Um novo relatório do renomado analista Ming-Chi Kuo afirma que a Apple está se preparando para quebrar um de seus dogmas de design mais antigos: um MacBook Pro com tela OLED e touchscreen poderia entrar em produção em massa no fim de 2026. Kuo publicou a projeção hoje (17 de setembro de 2025), indicando que o recurso estrearia primeiro nos modelos Pro — e com tecnologia de “on-cell touch”, em que os sensores de toque são integrados diretamente ao painel. Tudo ainda é rumor, claro, mas vindo de uma fonte com histórico extremamente sólido.
MacBook models will feature a touch panel for the first time, further blurring the line with the iPad. This shift appears to reflect Apple’s long-term observation of iPad user behavior, indicating that in certain scenarios, touch controls can enhance both productivity and the…
— 郭明錤 (Ming-Chi Kuo) (@mingchikuo) September 17, 2025
Uma mudança de filosofia que leva uma década
Para entender o tamanho desse movimento, vale lembrar a filosofia clássica de Steve Jobs. Em 2010, Jobs foi taxativo ao explicar por que o Mac não teria toque: “superfícies de toque não querem ser verticais… depois de um período estendido, seu braço quer cair”. A crítica era tanto ergonômica quanto de usabilidade: tocar em uma tela ereta funcionava bem na demo, mas cansava no uso real. Por isso, a Apple apostou no trackpad de precisão, em gestos multi-toque e no iPad como o “computador de toque”. Se o rumor de hoje se confirmar, estamos diante de uma mudança filosófica rara — e, de certa forma, de uma capitulação ao pedido de longa data de parte dos usuários.
O que teria mudado internamente? Segundo Ming-Chi Kuo, trata-se de uma “observação de longo prazo do comportamento de usuários de iPad”: em certos cenários, o toque melhora a produtividade e a experiência. Em outras palavras, a Apple teria medido, sem pressa, os casos em que o toque faz sentido no macOS — e decidido incorporá-lo quando a tecnologia e a ergonomia pudessem entregar algo melhor que um simples “tocar por tocar”. Não é exatamente uma guinada repentina; é mais a Apple chegando tarde de propósito, como costuma fazer quando julga que a maturidade tecnológica finalmente atende aos seus padrões.
OLED e toque: o que esperar do novo MacBook Pro

No campo técnico, a adoção de OLED nos MacBooks vem sendo ventilada há anos e ganhou força com a economia de energia e o contraste quase infinito que a tecnologia já mostrou no iPad Pro com M4. Os bastidores da cadeia de suprimentos apontam para 2026 como janela provável para os primeiros painéis OLED de 14 e 16 polegadas no MacBook Pro — o que encaixa perfeitamente com o novo rumor do touchscreen. Em termos práticos, isso pode significar negros mais profundos, melhor HDR, controle fino de brilho por pixel e, somando o on-cell, menos camadas ópticas (logo, menos reflexos e potencial ganho de nitidez).
Sobre cronograma, Kuo fala em produção em massa “no fim de 2026”. Traduzindo: se a previsão estiver correta, um anúncio poderia acontecer no quarto trimestre de 2026 — ou escorregar para o início de 2027, a depender do timing do silício (M6?) e da prontidão da cadeia de display. A Apple costuma lançar Macs importantes no segundo semestre; portanto, a janela de fim de 2026 parece plausível. Ainda assim, é rumor: atrasos de painel, yield e prioridades de chip podem mexer nessa agenda.
E a experiência? A pergunta que todo mundo faz é: “isso vai transformar o Mac em um iPad com teclado?” Provavelmente não. A Apple tem resistido a telas de toque em laptops porque macOS e iPadOS foram concebidos com paradigmas distintos. O movimento mais provável — se o relatório estiver certo — é o toque como complemento: útil para rolar, pinch-to-zoom, seleção rápida de UI e ajustes de timeline em apps criativos, sem substituir teclado/trackpad. Pense menos em “tablet de 16 polegadas” e mais em “atalhos naturais” que somam ao que já é excelente no Mac: gestos no trackpad, teclado e atalhos de sistema.
Entre Mac e iPad, linhas (ainda mais) borradas
Se a Apple incluir touchscreen no MacBook Pro, a fronteira psicológica entre Mac e iPad vai ficar ainda mais porosa. E aí surge a questão estratégica: isso canibaliza o iPad? A história recente sugere que a Apple não teme sobreposição quando há diferenciação clara de plataforma. O iPad segue imbatível como dispositivo de toque puro, com apps e fluxos otimizados para caneta e gestos de tela inteira. O Mac, por sua vez, permanece como a máquina de produtividade “clássica”, com multitarefa de janelas, pro apps e o ecossistema de periféricos. O toque, nesse contexto, seria o elo — não a fusão.
Há ainda um subtexto interessante no rumor: Kuo menciona que um MacBook mais acessível com chip da linha A (de iPhone) está no roteiro para 2025 — mas sem toque na primeira geração, com possibilidade apenas para a segunda, em 2027. Ou seja, o touchscreen seria, ao menos no começo, um diferencial de topo de linha do MacBook Pro. É uma forma de a Apple testar a aceitação no segmento profissional antes de popularizar a ideia.
O veredito (por enquanto): rumor forte, ruptura calculada
Tudo, repito, está no campo do rumor — “segundo o relatório”, “Kuo alega”, “se a previsão estiver correta”. Mas as peças se encaixam: a chegada do OLED em 2026 já vinha sendo ventilada por diferentes fontes da cadeia, e a narrativa do toque como resposta a comportamentos reais de usuários de iPad dá uma racionalidade de produto rara em boatos desse tipo. Se acontecer, será o fim de uma era inaugurada por Steve Jobs — e o começo de outra em que o Mac, sem perder sua identidade, aprende um truque que milhões de usuários pedem há mais de uma década.