Apple corrige bug que afetava o desempenho do Electron

Análise técnica da correção da Apple para o bug que afetou o desempenho do Electron no macOS.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

O desempenho do Electron sempre foi motivo de debate entre usuários e desenvolvedores, especialmente em plataformas como macOS e Linux onde o consumo elevado de memória e CPU costuma gerar frustração. A situação ficou ainda mais evidente quando aplicativos amplamente usados como VS Code, Slack e Discord começaram a apresentar lentidão, quedas de FPS ao rolar janelas e travamentos ocasionais no macOS Tahoe. O problema era tão notável que muitos usuários chegaram a culpar diretamente o framework. Entretanto, agora sabemos que a causa era mais profunda e estava relacionada ao próprio sistema operacional da Apple.

Com a chegada do macOS Tahoe 26.2, a Apple finalmente corrigiu o bug que degradava o desempenho de aplicativos Electron e, surpreendentemente, afetava todo o sistema sempre que uma janela Electron estivesse visível. Mais do que uma simples correção, este episódio abre espaço para refletir sobre o papel do Electron no ecossistema de desenvolvimento multiplataforma, sobre os riscos do uso de APIs privadas e sobre o impacto desse tipo de fragilidade para comunidades como a de Linux e software livre, onde o framework é amplamente utilizado.

O objetivo deste artigo é explicar o que realmente causou o problema, por que a correção foi tão significativa e como esse caso se conecta com a discussão sobre arquitetura de software, políticas de APIs e o futuro das ferramentas multiplataforma.

Mac Tahoe
Imagem: 9to5Mac

A origem do bug: máscara de canto e API privada do AppKit

A raiz do problema estava no que deveria ser apenas um detalhe visual: a máscara de canto usada pelas janelas dos aplicativos baseados em Electron. Na transição para o macOS Tahoe, a Apple alterou a implementação interna dessa máscara no AppKit, o framework responsável pelos componentes gráficos do macOS.

A nova implementação entrou em conflito com um comportamento utilizado pelo Electron que dependia indiretamente de uma API privada do AppKit. Isso criou um ciclo de renderização extremamente custoso, levando a uso elevado de GPU, queda de FPS e impacto direto no compositor gráfico do sistema. A parte mais preocupante é que o problema era generalizado. Bastava uma única janela Electron estar visível, mesmo minimizada em segundo plano ou parcialmente oculta, para que todo o macOS ficasse mais lento. Isso significa que o problema não era isolado ao aplicativo, mas afetava desde animações do sistema até outras janelas que nada tinham a ver com Electron.

Usuários relataram lentidão em Mission Control, travamentos ao alternar entre desktops e queda de desempenho até mesmo em softwares profissionais. Com isso, o bug se tornou um dos casos mais incomuns envolvendo o ecossistema Electron e uma das falhas mais amplas já vistas no macOS moderno.

A intervenção da Apple e o dilema das APIs privadas

Ao reconhecer a gravidade do problema, a Apple optou por agir rapidamente e corrigiu o comportamento dentro do próprio macOS. A correção veio no macOS Tahoe 26.2, eliminando a incompatibilidade e restaurando o desempenho normal dos aplicativos. A decisão foi importante porque, embora o Electron não estivesse usando diretamente uma API privada, a interação indireta com ela foi suficiente para desencadear o bug. Esse episódio reacende um debate essencial: o uso de APIs privadas e a falta de documentação sobre partes internas do sistema sempre representaram riscos para qualquer framework multiplataforma.

A Apple desencoraja o uso de APIs privadas por uma razão clara. Elas não têm garantia de estabilidade entre versões, podem mudar sem aviso, podem desaparecer completamente e não seguem contratos formais de funcionamento. Esse caso ilustra exatamente por que sistemas operacionais modernos insistem tanto na adoção de APIs públicas, bem documentadas e estáveis. Frameworks como Electron tentam abstrair diferenças entre plataformas, mas quando dependem de comportamentos não garantidos, tornam-se vulneráveis a quebras silenciosas como essa.

O problema do código fechado vs. a filosofia do código aberto

No universo Linux e software livre, uma situação como essa raramente passa despercebida. Projetos abertos tendem a evitar APIs privadas justamente porque compreendem a importância da auditabilidade e da estabilidade. Quando o código é aberto, problemas estruturais podem ser analisados diretamente pela comunidade. Já no macOS, onde partes do sistema são fechadas e não auditáveis, é impossível prever como um componente interno se comportará após uma alteração arquitetural. Isso cria um contraste claro entre modelos de desenvolvimento.

Ecosistemas baseados em software livre valorizam padrões abertos, documentação pública e APIs transparentes para evitar exatamente esse tipo de dependência oculta. O caso do macOS Tahoe 26.2 se torna, portanto, um lembrete do valor estratégico do software aberto para sustentabilidade de longo prazo.

O Electron no banco dos réus: desempenho e futuro multiplataforma

Mesmo que o bug tenha sido causado por uma mudança no macOS, o episódio acabou reforçando críticas recorrentes ao próprio framework Electron. Ele é frequentemente acusado de consumir recursos em excesso, replicar instâncias completas do Chromium para cada aplicativo e gerar sobrecarga gráfica, especialmente em plataformas como macOS e Linux. O caso recente mostra que, embora o Electron seja poderoso e prático, ele também é altamente sensível a mudanças no sistema operacional. Sua dependência de componentes internos, combinada com seu modelo de renderização multiprocessos, pode transformá-lo em um amplificador de problemas quando algo sai do esperado. Isso levanta uma questão importante para o futuro do desenvolvimento multiplataforma.

A comunidade já trabalha em alternativas e otimizações como Electron Lite, Tauri, Flutter Desktop e abordagens nativas mais econômicas, mas nenhuma delas alcançou o alcance, flexibilidade e adoção massiva do Electron. Em plataformas abertas como Linux, o foco atual está em melhorar o desempenho com otimizações de renderização, redução de overhead e adoção de APIs mais eficientes para composições gráficas. O episódio com o macOS Tahoe reflete que, independentemente do sistema operacional, o futuro do desenvolvimento multiplataforma exige frameworks mais leves, mais eficientes e menos dependentes de comportamentos internos de plataformas proprietárias.

Conclusão: o que a correção significa para usuários e desenvolvedores

A correção do macOS Tahoe 26.2 encerra um dos bugs mais incômodos já associados a aplicativos Electron no Mac e devolve aos usuários a experiência fluida esperada. Para desenvolvedores, o episódio reforça lições importantes. Primeiro, não confiar em APIs privadas ou comportamentos não documentados nunca foi tão crucial. Segundo, problemas complexos de desempenho podem surgir de lugares inesperados e afetar até mesmo frameworks populares e maduros.

Por fim, o caso nos convida a debater o futuro dos frameworks multiplataforma, a importância da eficiência energética, do uso consciente de recursos e de arquiteturas transparentes, especialmente no mundo Linux e software livre. E você? Já passou por problemas de desempenho com o framework Electron no Linux, Windows ou macOS? Este caso reforça para você a importância das APIs públicas em sistemas operacionais? Compartilhe suas experiências e participe da discussão sobre o futuro da computação multiplataforma.

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