OpenSUSE planeja desabilitar o BCacheFS — e o criador do sistema de arquivos pede para adiar

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

openSUSE anuncia fim do suporte para BCacheFS no kernel 6.17!

Usuários do BCacheFS no openSUSE Tumbleweed podem ter uma surpresa desagradável em breve: a equipe do kernel da distribuição decidiu desabilitar o BCacheFS a partir do Kernel 6.17. O motivo oficial é pragmático e segue uma política de manutenção conhecida: desde que Linus Torvalds marcou o BCacheFS como “externally maintained” (mantido externamente) no arquivo MAINTAINERS, a distro não pretende carregar o fardo de backports e correções para um código que não está mais sendo integrado ao kernel principal. Em outras palavras, se o upstream não integra, o openSUSE não mantém — simples assim. Segundo o anúncio, quem ficar em 6.16 não será afetado; o ramo Slowroll também segue intacto “por enquanto”.

Essa virada acontece num contexto já turbulento: depois de meses de atritos, o BCacheFS deixou de receber mudanças no kernel principal, permanecendo apenas “em árvore” para não quebrar instalações existentes — mas sem novas features e com o sinal claro de que a porta está fechada no curto prazo. Para o openSUSE, a consequência prática é uma só: reduzir risco operacional. Para o usuário final, porém, o impacto pode ser bem concreto — atualizar para o 6.17 e, de repente, não conseguir mais montar aquele volume BCacheFS.

o criador do BCacheFS pede um adiamento

Do outro lado, Kent Overstreet — o desenvolvedor por trás do BCacheFS — publicou um apelo público: “podem segurar por um ciclo?” A proposta: dar tempo para o projeto oferecer o BCacheFS como módulo fora da árvore via DKMS, evitando “tirar o tapete” de quem já está em produção. Overstreet afirma que a base em 6.16 está “muito sólida” e que as correções recentes são majoritariamente de performance e de casos de teste, não de falhas críticas que afetem usuários no dia a dia — ou seja, um período de carência não colocaria ninguém em risco. O plano de DKMS não nasceu agora: ele já vinha sendo discutido publicamente desde junho, como uma rota viável para atravessar a tempestade até retomar o curso upstream.

Há, contudo, um detalhe importante na “logística de kernel” do openSUSE: embora DKMS exista e funcione, ele não é o mecanismo preferencial da distribuição para garantir módulos após cada atualização de kernel. O caminho “nativo” costuma ser empacotar módulos como KMP (Kernel Module Packages), que se integram à infraestrutura do openSUSE/OBS e lidam melhor com atualizações frequentes do kernel — algo essencial num rolling release como o Tumbleweed. Em tese, nada impede que a comunidade ofereça um KMP para o BCacheFS enquanto o módulo fora da árvore amadurece. Na prática, isso exige alguém para construir, assinar, testar e manter o pacote em sincronia com cada kernel novo.

o que está realmente em jogo para o usuário

É aqui que a conversa sai do “processo de manutenção” e encosta na sua máquina. Se você roda openSUSE e usa BCacheFS, a atualização para o Kernel 6.17 pode significar perder o driver no kernel da distro — e ninguém quer descobrir isso numa manhã de trabalho, com o prompt reclamando que o volume não sobe. A recomendação pragmática é pensar como um administrador cuidadoso faria:

— Precisa mesmo do 6.17 agora? Então planeje um caminho com DKMS ou KMP antes de atualizar.
— Pode segurar em 6.16 por mais um ciclo? Isso reduz o risco enquanto a nova forma de distribuição do BCacheFS se consolida.

A tensão aqui não é só técnica: ela expõe dois instintos legítimos que, às vezes, se chocam. De um lado, o instinto de uma distribuição em proteger a estabilidade do conjunto — se o upstream parou, a distro não quer virar mantenedora “acidental”. De outro, o instinto de um desenvolvedor em proteger os usuários que já confiaram no seu sistema de arquivos — pedindo tempo para entregar uma alternativa que não quebre fluxos de trabalho. Quem está certo? Em um ecossistema do tamanho do Linux, a resposta costuma ser: depende do seu ponto de vista. O que dá para afirmar é que decisões assim moldam a adoção: tornar o BCacheFS dependente de módulos fora da árvore (seja DKMS, seja KMP) eleva a barreira de uso no openSUSE, especialmente para quem não tem familiaridade com empacotamento, Secure Boot e re/builds automáticos de módulo — e isso pode “frear” o entusiasmo de parte da comunidade.

No curto prazo, o recado é claro: o “openSUSE BCacheFS” deixa de ser plug-and-play no Kernel 6.17. No médio, o desfecho dependerá de duas frentes andarem: a do upstream (para que o código volte a ser integrado normalmente) e a do empacotamento (para que a experiência do usuário não azede no caminho). Até lá, vale aquela máxima de sysadmin: sem plano de rollback, não há update.

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