Apple perde talentos para IA: designer do iPhone Air é o próximo

A maçã está perdendo seu brilho para a febre da Inteligência Artificial?

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A fuga de cérebros da IA da Apple deixou de ser um fenômeno isolado para se tornar um problema estratégico que começa a afetar até áreas tradicionalmente estáveis dentro da empresa, como o design industrial. A notícia mais recente é a saída de Abidur Chowdhury, o designer que apresentou o novo iPhone Air, e que agora deixa Cupertino rumo a uma startup de inteligência artificial ainda não revelada. O movimento, embora discreto, tem um peso simbólico enorme, reforçando a sensação de que a Apple está sendo drenada justamente no momento em que a corrida da IA se tornou o novo epicentro da inovação tecnológica.

A pergunta que paira é simples e incômoda: como a empresa que sempre definiu tendências agora vê até seus talentos mais admirados migrarem para um setor mais ágil e sedutor? Este artigo analisa por que essa saída não é um caso pontual, mas parte de uma migração de talentos da Apple que vem ganhando força e que pode comprometer sua capacidade de liderar a próxima grande onda tecnológica.

A ironia é evidente. A Apple, famosa por seu design impecável, está perdendo até mesmo seus designers de ponta para a febre da IA. E isso levanta um ponto essencial: será que a gigante de Cupertino está ficando para trás em visão, ambição ou velocidade?

iPhone 17 Air

Mais uma baixa na fortaleza de Cupertino

A saída de Abidur Chowdhury não passou despercebida internamente. Segundo informações reveladas pela Bloomberg, ele era um dos designers industriais mais bem avaliados dentro da empresa, tendo sido responsável por apresentar o projeto do iPhone Air, um dos lançamentos mais comentados da atual geração. Sua partida não está ligada a qualquer problema específico do produto, mas ainda assim gerou “repercussão interna”, evidenciando o peso estratégico que ele tinha.

O destino é ainda mais revelador. Chowdhury deixou a Apple para trabalhar em uma startup de inteligência artificial não divulgada, reforçando a tese de que o setor de IA está atuando como um poderoso ímã de talentos criativos e técnicos. Essa movimentação ecoa um padrão que vem se repetindo: profissionais que antes dificilmente abandonariam a segurança, a estrutura e o prestígio da Apple agora enxergam nas startups de IA uma oportunidade mais alinhada com o futuro da inovação.

A debandada não é só no design

Embora a saída de Chowdhury tenha ganhado destaque por envolver um nome de peso do design, a situação vai muito além da área estética. A perda de talentos da Apple para IA tem sido mais intensa justamente nos departamentos mais críticos para a transformação digital da empresa.

Nos últimos anos, a Apple vive uma fuga implacável de talentos para concorrentes diretos como Meta e para gigantes emergentes da IA como OpenAI e Anthropic. Entre as saídas mais notáveis estão:

  • A equipe de Jony Ive na io, posteriormente adquirida pela OpenAI, marcando uma união entre design e IA que, ironicamente, não ocorreu dentro da Apple.
  • Evans Hankey, sucessora direta de Ive e peça central do design da empresa.
  • Tang Tan, veterano de mais de 25 anos, considerado um dos pilares do design de produtos.
  • Cyrus Daniel, especialista em design de interface humana.
  • Matt Theobald, responsável pelo design de manufatura.
  • Erik de Jong, líder em design do Apple Watch.

Cada saída isoladamente já seria preocupante, mas o conjunto aponta para algo mais profundo: a Apple está perdendo justamente os profissionais que moldaram sua identidade moderna e sua capacidade de inovar nos detalhes que diferenciam seus produtos.

Por que a IA se tornou um ímã de talentos mais forte que a Apple?

A migração desses profissionais não acontece por acaso. Ela reflete uma mudança histórica na balança de poder do Vale do Silício, em que as startups de IA se tornaram o novo eldorado tecnológico.

A corrida pela inovação (e equity)

Na década de 2000, trabalhar na Apple significava estar no epicentro da revolução dos smartphones, da música digital e do design industrial minimalista que redefiniu padrões. Hoje, esse epicentro se deslocou para a inteligência artificial generativa, dominado por empresas como OpenAI e Anthropic, que oferecem não apenas desafios técnicos estimulantes, mas também algo que a Apple dificilmente consegue igualar: participação acionária agressiva.

Para um designer ou engenheiro de ponta, entrar em uma startup de IA pode significar não apenas moldar o futuro da tecnologia, mas também colher ganhos financeiros substanciais caso a empresa escale rapidamente.

Essa combinação de autonomia, velocidade e potencial de valorização é extremamente atrativa, especialmente para profissionais criativos que desejam ver suas ideias ganhando vida sem o peso das camadas de aprovação de uma Big Tech consolidada.

A Apple está ficando para trás na corrida da IA?

Outro ponto crítico é a percepção — cada vez mais difícil de ignorar — de que a Apple tem sido lenta e excessivamente cautelosa na implementação de tecnologias de IA generativa. Enquanto Google, Microsoft e startups do setor travam batalhas diárias por avanços, parcerias e integrações, a empresa de Cupertino adota uma postura mais discreta, focada em privacidade e borda computacional.

Se por um lado isso reforça valores tradicionais da marca, por outro gera frustração interna. Muitos talentos querem trabalhar na fronteira do desconhecido, e a sensação é de que a Apple está sempre um passo atrás, tentando equilibrar reputação e inovação, mas perdendo velocidade no processo.

Essa percepção alimenta a Apple fuga de cérebros IA, pois o profissional ambicioso não quer esperar dois ou três anos para ver um protótipo ganhar luz verde. Ele quer criar agora.

Conclusão: um problema de design ou de visão?

A saída de Abidur Chowdhury não deve ser vista apenas como a perda de um designer talentoso, mas como mais um sintoma de um problema maior. A Apple não está mais competindo somente com Google, Samsung ou Microsoft. Está competindo com todo o ecossistema de startups de IA, que se move com agilidade e oferece experiências de trabalho e valorização que muitas vezes parecem mais alinhadas com as aspirações de profissionais criativos e técnicos.

Se a empresa não conseguir estancar essa crise de talentos em IA, pode correr o risco de repetir erros de outras gigantes que perderam o timing em revoluções tecnológicas anteriores.

A Apple sempre se recuperou de grandes desafios, mas será que ela conseguirá conter essa fuga antes de perder a próxima grande revolução? Deixe sua opinião nos comentários abaixo.

Compartilhe este artigo
Nenhum comentário