A volta do carvão: como a demanda por energia está mudando os datacenters

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Como o mundo avança em direção a tecnologias mais limpas, os datacenters nos EUA estão enfrentando uma reviravolta inesperada. Devido a preços altos de gás natural e a crescente demanda, alguns datacenters estão voltando a utilizar carvão, um dos combustíveis fósseis mais poluentes. Você já se perguntou como isso impacta as metas climáticas e a qualidade do ar nas localidades próximas? Neste artigo, vamos explorar as razões por trás dessa mudança e suas consequências para o futuro energético.

Cenário energético atual dos datacenters nos EUA

Você já parou para pensar de onde vem a energia que alimenta nossa vida digital? Os datacenters, que são o coração da internet, consomem uma quantidade gigantesca de eletricidade. Nos Estados Unidos, a situação energética para essas instalações está passando por uma mudança surpreendente e, de certa forma, preocupante. Por muito tempo, a tendência era abandonar o carvão em favor de fontes mais limpas, como o gás natural e as energias renováveis.

No entanto, o cenário mudou drasticamente. Com o aumento expressivo nos preços do gás natural, as empresas de energia estão sendo forçadas a buscar alternativas mais baratas para manter as luzes acesas e os custos sob controle. E qual tem sido a solução? Voltar a usar o carvão. Isso mesmo, as velhas usinas de carvão, que muitos acreditavam estar com os dias contados, estão sendo reativadas para suprir a demanda crescente.

O dilema da rede elétrica

O grande ponto é que a maioria dos datacenters não gera sua própria energia; eles dependem da rede elétrica local. Portanto, mesmo que uma empresa de tecnologia tenha metas ambiciosas de sustentabilidade, ela pode acabar consumindo eletricidade gerada a partir do carvão. Isso cria um conflito entre os objetivos ambientais e a realidade econômica, mostrando como a estabilidade da matriz energética é um desafio complexo e cheio de reviravoltas.

Aumento da demanda por energia em 2026-2028

Se a situação já parece complicada agora, espere só para ver o que vem por aí. As previsões para o período entre 2026 e 2028 indicam um verdadeiro salto na demanda por energia, e os datacenters são os grandes protagonistas dessa história. Não estamos falando de um crescimento pequeno e gradual, mas sim de um aumento massivo que vai colocar a rede elétrica à prova como nunca antes.

Mas, por que tanto consumo de repente? A resposta tem nome e sobrenome: Inteligência Artificial. O treinamento de modelos de IA, como os que alimentam chatbots e geradores de imagem, consome uma quantidade absurda de eletricidade. Pense em cada pergunta que você faz a uma IA; por trás dela, há um exército de servidores trabalhando a todo vapor. Com a popularização dessa tecnologia, a necessidade de processamento e, consequentemente, de energia, está explodindo.

Preparando-se para o pico

Esse pico de demanda esperado não é algo que a infraestrutura atual possa absorver facilmente. As redes elétricas foram planejadas para um crescimento mais previsível. Esse novo cenário, impulsionado pela tecnologia, força as companhias de energia a se planejarem para o pior, garantindo que haverá eletricidade suficiente para todos. É por isso que manter usinas de carvão operacionais, mesmo que não seja o ideal do ponto de vista ambiental, acaba se tornando uma carta na manga para evitar apagões e garantir a estabilidade do sistema nos momentos de maior necessidade.

O impacto do carvão na emissão de gases de efeito estufa

Não tem como fugir do fato: o carvão é um dos maiores vilões quando o assunto é mudança climática. A queima desse combustível fóssil libera uma quantidade enorme de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2). Pense nesses gases como um cobertor que envolve a Terra, prendendo o calor e aumentando a temperatura do planeta. É um processo que contribui diretamente para o aquecimento global.

Quando um datacenter consome energia de uma rede alimentada por carvão, ele se torna, mesmo que indiretamente, parte desse problema. É como ter um carro elétrico super moderno, mas carregá-lo em uma tomada ligada a um gerador a diesel. A tecnologia é limpa, mas a fonte de energia não é. Isso cria um paradoxo para as empresas de tecnologia, que muitas vezes se orgulham de suas metas de sustentabilidade, mas ficam de mãos atadas pela infraestrutura energética disponível.

O problema vai além do aquecimento global

Além do CO2, a queima de carvão também libera outros poluentes bem desagradáveis, como o dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio. Essas substâncias não só contribuem para a formação de chuva ácida, que prejudica florestas e rios, mas também afetam diretamente a qualidade do ar que respiramos. Para as comunidades que vivem perto dessas usinas, isso pode significar um aumento nos problemas respiratórios e outros riscos à saúde. Ou seja, o impacto é tanto global quanto local.

Alternativas energéticas e suas limitações

Ok, se o carvão é tão problemático, por que simplesmente não trocamos tudo por fontes de energia mais limpas, como a solar e a eólica? A resposta, infelizmente, não é tão simples. Embora as energias renováveis sejam fantásticas, elas têm uma limitação bem conhecida: a intermitência. O que isso significa? Basicamente, a energia solar só é gerada quando o sol está brilhando, e a eólica, quando o vento está soprando.

Agora, pense em um datacenter. Ele precisa de energia constante, 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem interrupções. Não dá para simplesmente desligar os servidores porque o dia ficou nublado ou o vento parou. Essa necessidade de fornecimento ininterrupto de energia é o grande desafio. Para contornar isso, precisaríamos de sistemas de armazenamento de energia gigantescos, como baterias, mas essa tecnologia ainda é cara e não está disponível na escala necessária para suprir toda a demanda.

E a energia nuclear?

Outra alternativa que não emite carbono é a energia nuclear. Ela é poderosa e confiável, funcionando sem parar. No entanto, construir uma nova usina nuclear é um processo extremamente caro e demorado, levando décadas. Além disso, ainda existe uma grande preocupação pública com a segurança e o descarte do lixo nuclear. Por isso, embora seja uma opção viável a longo prazo, não resolve o problema imediato da crescente demanda de energia.

Após pressão ambiental, planos de desativação do carvão são revertidos

Lembra de toda a pressão de grupos ambientalistas e da sociedade para fechar as usinas de carvão? Por anos, a notícia era sempre sobre mais uma usina com data marcada para ser desativada, e parecia um caminho sem volta em direção a um futuro mais verde. Pois é, o jogo virou. Muitos desses planos de desativação do carvão estão sendo engavetados ou até mesmo cancelados.

Operadoras de rede elétrica, como a PJM Interconnection, que gerencia uma grande parte da rede nos EUA, estão pedindo formalmente que várias usinas de carvão adiem sua aposentadoria. O motivo? Eles fizeram as contas e perceberam que, com a demanda de energia subindo no foguete da IA e dos datacenters, desligar essas usinas agora poderia causar sérios problemas de abastecimento. É uma decisão pragmática para evitar apagões.

Um passo para trás?

Essa reviravolta é um balde de água fria para as metas climáticas. As mesmas usinas que eram vistas como relíquias poluentes do passado agora são consideradas essenciais para garantir a estabilidade da rede elétrica. Isso mostra o tamanho do desafio: equilibrar a necessidade imediata de energia com a urgência de proteger o meio ambiente. No fim das contas, a segurança energética está, por enquanto, falando mais alto que a pressão ambiental.

Perspectivas futuras e desafios para a transição energética

Então, qual é o caminho a seguir? Estamos claramente em uma encruzilhada. De um lado, temos a inovação tecnológica, com a IA e os datacenters, que precisa de cada vez mais energia para funcionar. Do outro, temos a necessidade urgente de abandonar os combustíveis fósseis para frear as mudanças climáticas. Não é uma escolha fácil, e o futuro da nossa matriz energética depende de como vamos equilibrar esses dois pratos da balança.

O principal desafio é o tempo. Uma transição energética completa não acontece da noite para o dia. Construir novas usinas de energia renovável, modernizar a rede elétrica para que ela seja mais inteligente e resiliente, e desenvolver tecnologias de armazenamento de energia em larga escala são projetos que levam anos e exigem investimentos gigantescos. Enquanto isso, a demanda por eletricidade não espera; ela só aumenta.

Buscando soluções inteligentes

Para o futuro, a solução provavelmente não será uma única coisa, mas uma combinação de estratégias. Precisaremos de um forte investimento em fontes limpas, como a solar e a eólica, junto com o desenvolvimento de baterias mais eficientes para garantir energia quando o sol não brilha ou o vento não sopra. Além disso, a própria indústria de tecnologia pode desempenhar um papel crucial, buscando construir datacenters mais eficientes ou até mesmo investindo em suas próprias fontes de energia limpa. O que está claro é que os próximos anos serão decisivos para definir se conseguiremos alimentar nosso futuro digital de forma sustentável.

Conclusão

Em conclusão, a crescente demanda por energia, impulsionada pela revolução da Inteligência Artificial e pela expansão dos datacenters, nos colocou diante de um paradoxo inesperado. A necessidade de garantir uma fonte de energia estável e acessível está forçando um retorno temporário ao carvão, uma fonte que acreditávamos estar no passado. Isso cria um conflito direto entre o avanço tecnológico e as metas urgentes de sustentabilidade ambiental.

Fica evidente que a transição energética é mais complexa do que parece. Não basta apenas desejar um futuro mais verde; é preciso construir a infraestrutura para sustentá-lo. O caminho a seguir exige uma combinação de soluções: investir massivamente em energias renováveis, desenvolver tecnologias de armazenamento de energia em larga escala e, ao mesmo tempo, cobrar da indústria de tecnologia um compromisso com a eficiência. O desafio é encontrar o equilíbrio para alimentar nosso futuro digital sem comprometer o futuro do planeta.

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Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre GNU/Linux, Software Livre e Código Aberto, dedica-se a descomplicar o universo tecnológico para entusiastas e profissionais. Seu foco é em notícias, tutoriais e análises aprofundadas, promovendo o conhecimento e a liberdade digital no Brasil.