PIB do Brasil pode crescer até 4,2 pontos percentuais até 2030 com uso de Inteligência Artificial

Claylson Martins
Claylson Martins

A pedido da Microsoft, a consultoria americana FrontierView realizou o estudo “A Inteligência Artificial (IA) na era da COVID-19: Otimizando o papel da IA na geração de empregos e crescimento econômico na América Latina”. Então, a partir daí, houve uma análise de como a economia, a produtividade e os empregos no Brasil poderiam se beneficiar se o país maximizasse a adoção de IA até 2030. Esse cenário se tornou mais provável com a aceleração da transformação digital que ocorreu durante a pandemia  da COVID-19.

De acordo com a análise da consultoria, o país pode vivenciar dois cenários distintos: o benefício mínimo e o máximo com a adoção plena da IA, que diferem em quanto de investimento o Brasil pode gerar na expansão de indústrias existentes e novas por meio da implementação de novas tecnologias. No primeiro cenário, espera-se que o uso da IA adicione 1,8 ponto percentual ao PIB brasileiro até 2030. No segundo cenário, o crescimento adicional poderia chegar a 4,2 pontos percentuais.

Ambos os cenários pressupõem que o país adote todas as funcionalidades de IA disponíveis atualmente até 2030. O segundo cenário pressupõe que as empresas e o governo usem a IA para expandir suas operações (não apenas para automatizar tarefas), e que o mercado de trabalho do Brasil possa atender à demanda por novos trabalhos habilitados pela IA.

PIB do Brasil pode crescer até 4,2 pontos percentuais até 2030 com uso de Inteligência Artificial

O estudo foi feito pela primeira vez no ano passado. O segundo cenário pressupõe que as empresas e o governo usem a IA para expandir suas operações (não apenas para automatizar tarefas). E que o mercado de trabalho do Brasil possa atender à demanda por novos trabalhos habilitados pela IA.  Agora a consultoria fez uma análise adicional sob a perspectiva da COVID-19.

PIB do Brasil pode crescer até 4,2 pontos percentuais até 2030 com uso de Inteligência Artificial

PIB do Brasil pode crescer até 4,2 pontos percentuais até 2030 com uso de Inteligência Artificial

A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos negativos ao país em termos de emprego e negócios, levando algumas empresas ao encerramento. Porém, houve uma curva de crescimento positiva na transformação digital tanto das empresas quanto da sociedade, que passou a comprar digitalmente. São dois cenários que podem motivar a adoção da IA.

As vendas do comércio eletrônico no Brasil, por exemplo, mais que dobraram de abril a agosto em relação ao mesmo período de 2019 (+ 105% de aumento anual), conforme mostra o gráfico acima. Embora as vendas no varejo devam retornar intensamente, muitos consumidores optarão por continuar comprando on-line, contribuindo para a evolução dos números do varejo virtual na realidade pós-pandemia.

A Inteligência Artificial tem um imenso potencial de transformar os negócios e a nossa sociedade, mas para se beneficiar dessas oportunidades, precisamos garantir que ela seja conduzida de maneira ética, responsável e que seja acessível a todos. Por isso, a Microsoft segue firme em seu compromisso de democratizar o uso da IA, em entender seus impactos e garantir que as pessoas estejam preparadas para fazer uso dessa tecnologia, diz Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil.

Inteligência Artificial na recuperação econômica

De acordo com a análise do estudo, a Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta para auxiliar o país na recuperação econômica, reduzindo custos, melhorando a arrecadação de impostos e estimulando a liberação de crédito para movimentar a economia. A IA pode acelerar a formalização do trabalhador informal por meio de plataformas digitais, expandindo efetivamente a base tributária e melhorando a arrecadação de impostos.

Segundo dados do IBGE, a taxa de informalidade no trimestre encerrado em agosto foi de 38%, o que equivale a 31 milhões de trabalhadores que atuam por conta própria ou que não têm carteira assinada. Outros benefícios poderiam ser observados no combate à evasão fiscal, capacitando os inspetores fiscais com ferramentas de previsão que podem ajudá-los a identificar mais facilmente os comportamentos fraudulentos; na adoção de IA para a previsão de déficits de receita tributária e nos impactos econômicos de diferentes alocações orçamentárias ou incentivos fiscais.

A indústria de Fintechs já está usando IA para eliminar muitos dos vieses humanos e avaliações de solvência ineficazes que estavam dificultando o acesso ao crédito não apenas para determinados grupos de renda e sociais, mas também para pequenas e médias empresas com capacidade de crédito, especialmente aquelas que operam no setor informal.

Para contextualizar a posição do Brasil em relação à América Latina, a pesquisa analisou Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Porto Rico.  De uma perspectiva país a país, México, Brasil e Costa Rica veriam os maiores saltos no crescimento econômico atribuídos pela adoção da IA, e a Argentina os mais baixos.

Nossa pesquisa aponta que Inteligência Artificial pode ser um impulsionador da retomada econômica do Brasil após a pandemia da COVID-19. Com as estratégias e investimentos certos o país pode elevar seu crescimento econômico e aumentar a produtividade da população, afirma Pablo Gonzalez Alonso, diretor de Pesquisa da América Latina na FrontierView.

IA e empregos

O estudo também analisou os impactos que a Inteligência Artificial pode gerar nos empregos, levando em consideração não apenas os efeitos da automação do trabalho, mas também a criação de novos empregos. O modelo geral prevê que de todas as horas que os brasileiros trabalharão em 2030 com base nas projeções pré-COVID-19, 46% delas poderão ser automatizadas com o uso da IA.

No entanto, a criação de novos empregos mitigaria o efeito final sobre a demanda por mão de obra. No cenário de benefício mínimo de IA, a demanda por mão de obra se recuperaria de 46% das horas de trabalho reduzidas (ou economizadas) para 23%; e no cenário de benefício máximo de IA, em que o governo e as empresas não a estão utilizando apenas para automatizar tarefas de trabalho, mas também para expandir seu alcance e operações, a demanda por mão de obra se recuperaria da mesma redução inicial de 46% para uma redução líquida de apenas 7%.

O estudo da FrontierView apontou que uma redução na demanda por força de trabalho não levaria automaticamente à perda de empregos em todos os casos. De acordo com a consultoria, as empresas poderiam atribuir novas tarefas aos funcionários que tiveram suas horas reduzidas, ou até mesmo diminuir a carga horária graças aos ganhos de produtividade que a IA oferece; isso também seria alinhado com as crescentes demandas dos funcionários por um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Público e privado

É importante ressaltar que para o Brasil atingir o cenário de Benefício Máximo da IA é necessário estimular a adoção dela para a melhoria de produtos e serviços nos setores público e privado.

Ainda no contexto dos empregos, no cenário de benefício máximo, a demanda por profissionais altamente qualificados aumentaria significativamente, passando de 34% do total de empregos para 54% até 2030. Nesse cenário, a qualificação e a requalificação de profissionais tornam-se imprescindíveis, pois os demais níveis passariam por uma diminuição nas ofertas para trabalhadores de média (-31%) e baixa qualificação (-44%). No cenário de benefício mínimo, os empregos altamente qualificados aumentariam sua proporção em 16 pontos percentuais, de 34% para 50% do total de empregos até 2030.

Na análise dos países latino-americanos, o Brasil tem a segunda maior oportunidade de aumentar seu crescimento de produtividade e equipará-lo ao de países desenvolvidos na região logo após o México, que ocupa a primeira posição.

Requalificando o mercado

Para que se possa aproveitar o potencial trazido pela IA e a demanda por profissionais qualificados para as novas tecnologias, o Brasil não deve contar apenas com os já existentes e novos graduandos em cursos nessa área, é necessário requalificar a população.

De acordo com análise da FrontierView, o Brasil deve focar na melhoria da formação de sua força de trabalho e na criação de um ambiente de inovação para acelerar a adoção da IA garantindo, ao mesmo tempo, acesso igualitário à tecnologia e implementação inclusiva da IA. É necessário estimular a participação das mulheres nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português), o acesso à educação para todos os brasileiros independentemente da origem socioeconômica e o acesso à tecnologia por todas as empresas, independentemente do porte.

Para endereçar esses desafios, a Microsoft lançou iniciativas que buscam auxiliar na capacitação e recapacitação profissional e reforçar o compromisso da companhia com o país. Foi apresentado, em outubro, o programa Microsoft Mais Brasil, em que uma das iniciativas é voltada à requalificação profissional. Trata-se da “Escola do Trabalhador 4.0”, uma plataforma de ensino remoto desenvolvida pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia (SEPEC/ME) em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que inclui cursos da Microsoft por meio da ferramenta Microsoft Community Training. A plataforma estará disponível para brasileiros de todo o país e tem como objetivo atender até 5.5 milhões de candidatos a emprego até 2023. A Microsoft irá disponibilizar 58 instrutores para oferecer orientação personalizada para até 315 mil pessoas.

Cursos gratuitos

A Microsoft também anunciou em outubro a disponibilidade no Brasil de um programa com o LinkedIn para a capacitação de pessoas com cursos gratuitos. O programa global, que agora é suportado em português, oferece 9 rotas de aprendizagem. Reúne um total de 96 cursos de capacitação.  Tudo de acordo com as profissões mais demandadas e habilidades mais desejadas no mercado. Levam em consideração tanto habilidades técnicas, quanto as chamadas soft skills. O programa foi lançado globalmente em julho nos idiomas inglês, francês, espanhol e alemão. Já beneficiou, até o momento, cerca de 10 milhões de pessoas. A meta é que o programa atinja 25 milhões de pessoas em todo o mundo.

Para debater os impactos e oportunidades trazidas pela IA, a Microsoft criou o AI Industry Board. É um comitê que tem como objetivo discutir o uso ético e responsável da Inteligência Artificial. Nele,  representantes de diversas empresas e organizações do país debatem quais são os desafios e oportunidades da adoção da tecnologia.

  • Nas reuniões são discutidos temas como:

  • o processo de retomada econômica;
  • como a tecnologia pode impulsionar os negócios;
  • e que a requalificação em habilidades voltadas às tecnologias emergentes é essencial para se beneficiar do potencial trazido por elas.
Share This Article
Follow:
Jornalista com pós graduações em Economia, Jornalismo Digital e Radiodifusão. Nas horas não muito vagas, professor, fotógrafo, apaixonado por rádio e natureza.