Nothing vai permitir desinstalar bloatware da Meta após críticas

A marca "entusiasta" ouve as críticas sobre o software pré-instalado, mas a polêmica dos anúncios na tela de bloqueio continua.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A Nothing construiu sua reputação no mercado de smartphones prometendo uma experiência Android limpa, direta e livre de bloatware. Essa identidade entusiasta conquistou fãs que buscavam justamente aparelhos sem os tradicionais aplicativos pré-instalados que ocupam espaço, consomem recursos e, muitas vezes, comprometem a privacidade. No entanto, o lançamento do Nothing Phone (3a) Lite trouxe uma surpresa desagradável: o dispositivo veio carregado com bloatware da Meta, incluindo aplicativos como Facebook, Instagram, além de ferramentas de sistema como Meta App Installer, Meta App Manager e Meta Services.

A reação da comunidade foi imediata e intensa, criticando a quebra de confiança da marca. Em resposta, a Nothing anunciou recentemente que permitirá a remoção completa desses aplicativos, atendendo à principal demanda dos usuários. Neste artigo, vamos detalhar o que mudou, analisar criticamente os limites dessa decisão e discutir se a marca está realmente mantendo sua promessa de experiência limpa ou se está se aproximando de práticas de fabricantes tradicionais.

O “pecado original”: por que o bloatware da Meta irritou os fãs da Nothing

Nothing bloatware
Imagem: 9to5Google

A introdução do bloatware da Meta no Nothing Phone (3a) Lite causou desconforto imediato entre os entusiastas da marca. O público da Nothing é composto por usuários que valorizam controle, transparência e leveza do sistema, pagando justamente por isso. A presença de aplicativos como Facebook, Instagram, Meta App Installer, Meta App Manager e Meta Services contradiz completamente essa filosofia.

O problema não é apenas o espaço ocupado ou o consumo de recursos; é a percepção de que a Nothing estaria permitindo que uma gigante do setor, a Meta, tivesse acesso privilegiado ao sistema do dispositivo, em um nível que usuários comuns não poderiam controlar. Esse tipo de pré-instalação em nível de sistema é uma forma de bloatware crítico, que não pode ser desinstalado facilmente, quebrando a promessa de uma experiência limpa.

A consequência imediata foi a perda de confiança: a marca que se posicionou como “anti-bloatware” parecia agora seguir o mesmo caminho que seus concorrentes, cedendo a acordos comerciais em detrimento da experiência do usuário.

A reviravolta: Nothing recua e promete controle total (ou quase)

Após a pressão da comunidade, a Nothing anunciou que os usuários poderão desinstalar completamente os aplicativos da Meta ainda este mês. Essa medida representa uma vitória parcial para quem se sentiu traído pelo lançamento do Phone (3a) Lite.

É importante entender a diferença entre desativar e desinstalar:

  • Desativar: atualmente, os aplicativos da Meta podem ser apenas desativados. Isso significa que eles deixam de aparecer e de rodar ativamente, mas continuam ocupando espaço no sistema e podem ser reativados por atualizações automáticas.
  • Desinstalar: a promessa futura é que os pacotes serão removidos de fato do dispositivo, liberando espaço e retirando qualquer código ativo associado. É a solução que os usuários sempre desejaram e que, finalmente, a Nothing concordou em implementar.

Apesar disso, a empresa tenta justificar a presença inicial do bloatware com argumentos como “maior estabilidade do sistema” ou “melhor integração com a câmera”. Analisados criticamente, esses motivos parecem mais desculpas corporativas do que benefícios reais, especialmente considerando que o público-alvo da Nothing valoriza autonomia e controle sobre o software instalado.

O elefante na sala: o que a Nothing não vai remover

Enquanto o recuo sobre os aplicativos da Meta é louvável, ele não resolve todos os problemas relacionados a bloatware e monetização no Phone (3a) Lite. Dois elementos permanecem como pontos de atenção: Lock Glimpse e os futuros serviços de recomendação.

Lock Glimpse

O Lock Glimpse é um recurso que exibe pequenas notificações ou “glimpses” na tela de bloqueio, incluindo anúncios disfarçados de conteúdo útil. Diferente do bloatware da Meta, este aplicativo não poderá ser desinstalado, apenas desativado, conforme reportagem do 9to5Google.

Isso indica que, embora a Nothing tenha cedido em relação à pressão da comunidade sobre os aplicativos da Meta, seus próprios mecanismos de monetização permanecem intactos. É uma escolha estratégica: a empresa protege a receita potencial gerada por anúncios e recomendações, mesmo que isso contrarie a expectativa de uma experiência limpa.

Serviços de recomendação

Além disso, a Nothing confirmou que planeja introduzir serviços de recomendação durante o setup inicial do aparelho. Esses serviços funcionarão como uma forma adicional de bloatware opcional, oferecendo conteúdos e parcerias comerciais. Mesmo que os usuários possam desativá-los, o fato de serem incluídos por padrão reforça uma tendência de monetização embutida no sistema, característica típica de fabricantes tradicionais e contrária à identidade original da Nothing.

Análise: a Nothing está perdendo sua identidade?

Permitir a desinstalação do bloatware da Meta é, sem dúvida, uma correção de curso positiva e um reconhecimento da importância da voz da comunidade. No entanto, essa medida não apaga o fato de que a empresa inicialmente ignorou sua promessa de experiência limpa.

O Lock Glimpse e os futuros serviços de recomendação mostram que a Nothing está dividida entre manter sua identidade de marca “entusiasta” e buscar modelos de monetização típicos do mercado de massa. Isso levanta a pergunta: até que ponto a pressão da comunidade será suficiente para impedir que a empresa introduza ainda mais elementos de bloatware ou adware em dispositivos futuros?

Para o usuário, a decisão representa uma vitória parcial: a autonomia sobre os aplicativos da Meta será restaurada, mas a filosofia de “experiência limpa” da Nothing continua ameaçada. É um alerta de que a marca precisa equilibrar cuidadosamente monetização, parcerias comerciais e fidelidade à sua base de fãs mais engajada.

Enquanto isso, os consumidores precisam estar atentos: a remoção de bloatware da Meta não significa que o Phone (3a) Lite é totalmente livre de software pré-instalado indesejado. O Lock Glimpse e os serviços de recomendação permanecem como lembretes de que nem todo bloatware é externo; algumas vezes, ele vem de dentro da própria marca.

A Nothing ouviu os usuários sobre o bloatware da Meta, mas será que a pressão da comunidade será suficiente para fazê-la repensar os anúncios no Lock Glimpse? Essa é uma questão aberta para todos os entusiastas, e cada opinião conta na construção do futuro do Phone (3a) Lite.

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