Uma mudança silenciosa, mas poderosa, está acontecendo na caixa de entrada de milhões de usuários do Microsoft Outlook. A empresa anunciou que passará a bloquear imagens SVG inline no cliente de e-mail, uma medida aparentemente simples, mas que esconde uma importante decisão de segurança.
Afinal, como pode uma simples imagem se transformar em um vetor de ataque? É exatamente isso que este artigo vai explicar. Entenderemos o motivo técnico por trás da decisão da Microsoft, como arquivos SVG podem ser explorados em golpes de phishing e Cross-Site Scripting (XSS), e por que esse bloqueio se encaixa em uma estratégia maior de proteção.
Essa ação mostra como até os elementos mais triviais de um e-mail — como imagens — podem esconder armadilhas digitais. E, dentro do contexto de uma batalha crescente contra o cibercrime, a segurança no Microsoft Outlook se fortalece com mais um muro contra ameaças cada vez mais sofisticadas.

O que exatamente está mudando no Outlook?
A alteração anunciada afeta principalmente o Outlook na Web e o novo Outlook para Windows. A partir de setembro de 2025, e com conclusão prevista para outubro de 2025, esses clientes de e-mail não exibirão mais imagens SVG embutidas no corpo da mensagem. Em vez da imagem, o usuário verá apenas um espaço em branco.
É importante destacar que SVGs enviados como anexos tradicionais continuarão funcionando. Eles poderão ser baixados e visualizados localmente, sem alterações nesse comportamento.
De acordo com a própria Microsoft, o impacto para os usuários será mínimo. A empresa calcula que menos de 0,1% das imagens usadas em e-mails atualmente são SVGs inline. Ou seja, a grande maioria das comunicações não será afetada, mas uma importante brecha de segurança será fechada.
O perigo oculto: como uma imagem SVG se torna uma arma?
O que é um arquivo SVG?
Um arquivo SVG (Scalable Vector Graphics) é um formato de imagem baseado em XML. Diferente de outros formatos mais comuns, como JPG ou PNG, que armazenam pixels, o SVG é essencialmente código que descreve formas e gráficos vetoriais.
Essa característica torna o formato extremamente flexível, permitindo redimensionamento sem perda de qualidade e a possibilidade de incorporar elementos interativos. No entanto, essa flexibilidade também é o que abre a porta para abusos.
O vetor de ataque: Cross-Site Scripting (XSS) embutido
Por ser código, um SVG pode conter scripts maliciosos, geralmente em JavaScript. Quando renderizado diretamente dentro de um cliente de e-mail ou navegador, esse código pode ser executado.
O resultado? Ataques de Cross-Site Scripting (XSS), que permitem ao invasor:
- Roubar cookies de sessão e credenciais armazenadas.
- Redirecionar o usuário para páginas falsas de phishing.
- Injetar conteúdo fraudulento dentro do e-mail.
Esse tipo de ataque não é apenas teórico. Nos últimos anos, houve um aumento do uso de SVGs maliciosos em campanhas de phishing, inclusive por meio de plataformas conhecidas como PhaaS (Phishing-as-a-Service). Uma delas, chamada Tycoon2FA, ganhou notoriedade ao fornecer kits prontos de phishing que exploravam recursos desse tipo.
Com a proliferação de ataques que usam criatividade para contornar defesas tradicionais, até uma “simples” imagem pode se tornar um cavalo de Troia digital.
Mais que uma medida isolada: a grande muralha da Microsoft
O bloqueio de imagens SVG inline no Outlook não é um movimento isolado. Ele faz parte de uma estratégia maior da Microsoft, que vem gradualmente eliminando pontos de risco em seus produtos.
Nos últimos anos, a empresa adotou várias medidas preventivas, entre elas:
- Bloqueio de arquivos .library-ms e .search-ms, que podiam ser explorados em ataques.
- Bloqueio de macros VBA por padrão, tradicionalmente usadas em golpes via documentos do Office.
- Desativação de macros XLM, um recurso antigo herdado do Excel.
- Fim do suporte ao VBScript, historicamente abusado por cibercriminosos.
Essa postura pode ser resumida como “segurança por padrão”: remover recursos legítimos, mas perigosos, antes que eles sejam explorados em massa. O objetivo é claro: tornar os ataques mais difíceis e aumentar o custo para os criminosos, reduzindo os riscos para os usuários.
Conclusão: o que isso significa para o usuário comum?
No fim das contas, o bloqueio de SVGs inline no Microsoft Outlook é uma medida preventiva com impacto mínimo, mas que elimina um vetor de ataque significativo.
Para o usuário comum, isso significa mais proteção automática sem necessidade de ajustes. Ainda assim, continua valendo a regra de ouro da segurança digital: desconfiar de anexos, links e imagens inesperadas, mesmo quando parecem inocentes.
A Microsoft reforça sua estratégia de tornar seus produtos cada vez mais seguros por padrão, mas a vigilância dos usuários segue sendo um elo essencial. Afinal, a segurança é uma responsabilidade compartilhada: de um lado, o provedor de serviço; do outro, a atenção individual diante de ameaças que continuam evoluindo.