Uma nova versão do Kamuriki Linux 4 acaba de ser lançada, mas não espere encontrar um botão de download. Em pleno 2025, quando distribuições disputam atenção em repositórios GitHub, torrents e imagens ISO disponíveis em poucos cliques, este projeto japonês segue na contramão: ele só pode ser adquirido em DVD físico, vendido exclusivamente em eventos de cultura doujin no Japão — por 3.000 ienes mais impostos. É um modelo que mais parece saído dos anos 2000, mas que se mantém vivo como uma declaração de identidade cultural.
Uma distro que você compra em DVD
O Kamuriki Linux 4 é distribuído em um DVD-ROM DL de 12 cm, acompanhado de 30 dias de suporte de instalação e até mesmo um formulário físico de registro de usuário. A compra remete a uma época em que sistemas operacionais eram lançados em caixas nas prateleiras, mas, no contexto atual, ganha outro significado: conecta-se à lógica do mercado doujin, onde obras independentes — sejam mangás, jogos ou software — são comercializadas cara a cara em eventos, criando um vínculo direto entre criador e público.
Essa escolha levanta perguntas interessantes: em um ecossistema acostumado a downloads imediatos, o que significa pagar por um disco físico? Para alguns, pode soar antiquado; para outros, é um gesto nostálgico que transforma a distro em um artefato colecionável.
Leveza e modernidade: a surpreendente combinação de LXQt e KWin
Se a forma de distribuição é nostálgica, a parte técnica busca o equilíbrio entre tradição e modernidade. O Kamuriki Linux 4 aposta em uma combinação incomum: o ambiente leve LXQt (mais associado a sistemas minimalistas) rodando sobre o gerenciador de janelas KWin, famoso no ecossistema KDE Plasma pelos efeitos visuais e pelo suporte a recursos avançados.
Essa mistura cria uma experiência curiosa: um desktop rápido e econômico em consumo de recursos, mas que ainda assim oferece transparências, animações e um “ar de modernidade” que normalmente só se encontra em ambientes mais pesados. Para máquinas modestas — basta ter 512 MB de RAM e um processador AMD64 ou Intel64 — isso significa desempenho sem abrir mão da estética.
Ferramentas pensadas para todos os perfis
Outro diferencial é a atenção ao público diverso. Para quem prefere instalar programas com cliques, o sistema inclui o Discover, a central de software do KDE. Já os adeptos do terminal podem recorrer ao Nako, um utilitário próprio que promete comandos mais curtos e diretos para gerenciar pacotes.
Essa dualidade reflete um cuidado em abraçar tanto o usuário iniciante quanto o entusiasta veterano. E, ao contrário de muitos projetos puramente comunitários, aqui há um suporte oficial — limitado a 30 dias, mas ainda assim raro em distribuições menores.
Limitações e curiosidades práticas
Como todo projeto de nicho, há limitações claras. O Kamuriki Linux 4 não suporta atualização direta a partir da versão 3; os usuários precisam realizar uma instalação limpa. Isso pode afastar quem procura longevidade e continuidade, mas é compreensível dentro de um modelo mais artesanal de desenvolvimento.
O disco traz também um detalhe curioso: o código-fonte vem incluído dentro do próprio sistema, no diretório /usr/share/kamurikilinux/nrrk-400.src.tar.gz
. É uma forma de cumprir a filosofia do software livre, mas de maneira “local”, quase como se o código fosse parte do produto físico comprado.
Uma peça cultural, mais do que apenas software
No fim, o Kamuriki Linux 4 não é apenas mais uma distro em meio às centenas disponíveis. Ele é um exemplo de como o Linux pode ser também uma expressão cultural, refletindo as particularidades de uma cena independente japonesa que gosta de nadar contra a corrente.
Enquanto Ubuntu, Fedora e Arch competem em ciclos de atualização globais e downloads instantâneos, o Kamuriki prefere o caminho lento e presencial, onde cada cópia vendida em um evento doujin carrega um pouco da identidade de seus criadores. É software, mas também é memorabilia — um objeto que diz tanto sobre tecnologia quanto sobre cultura.