Em uma mudança estratégica que simplifica drasticamente o cenário de drivers gráficos no Linux, a AMD anunciou que está descontinuando seu projeto de driver Vulkan de código aberto, o AMDVLK, para concentrar todo o seu suporte e recursos no RADV, o driver desenvolvido pela comunidade dentro do projeto Mesa.
A notícia foi publicada no repositório oficial do AMDVLK no GitHub, onde a empresa descreveu a decisão como uma forma de “unificar sua estratégia de drivers Vulkan” e “fortalecer o compromisso com a comunidade open-source”.

Uma vitória para o modelo de desenvolvimento do Mesa
Para quem acompanha o mundo do open-source, essa mudança soa quase como uma vitória simbólica. O RADV, criado originalmente por desenvolvedores independentes e hoje parte integrante do projeto Mesa, já vinha sendo o favorito da comunidade por sua performance e rapidez em implementar novos recursos do Vulkan.
Ao longo dos anos, o RADV conquistou espaço até mesmo em benchmarks contra o próprio AMDVLK, mostrando-se mais ágil em jogos no Linux. Agora, com a AMD oficialmente reconhecendo o RADV como “o” driver Vulkan de código aberto para Radeon, o modelo de desenvolvimento comunitário ganha força e legitimidade.
Em outras palavras, a AMD está sinalizando: em vez de manter dois projetos em paralelo, vai direcionar esforços para apoiar aquele que já provou seu valor — e que, curiosamente, nasceu fora da própria empresa.
O que isso significa para os usuários e desenvolvedores?
Para o usuário comum, especialmente o jogador de PC no Linux, a grande vantagem é a eliminação da confusão. Até ontem, a pergunta “qual Vulkan driver usar, AMDVLK ou RADV?” era frequente em fóruns e comunidades. Agora a resposta é clara: use o RADV.
Isso também significa que o AMD RADV driver deve ficar ainda mais robusto. Afinal, ao “focar recursos em uma única base de código de alta performance”, como a própria AMD disse em sua nota, é natural esperar que parte da engenharia interna da empresa passe a contribuir mais diretamente com o Mesa.
Para desenvolvedores, a consolidação simplifica o ecossistema. Há menos fragmentação, menos duplicação de esforços e um único alvo para otimizações, correções e novas funcionalidades Vulkan.
E o driver proprietário PRO, o AMDPAL e o ROCm?
Uma das dúvidas mais levantadas pela comunidade após o anúncio foi: “E o que acontece com o driver PRO proprietário da AMD?” — aquele voltado para ambientes profissionais e que também implementa Vulkan. A resposta: ele continua existindo como uma oferta separada.
Já o código do AMDPAL, que servia de base para o AMDVLK, seguirá sendo usado no Windows e em outros projetos da AMD, como o ROCm e o HIP. Em outras palavras, o fim do AMDVLK não significa que a AMD esteja abandonando todo esse trabalho, apenas que esse código deixa de ser mantido como driver Vulkan open-source no Linux.
Alguns desenvolvedores até especulam se, no futuro, o RADV poderá se expandir para o Windows. Embora nada tenha sido confirmado, essa possibilidade foi levantada em discussões recentes e se encaixaria bem no movimento de consolidação.
Um passo claro em direção à simplificação
Na prática, o recado da AMD é simples: em vez de dois mundos competindo pela atenção de usuários e desenvolvedores, agora existe um só. E esse mundo é o do RADV dentro do Mesa, um projeto que cresce em maturidade e relevância a cada ano.
Para os usuários de Linux, o resultado é uma experiência mais direta: menos escolhas confusas, mais desempenho e a confiança de que a AMD está alinhada com a comunidade. Para o ecossistema de software livre, é a prova de que a colaboração aberta não apenas funciona, como pode se tornar a estratégia oficial de um dos maiores fabricantes de hardware gráfico do mundo.