Atualização de agosto do AerynOS introduz ‘package sets’ e a chegada do KDE Plasma

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

AerynOS amadurece: package sets, lichen afiado e KDE Plasma!

AerynOS fechou agosto com seu terceiro lançamento do ano — não como mais um “snapshot”, mas como o resultado de um ciclo intenso e bem direcionado: construir as ferramentas centrais que vão permitir ao projeto escalar com segurança e previsibilidade. A mensagem por trás de cada item da atualização é clara: menos esforço remendando a superfície, mais investimento no alicerce da distribuição. E, sim, ainda é um projeto alfa — logo, não recomendado para produção —, mas já dá para ver o contorno de um sistema que está se levando muito a sério.

No plano “distro”, a base segue moderna e coesa: GNOME 48.4 e KDE Plasma 6.4.4 no topo, kernel Linux 6.15.11 e Mesa 25.2.1 no miolo gráfico. Um ajuste discreto, porém importante, corrigiu o PATH em logins de console e tornou a sessão de login totalmente “stateless”. Em caso de emergência, o sulogin agora habilita um shell de root em modo single-user para diagnosticar e salvar o boot — exatamente o tipo de ferramenta que você espera quando o foco é confiabilidade.

‘Package sets’: uma nova abordagem para o sistema base

Pense nos Package Sets como kits de ferramentas prontos para uso. Em vez de escolher centenas de pacotes individuais (e torcer para não esquecer nenhuma dependência), o AerynOS agora agrupa softwares em conjuntos temáticos — “base do sistema”, “desktop recomendado”, “minimal”, “full” — e instala tudo de forma consistente. O objetivo? Simplificar a vida do usuário, padronizar a experiência e reduzir o atrito na manutenção.

Tecnicamente, o que estreou aqui é uma primeira implementação de “pacotes virtuais”: os conjuntos funcionam como marcadores que o gerenciador moss entende para resolver dependências e garantir que o que você seleciona (ex.: “GNOME recomendado” ou “sway minimal”) se transforme na pilha correta, na versão certa. E tem um plano maior: este modelo é o degrau que antecede o trabalho de “system-model”, pensado para reproduzir exatamente um sistema instalado — algo precioso para quem empacota, testa e precisa comparar estados com precisão.

Instalador lichen fica mais inteligente (mas ainda para entusiastas)

O lichen foi ajustado para conversar com os Package Sets: a TUI guia a escolha do ambiente e aplica o conjunto curado correspondente (recomendado para DEs, minimal para sway), enquanto o moss faz a mágica de fechar as dependências. Como é um network installer, ele baixa sempre os pacotes mais recentes do repositório — mesmo que o live não esteja 100% atualizado, o sistema instalado sai “redondinho” sem exigir um mega update pós-instalação.

Também chegaram verificações de pré-requisitos com mensagens claras: conexão de rede obrigatória e particionamento prévio do disco. E aqui entra a decisão “contra-intuitiva”: manter, por ora, a exigência de particionamento manual. Por quê? Porque o projeto está em fase alfa e optou por um “freio de arrumação”: privilegiar o público mais técnico para reduzir a enxurrada de suporte de iniciantes e concentrar a equipe no que mais importa agora — consolidar a infraestrutura. É temporário. Quando a fundação estiver madura, a barreira cai.

Novidades nos desktops: a chegada do KDE Plasma

Pedido antigo da comunidade, KDE Plasma finalmente desembarcou no repositório — já empacotado na versão 6.4.4 e com ssdm e plasma-login-manager ofertados como gerenciadores de sessão. A equipe está confiante o suficiente para tornar o Plasma uma opção de instalação diretamente no ISO. É uma resposta direta ao feedback dos usuários e um sinal de que o AerynOS quer ser plural nas experiências de desktop.

O GNOME segue como padrão do live e foi atualizado para 48.4, exigindo pouca intervenção (o que, convenhamos, é um elogio em si). O Cosmic está no rótulo Alpha 7: dada a velocidade de desenvolvimento da System76, o plano é acelerar a cadência no AerynOS com atualizações quinzenais — o suficiente para acompanhar novidades sem sobrecarregar mantenedores. A equipe classifica o spin Cosmic como “Technical Preview”: promissor, mas em movimento constante (e com arestas).

O sway foi a 1.11, ganhou Waybar e pacotes para facilitar o ricing. Existe um package set “minimal”, mas a equipe segurou a oferta no ISO por enquanto — quer validar mais. E, para quem gosta de construir tudo na unha, há um conjunto console-only que boota no terminal puro e permite montar o sistema peça por peça (ou usar como base para novos DE/WM no próprio AerynOS).

Virtualização e habilitação de hardware: acelerar sem arriscar

Para hospedar VMs, o projeto adicionou virt-manager ao repositório — ferramenta essencial quando você testa configurações de Package Sets e cenários potencialmente disruptivos. Para rodar como convidado, o kernel ganhou mais hardware habilitado, incluindo Hyper-V (pedido explícito de usuários). O recado é pragmático: tornar o onboarding de colaboradores e testadores mais simples, sem exigir sacrificar uma máquina de produção. Repetindo o aviso de responsabilidade: alfa não é produção.

Ferramentas que amadurecem: moss e companhia

No coração da experiência, o gerenciador moss ganhou duas adições que têm cara de “qualidade de vida” para quem empacota e depura:

  • moss state diff: compara dois estados do sistema (por número) e lista diferenças de versões e pacotes adicionados/removidos. Perfeito para responder “o que mudou?” antes de um rollback.
  • moss search-file: procura a que pacote pertence um arquivo instalado em /usr. Útil, direto e um baita atalho na hora de entender o que veio de onde.

Na pista do que vem aí, o time retomou a integração do PackageKit com o moss para levar o ecossistema aos centros de software (GNOME Software, KDE Discover e Cosmic Store) e já hospeda metadados AppStream. A ideia é simples: terminal continua sendo o caminho recomendado para quem colabora, mas o usuário casual deve poder instalar .stone em UI gráfica com segurança.

Sob o capô, há mais obras de engenharia que soam “chatas”, porém decisivas: repositórios versionados (pré-requisito para evoluir tooling), structured logging, tratamento de erros mais didático e saída em JSON para facilitar automações e integração entre processos. Em paralelo, a documentação vem sendo reforçada — FAQs mais claras, guias de atualização, páginas que explicam diferenças filosóficas do projeto e, principalmente, trilhas de contribuição para quem quer empacotar ou escrever documentação.

Responsividade sob carga: novo scheduler por padrão

Um detalhe que diz muito sobre prioridades: o AerynOS incorporou scx-scheds e definiu scx_flash como escalonador padrão nos ISOs novos. A meta é manter o sistema responsivo enquanto tarefas pesadas (como builds de pacotes) rodam ao fundo — previsibilidade de desempenho e justiça entre tarefas, na prática. Importante: instalações existentes não migram automaticamente; se quiser o mesmo comportamento, é preciso instalar scx-scheds manualmente.

Por que isso importa agora

Se você acompanha o AerynOS, a história deste mês não é “olha quantos pacotes atualizados” — é “olha como a casa está ficando sólida”. Package Sets removem fricção na instalação e criam um caminho claro para reprodutibilidade. O lichen se torna mais assertivo e honesto sobre pré-requisitos (sem mascarar a fase alfa). O ecossistema de desktops cresce com KDE Plasma, enquanto Cosmic e sway ganham trilhas bem definidas. As ferramentas (moss, PackageKit, AppStream) evoluem para reduzir custos operacionais. E a camada de virtualização/hardware ajuda mais gente a contribuir sem medo.

A mensagem final fica no mesmo tom que abriu este texto: a equipe está priorizando infraestrutura para escalar. É um tipo de disciplina que costuma separar projetos promissores de distribuições que realmente vingam.

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