Este Linux corporativo salva seu hardware antigo e ainda traz Btrfs nativo

AlmaLinux 10.1 equilibra suporte nativo a Btrfs com sobrevida para servidores com CPUs antigas x86_64_v2.

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Se você gerencia servidores Linux, sabe que estabilidade é tudo. Mas a estabilidade pode envelhecer mal se o sistema não acompanha o que está acontecendo em armazenamento, segurança e hardware. O AlmaLinux 10.1, codinome “Heliotrope Lion”, chega justamente para mostrar que um Enterprise Linux pode ser conservador onde importa e ousado onde faz diferença.

Na prática, o AlmaLinux 10.1 release é a primeira atualização da série AlmaLinux 10 com kernel 6.12.0-124.8.1, disponível para x86_64, x86_64_v2, aarch64, ppc64le e s390x, com suporte de produção longo (ativos até 2030, segurança até 2035). Ou seja, é uma base para você padronizar datacenter, nuvem e laboratório pelos próximos anos, sem precisar trocar tudo de uma vez.

Btrfs: modernizando o armazenamento

Por muito tempo, o sistema de arquivos Btrfs foi o “promissor que nunca se formou” no mundo Enterprise. O RHEL retirou o suporte há anos, outros vendors seguiram o movimento, e muita gente arquivou a ideia de snapshots nativos e checksums ponta a ponta em ambiente corporativo. Agora o AlmaLinux faz o caminho inverso e dá uma casa oficial ao Btrfs na versão 10.1.

Antes, o Btrfs estava confinado ao AlmaLinux OS Kitten (a prévia baseada em CentOS Stream). Com o 10.1 estável, o suporte passa a ser de primeira classe: kernel e userspace vêm preparados, e já é possível instalar o sistema diretamente em um volume Btrfs a partir do instalador, sem gambiarras, sem pós-instalação manual. O foco inicial foi integrar o Btrfs ao instalador e à pilha de gerenciamento de armazenamento, e o projeto promete ampliar o uso de recursos avançados do filesystem ao longo do ciclo da série 10.

No dia a dia de quem administra servidores, isso abre espaço para um modelo de operação mais moderno. Dá para imaginar um fluxo em que você cria um snapshot antes de cada grande atualização, testa, e se algo der errado volta em minutos, sem precisar de imagens externas ou longos restores de backup. Subvolumes, compressão transparente e possibilidade de combinar múltiplos discos em um único pool também tornam mais fácil tirar mais vida do hardware que você já tem.

Em outras palavras, o Helitrope Lion acena para quem sempre quis os benefícios de Btrfs, mas não tinha coragem de empurrar isso em produção sem um vendor Enterprise abraçando oficialmente a ideia.

Salvando hardware antigo: o suporte a x86_64_v2

Enquanto o Btrfs olha para o futuro, o outro grande recado do AlmaLinux 10.1 é muito pé no chão: não jogar fora o parque de máquinas que você já pagou. O ecossistema Enterprise está convergindo para exigir CPUs mais recentes. A própria Red Hat já indicou que o RHEL 10 deve adotar x86_64-v3 como baseline, o que na prática aposenta processadores x86_64_v1 e x86_64_v2 em futuras versões, inclusive em termos de suporte oficial.

O AlmaLinux segue o baseline otimizado em x86_64-v3 para quem tem hardware moderno, mas adiciona algo que faz muita diferença na vida real: uma segunda arquitetura oficial, x86_64_v2, com ISO própria e repositórios EPEL alinhados, pensada para servidores e estações que ainda não oferecem o conjunto completo de instruções mais novo. Em resumo, a fundação aceita o custo de manter duas variantes para garantir que uma parte importante da comunidade não fique para trás.

Há um detalhe importante aqui: todos os terceiros que empacotam software para RHEL 10 vão compilar mirando x86_64-v3. A edição x86_64_v2 do AlmaLinux é ideal para workloads em que você depende majoritariamente do conjunto de pacotes padrão ou em que tem capacidade de recompilar o que falta para essa arquitetura. Para quem controla o stack inteiro (de banco de dados a aplicação), isso é perfeitamente viável. Para quem vive preso a binários proprietários, vale avaliar caso a caso.

A estratégia de preservar legado vai além da ISA. O AlmaLinux 10.1 reintroduz IDs PCI em diversos drivers de armazenamento e rede, cobrindo controladoras RAID antigas, HBAs Fibre Channel e adaptadores que já tinham sido desativados no upstream. Na prática, isso significa que aquele servidor de 8 ou 10 anos que ainda é “bom o suficiente” para rodar um storage secundário ou um hypervisor local ganha alguns anos extras de utilidade.

Mais novidades para administradores de sistemas

Mesmo com o foco em Btrfs e hardware legado, o Helitrope Lion não esquece o resto da pilha. O release traz uma leva de toolchains atualizados (GCC 14, GCC Toolset 15, LLVM 20, Rust 1.88, Go recente), além de melhorias em ferramentas de debug e observabilidade como GDB 16, Valgrind novo, bpftrace e um stack de monitoramento com PCP e Grafana atualizados.

Na parte de containers e virtualização, o AlmaLinux 10.1 chega com Podman 5.6, Buildah 1.41, Libvirt 11.5 e QEMU-KVM 10.0, preservando o foco em workloads containerizados e mantendo o KVM em arquiteturas como IBM POWER, o que é especialmente relevante para quem já padronizou virtualização nessa plataforma. O projeto também atendeu pedidos antigos da comunidade ao reabilitar suporte a SPICE para desktop remoto e reativar Frame Pointers por padrão, o que simplifica a vida de quem faz profiling e tracing de performance em produção.

Na segurança, o destaque é o avanço em criptografia de próxima geração. O sistema passa a adotar políticas que habilitam algoritmos de criptografia pós quântica por padrão, com OpenSSL 3.5 adicionando suporte a ML-KEM, ML-DSA e SLH-DSA, além de suporte a assinaturas RPMv6, permitindo múltiplas assinaturas em um único pacote e integração com ferramentas OpenPGP modernas. SSSD, SELinux e ferramentas de rede também chegam alinhados com o que há de mais recente no upstream Enterprise.

Para fechar o pacote, o AlmaLinux disponibiliza ISOs de instalação, imagens live, containers e imagens de nuvem para as principais plataformas, além de Vagrant boxes e WSL, o que facilita usar o Helitrope Lion como base única em bare metal, cloud pública e ambientes de desenvolvimento. Se você topar testar e encontrar problemas, a fundação pede que os bugs sejam reportados no Bug Tracker oficial e convida a comunidade a participar em chat, fóruns e redes sociais, mantendo a distribuição alinhada com as necessidades reais de quem roda Linux em produção.

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