e discute os impactos da propagação de informações falsas no campo da cibersegurança. Compreender esses eventos é crucial não apenas para profissionais de TI, mas também para entusiastas de tecnologia e usuários conscientes que buscam se proteger de enganos sofisticados.
A desinformação no setor de segurança digital não é apenas uma questão de curiosidade ou brincadeira: ela pode comprometer investigações, atrasar respostas a ameaças reais e minar a confiança em instituições oficiais. Assim, entender o contexto e os mecanismos por trás de boatos como este é essencial para qualquer pessoa envolvida ou interessada em cibersegurança.

Imagem: BleepingComputer
O que aconteceu: a falsa recompensa da Europol
O episódio começou com a criação de um canal falso no Telegram, identificado como @europolcti, que divulgou a oferta de R$ 274.000 em recompensa por informações sobre os administradores do ransomware Qilin, conhecidos como Haise e XORacle. A postagem indicava que a Europol estava buscando denúncias sobre atividades criminosas do grupo, o que rapidamente chamou a atenção da mídia e de pesquisadores de segurança em todo o mundo.
No entanto, a Europol precisou intervir para desmentir oficialmente a informação. Em comunicado ao BleepingComputer, a agência confirmou que não havia lançado qualquer programa de recompensa relacionado ao Qilin, esclarecendo que o canal do Telegram era fraudulento. A confusão ilustra como canais não oficiais podem ser usados para enganar até profissionais experientes, reforçando a importância de verificar fontes antes de compartilhar informações sensíveis.
Quem é o grupo de ransomware Qilin?
O Qilin é um grupo de ransomware que surgiu inicialmente como Agenda em 2022 e rapidamente ganhou notoriedade por recrutar afiliados em fóruns de cibercrime, incluindo o popular RAMP. O grupo é conhecido por atacar organizações de diversos setores, criptografando dados e exigindo pagamentos de resgate, tornando-se uma das operações de ransomware mais ativas globalmente.
Além das técnicas de extorsão tradicionais, o Qilin se destaca pela sofisticação em suas campanhas, explorando vulnerabilidades em sistemas corporativos e mantendo comunicação com afiliados por canais privados, o que dificulta a detecção e mitigação dos ataques.
A confissão: uma ‘trollagem’ para enganar a mídia
Após a repercussão da falsa recompensa, o canal falso publicou uma nova mensagem assumindo que tudo não passava de uma trollagem. O autor, que se identificou como Rey, conhecido por outros incidentes na comunidade hacker, zombou da mídia e de pesquisadores de segurança que haviam dado atenção ao anúncio inicial.
Essa confissão deixou claro que o objetivo não era apenas confundir, mas testar a capacidade de reação da mídia e explorar a vulnerabilidade das redes de informação. A ação reforça como o ciberespaço pode ser manipulado por atores mal-intencionados para criar narrativas enganosas.
Muito além de uma piada: o impacto da desinformação em cibersegurança
O episódio da falsa recompensa Europol evidencia que a desinformação no campo da cibersegurança pode ter efeitos sérios. Além de gerar confusão, ela consome tempo valioso de analistas, jornalistas e pesquisadores que buscam validar informações. Boatos bem construídos podem minar a confiança em canais oficiais, atrasar respostas a ameaças reais e, em casos extremos, provocar decisões erradas por parte de empresas e governos.
Para os criminosos, além do lucro financeiro, criar trote de cibersegurança serve para manipular narrativas, aumentar notoriedade e testar a capacidade de reação do público e de especialistas. Essa forma de ataque psicológico é uma extensão da estratégia de ransomware, mostrando que a guerra digital não se limita a invasões técnicas, mas também inclui manipulação de informações.
Um histórico de manipulação
Não é a primeira vez que a desinformação é usada para enganar a comunidade de cibersegurança. Em 2021, o administrador do RAMP, conhecido como Orange, criou um boato envolvendo o ransomware Groove, confundindo pesquisadores sobre uma suposta operação de captura. Em 2023, outra ação de manipulação envolveu a falsa prisão de adolescentes canadenses ligados a ataques digitais, evidenciando que atores maliciosos frequentemente usam truques e boatos para testar e explorar a atenção da mídia.
Esses exemplos reforçam que qualquer informação sensível deve ser verificada antes de ser divulgada, especialmente quando proveniente de canais não oficiais.Exchange Rates
Conclusão: lições para jornalistas e entusiastas de tecnologia
O caso da falsa recompensa Europol pelo ransomware Qilin mostra como boatos bem elaborados podem enganar até mesmo profissionais de segurança experientes. A lição é clara: a verificação de fatos é essencial em qualquer cobertura jornalística ou análise técnica.Exchange Rates
Leitores, jornalistas e entusiastas de tecnologia devem sempre questionar fontes não oficiais, como canais do Telegram, e aguardar confirmações de agências reconhecidas como a Europol antes de compartilhar informações sensíveis. Em um cenário digital cada vez mais complexo, a cautela e o pensamento crítico são ferramentas indispensáveis para proteger dados, reputação e credibilidade no mundo da cibersegurança.