Em um esforço que demonstra a paixão da comunidade open-source em reviver hardware antigo, o Alcatel Pop C7 (OT-7041D), um smartphone de 2014, está recebendo suporte inicial no kernel Linux mainline. Uma nova série de patches adiciona o suporte básico para a placa de codinome “yarisxl”, baseada no MediaTek MT6582 — um passo simbólico para a comunidade que há anos batalha para libertar dispositivos MediaTek das amarras de kernels proprietários e desatualizados.
Na prática, “suporte inicial” significa que o Pop C7 já consegue dar boot com um kernel moderno em um initramfs, com UART (serial console) funcional para debugging e uma tela ativa via simple-framebuffer
(aproveitando a configuração que o bootloader original deixa pronta). É como fazer um carro antigo ligar com motor novo: ainda faltam os acessórios, mas o coração já bate. Para quem acompanha retrotech e hacking de smartphones, isso abre um caminho real para usos criativos — de postmarketOS a provas de conceito de IoT — em um aparelho que muita gente ainda tem esquecido na gaveta.
O que mudou sob o capô

Importante: não foi “só” criar um novo Device Tree. A série de patches começa preparando o terreno no DTSI do SoC MT6582 — reorganizando nós, adicionando compatibles que faltavam (como para timer e UARTs), removendo redundâncias no root node e, crucialmente, habilitando o bring-up SMP para botar os quatro Cortex-A7 para trabalhar sob o mainline. Só depois disso chega o DTS específico da placa “yarisxl”, com memória, reserved-memory e o bloco chosen
(onde entram stdout-path
para a serial e o simple-framebuffer
). Em termos de manutenção, é o tipo de cuidado que evita “dívida técnica” e facilita Linux Mediatek MT6582 a evoluir com menos fricção nas próximas rodadas.

Reconhecimento e próximos passos
O envio foi assinado por Cristian Cozzolino e recebeu uma recepção calorosa na lista: AngeloGioacchino Del Regno (maintainer MediaTek) elogiou o cleanup e deixou um recado direto: simple-framebuffer
é um bom começo — agora é mirar systimer, clocks, SPI, I²C, APDMA, componentes do mediatek-drm, etc. (o clássico “vamos em frente!” que move o upstream). Em resumo: a porta está aberta para que mais colaboradores cheguem e ajudem a trocar as rodas com o carro andando.
Por que isso importa para usuários e devs
Para usuários: poder bootar mainline é o divisor de águas entre um projeto de custom ROM preso ao passado e um aparelho com futuro — security fixes, novidades do kernel e drivers in-tree significam menos gambiarra e mais longevidade. Para devs: um alvo acessível, barato e abundante como o Pop C7 vira laboratório perfeito para aprender Device Tree, drivers MediaTek e o ciclo de review do mainline — com retorno rápido e visível.
Como toda estreia, faltam peças (gráficos completos com mediatek-drm, power management moderno, áudio, modem, etc.). Mas a fundação está lá — boot, UART e framebuffer — e o momento é ideal para quem sempre quis contribuir: testes, bisects, pequenos fixes no DTS/DTSI e, claro, patches de drivers são bem-vindos. A depender do ritmo de reviews, é plausível que essa base desembarque na janela do Linux 6.18, com incrementos seguindo nas releases subsequentes.
Leituras e referência: a série de patches com todos os detalhes técnicos está na linux-mediat ek (cover letter e diffstat completos). Se você tem um Pop C7 e quer acompanhar a cena mainline, a página do postmarketOS para o yarisxl traz histórico e dicas práticas da comunidade.