Os resultados Samsung Q3 2025 foram divulgados com grande impacto: a Samsung Electronics registrou receita consolidada de 86,1 trilhões de won (cerca de 51,66 bilhões de euros) e um lucro operacional de 12,2 trilhões de won (aproximadamente 7,32 bilhões de euros).
Esses números marcam um salto tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo período do ano passado — impulsionados pela retomada da divisão de semicondutores e por pressões favoráveis de mercado.
Mas, para além dos números, o que mais chama atenção é onde o lucro está sendo gerado. Apesar de smartphones e displays ainda fortes, é na infraestrutura de IA, nos servidores e no hardware de ponta que a Samsung está encontrando sua vantagem competitiva — e isso tem implicações importantes para o futuro da tecnologia. Neste artigo, vamos dissecar essas áreas, com foco em semicondutores (memória HBM, nó 2 nm) e também olhar para as divisões de consumo (smartphones, displays) para entender o panorama completo.
O motor do lucro: Semicondutores dominam os resultados
A divisão de Soluções para Dispositivos (DS – Device Solutions) da Samsung teve um desempenho notável no trimestre: registrou vendas de 33,1 trilhões de won e um lucro operacional de 7,0 trilhões de won.
Isso representa mais da metade do lucro operacional total da empresa no trimestre — o que sinaliza que os semicondutores deixaram de ser apenas um coadjuvante para se tornarem o centro da geração de valor da Samsung.
Dentro dessa divisão, o destaque foram os chips de memória de alta largura de banda e também a unidade de foundry (fabricação de semicondutores para terceiros). Conforme explicado: “a receita da Divisão DS aumentou 19% QoQ e o negócio de memória bateu recorde de vendas trimestrais”.
Em suma: enquanto muitos colocavam o foco no mercado de smartphones, a Samsung apostou e venceu no segmento onde o crescimento futuro parece ser exponencial — o hardware para IA, data centers e infraestrutura corporativa.
A febre da IA: Entendendo a demanda por HBM
O que é HBM (Memória de Alta Largura de Banda)?
Para compreender o desempenho da Samsung, é preciso entender o que é HBM (High-Bandwidth Memory). Trata-se de um tipo de memória DRAM avançada que se diferencia das memórias tradicionais por oferecer uma largura de banda muito maior — ou seja, pode transferir grandes volumes de dados em altíssima velocidade, o que é vital para cargas de trabalho como treinamento de modelos de IA, inference em data centers e rede neural de alta escala.
Enquanto as memórias clássicas (DDR, DDR5 etc.) entregam desempenho adequado para PCs e smartphones, a HBM é pensada para servidores que precisam de throughput extremo e eficiência energética — empilhando camadas de memória verticalmente e reduzindo latência.
O futuro é HBM4
No relatório da Samsung, foi destacado que a linha atual de alto desempenho, a HBM3E, já está em produção em massa e sendo vendida a todos os clientes relevantes. Mas o passo seguinte é ainda mais estratégico: a empresa está enviando amostras da próxima geração, HBM4, aos principais clientes e já se prepara para a produção em escala em 2026.
Isso coloca a Samsung na pista de largada para dominar uma tecnologia que será núcleo da infraestrutura de IA nos próximos anos — e quem controlar o fornecimento de HBM4 pode definir o ritmo de crescimento (e margens) no mercado de servidores.
SSDs para servidores
Além da HBM, o relatório menciona que o negócio de SSDs de alta capacidade para servidores também contribuiu para as vendas recordes. Em ambientes de IA, não basta apenas processar dados, é preciso armazená-los, acessá-los e movimentá-los com rapidez — daí a relevância desse portfólio adicional.
A corrida pela miniaturização: O foco da Samsung em 2 nm
O que é o nó GAA de 2 nm?
Quando falamos em nó de 2 nm, estamos entrando no campo da litografia mais avançada em fabricação de semicondutores. “2 nm” refere-se ao tamanho característica dos transistores ou ao nó de processo — quanto menor, geralmente mais rápido e eficiente em termos energéticos. A arquitetura “GAA” — Gate-All-Around — representa uma evolução das arquiteturas anteriores (FinFET, por exemplo), permitindo que o canal do transistor seja cercado por todas as laterais (“all around”) pela porta de controle, reduzindo vazamentos, aumentando desempenho e eficiência.
A Samsung destacou que sua unidade de Foundry “alcançou melhoria significativa nos lucros no Q3, registrando ‘pedidos de clientes recordes, principalmente em nós avançados’. No Q4, o foco será a produção em massa de produtos 2 nm GAA”.
A competição com TSMC e Intel
Essa corrida de tecnologia não é só da Samsung — é global. Concorrentes como a TSMC e a Intel Corporation estão todos buscando dominar os nós mais avançados. A Samsung, ao focar no 2 nm GAA, mostra que está determinada a recuperar ou manter a vantagem em fabricação de chips de ponta — não apenas em memória, mas em lógica e foundry.
Esse movimento é estratégico porque permite que a Samsung não fique dependente apenas de memória (embora esse seja o segmento atual mais lucrativo) e passe a oferecer serviços de fabricação para outros grandes players de semicondutores — diversificando receita e fortalecendo ecossistema.
O resto da Samsung: Smartphones vendem, mas displays sofrem
Smartphones (MX – Mobile eXperience)
No segmento de dispositivos de consumo, a divisão MX registrou um bom desempenho: receita de 34,1 trilhões de won e lucro operacional de 3,6 trilhões de won. O destaque aqui foi o lançamento dos modelos dobráveis Galaxy Z Fold7 e Galaxy Z Flip7, que ajudaram a impulsionar vendas no trimestre.
A Samsung anuncia que, no Q4, usará promoções sazonais e lançamentos (como a linha Galaxy S25 e seus dobráveis) para manter crescimento.
Ou seja: apesar de tudo ser sobre infraestrutura de IA, o mercado de smartphones continua importante — tanto para a marca quanto para alimentar o ecossistema Android/PC em que muitos usuários finais operam.
Displays e eletrodomésticos no vermelho
Por outro lado, a divisão de Visual Display e Eletrodomésticos registrou receita de 13,9 trilhões de won, mas um prejuízo operacional de 0,1 trilhões de won. Apesar de crescimento em vendas (painéis Neo QLED, OLED, monitores grandes), a forte competição e margens apertadas derrubaram os resultados.
Isso evidencia que nem todos os negócios da Samsung estão navegando com ventos a favor — e ainda há empregos estratégicos que exigem foco e execução para voltar ao verde.
Conclusão: O que esperar da Samsung em 2026
Os resultados da Samsung no Q3 2025 solidificam a mensagem: esta não é mais apenas uma marca de consumo, mas um pilar da infraestrutura de IA e tecnologia avançada. A combinação de domínio nas memórias de alta performance (HBM3E/HBM4) e a aposta no nó 2 nm GAA para foundry posiciona a empresa para capturar uma faixa valorosa do mercado que está se expandindo com rapidez.
Para o próximo ano, o foco está claro: dominância da próxima geração de memória (HBM4) e fabricação de chips ultra-avançados (2 nm e além). A pergunta que fica para profissionais de TI, administradores de sistemas e investidores é: será que a Samsung conseguirá manter essa liderança frente à concorrência crescente e aos gargalos globais de cadeia de suprimentos?
E para você que depende de servidores, data centers ou está atento ao mercado Android/PC: talvez este seja o momento de observar não apenas os lançamentos de smartphones, mas também as placas-mãe, módulos de memória e soluções de hardware que chegam com suporte para HBM e nós avançados — o que pode ditar performance e custo total de propriedade nos próximos anos.
Deixe sua opinião nos comentários: você acredita que a Samsung manterá essa vantagem estratégica ou há concorrentes que podem retomar a dianteira?
