Em 16 de setembro de 2025, a comunidade de entusiastas viveu um pequeno momento de “arqueologia de hardware”. Um usuário do Reddit, ao tentar consertar uma placa de vídeo defeituosa, se deparou com uma peça rara da história do PC: um protótipo de engenharia (engineering sample) de GTX 2080 Ti. A placa não só traz a antiga marca “GTX” para a era do ray tracing, como também exibe especificações superiores à RTX 2080 Ti que chegou às lojas — um detalhe que nos convida a revisitar as escolhas técnicas e de marketing da Nvidia na virada para Turing. A história foi relatada inicialmente pelo Tom’s Hardware e rapidamente validada pela comunidade.
Uma descoberta inusitada no Reddit
O achado veio de u/Substantial-Mark-959, que recebeu de um amigo uma Founders Edition “com defeito” para tentar reparar. Ao olhar o shroud, um detalhe saltou aos olhos: onde se lê “GeForce RTX” em qualquer 2080 Ti de prateleira, ali estava “GeForce GTX”. Depois de várias tentativas de VBIOS e um driver modificado, o autor conseguiu dar boot na placa — o suficiente para abrir o GPU-Z e revelar o que parecia impossível. A discussão e as fotos do processo estão no post original do Reddit, e o caso foi detalhado por Tom’s e também pela PC Gamer.
O “selo de legitimidade” veio rápido: um curador do TechPowerUp adicionou a amostra ao banco de dados — um registro que, além de documentar o silício, “consagra” essa GTX 2080 Ti como curiosidade histórica do ecossistema GeForce. (O Tom’s aponta o cadastro e linka o verbete do TPU.)
Especificações superiores, performance semelhante
Aqui está o coração da história: o protótipo aparece com 12 GB VRAM em barramento de 384-bit, contra os 11 GB e 352-bit da RTX 2080 Ti de varejo. Na prática, isso empurra a largura de banda para perto de ~700 GB/s (vs. ~616 GB/s na placa final). As leituras de GPU-Z também indicam mais ROPs, shader units e TMUs — tudo isso em cima do mesmo TU102. A PC Gamer cita números como 4.480 shaders, 96 ROPs e 280 TMUs, frente aos 4.352 shaders, 88 ROPs e 272 TMUs do modelo de loja (você pode conferir a ficha da RTX 2080 Ti “retail” no banco de dados do TechPowerUp e a página da amostra de 12 GB aqui).
“Tá, mas rende mais?” — você deve estar se perguntando. Em Superposition, a placa marcou 9.116 pontos, algo na vizinhança de uma 2080 Ti padrão. Em Port Royal, o ray tracing “rodou normalmente”, indicando a presença de RT Cores — apesar da marca GTX no shroud. A explicação mais provável para a performance “de linha” está no contexto: drivers modificados e VBIOS não oficial raramente extraem todo o potencial de uma amostra antiga de engenharia. Em outras palavras, este não é (e nem deve ser tratado como) um review de produto — é uma janela para uma configuração de silício que quase existiu como produto.
O que esse protótipo diz sobre P&D e marketing da Nvidia
A presença de um design com 384-bit e 12 GB sugere que, em algum ponto do ciclo de P&D, a Nvidia considerou (ou pelo menos testou) um topo de linha de Turing com especificações mais “cheias”. Por que não chegou às prateleiras? Dá para elencar hipóteses clássicas do desenvolvimento de GPUs: yields (aproveitamento de dies) aquém do desejado; custos de BOM (lista de materiais) e de PCB ficarem proibitivos; limitações térmicas/energéticas com certas combinações de GDDR6; ou, simplesmente, segmentação de mercado — um recorte deliberado para abrir espaço a produtos como RTX Titan ou “Super/Ti futuros”. A própria mudança de GTX para RTX pode ter sido um giro de marketing de última hora, com foco total em ray tracing como bandeira da geração. O Tom’s toca nessa leitura de “pivot” de branding, e faz sentido quando lembramos do discurso da Turing em 2018.
No plano simbólico, porém, a história vale por si só: um rótulo GTX em plena era RTX, um bus 384-bit onde o varejo ficou em 352-bit, e 12 GB VRAM num momento em que 11 GB eram “o número oficial”. É quase como encontrar um protótipo de carro com tanque maior, motor com mapas diferentes e interior de pré-série — roda, mas não é a versão homologada; mostra, contudo, o que estava na prancheta.
Por que essa “Nvidia GTX 2080 Ti” importa
Para quem acompanha bastidores de placas de vídeo, a Nvidia GTX 2080 Ti protótipo é um lembrete vívido de que o caminho entre o laboratório e a caixa na prateleira é tortuoso. Ela revela que decisões técnicas e mensagens de produto (olá, RTX) caminham juntas — e, às vezes, umas atropelam as outras. Sem a curiosidade de um reparador e o olhar coletivo do Reddit, esse pedaço da história teria virado sucata. Agora, graças aos registros em veículos como Tom’s Hardware e à documentação comunitária (post no Reddit e verbete no TechPowerUp), ela ganha o status que merece: curiosidade histórica — e uma bela anedota sobre como as placas que usamos são, muitas vezes, versões “domadas” de ideias mais ambiciosas.