Apple e Epic Games entram em conflito no Japão e Fortnite segue fora do iOS

Conflito entre Apple e Epic Games no Japão expõe limites da nova lei e mantém Fortnite fora do iPhone.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A promessa de abertura do ecossistema da Apple no Japão parecia marcar o fim de uma era de restrições rígidas, mas rapidamente se transformou em um novo campo de batalha regulatório. O conflito entre Epic Games e Apple no Japão ganhou força em 2025, quando a desenvolvedora de Fortnite acusou a empresa de Cupertino de impor taxas abusivas e criar barreiras econômicas que inviabilizam a concorrência.

No centro da disputa estão as mudanças exigidas pela nova Lei de Concorrência de Software Móvel (MSCA) e a reação contundente de Tim Sweeney, CEO da Epic Games, que classificou a implementação da Apple como uma “farsa”. Apesar de a empresa afirmar que está cumprindo a legislação japonesa, a Epic sustenta que o controle sobre o iOS continua praticamente intacto, o que impede o retorno do Fortnite aos iPhones no mercado japonês.

Esse embate vai além de um único jogo. Ele reacende o debate global sobre segurança, concorrência e poder de mercado em plataformas digitais, colocando reguladores, desenvolvedores e usuários no centro da discussão.

O que diz a nova Lei de Concorrência de Software Móvel do Japão

A Lei de Concorrência de Software Móvel, conhecida como MSCA, foi criada para limitar práticas consideradas anticompetitivas por grandes plataformas móveis. No caso da Apple, a legislação obriga a empresa a permitir a existência de lojas de aplicativos de terceiros no iOS, reduzindo a dependência exclusiva da App Store.

Entretanto, o modelo japonês é mais conservador do que o adotado na União Europeia. A lei não exige o sideloading direto via navegador ou download pela web. Em vez disso, a abertura ocorre apenas por meio de lojas alternativas, que ainda precisam seguir regras técnicas, contratuais e financeiras definidas pela própria Apple.

Para críticos, essa diferença é fundamental. Embora haja uma aparência de abertura, a Apple mantém o papel de intermediária obrigatória, preservando sua influência sobre distribuição, pagamentos e experiência do usuário. É justamente esse ponto que alimenta o conflito com a Epic Games no Japão.

As taxas da discórdia: 21% e 15% que inviabilizam a concorrência

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O principal argumento da Epic Games está nas taxas cobradas pela Apple mesmo fora da App Store tradicional. Segundo a empresa, desenvolvedores que utilizarem lojas alternativas precisam pagar uma comissão de 21% sobre transações digitais. Em alguns casos, esse percentual pode cair para 15%, mas apenas para quem se enquadra em critérios específicos de faturamento.

Na prática, a Epic afirma que esses valores tornam qualquer modelo alternativo economicamente inviável. Quando somados aos custos de processamento de pagamento, infraestrutura, suporte ao usuário e conformidade técnica, a margem final se aproxima ou até supera a da App Store. Para Tim Sweeney, isso demonstra que a Apple não está abrindo mão de seu poder econômico, apenas reposicionando suas cobranças.

A Apple, por sua vez, defende que essas taxas refletem o custo de manter o iOS como uma plataforma segura, estável e confiável. A empresa argumenta que desenvolvedores continuam se beneficiando do ecossistema, mesmo fora da App Store, e que isso justifica a cobrança.

Telas de aviso: segurança ou tática de medo?

Outro ponto sensível do embate envolve as telas de aviso exibidas pelo iOS ao instalar aplicativos por lojas de terceiros. Esses alertas destacam riscos de segurança, privacidade e possível exposição a malware, usando linguagem direta e visual chamativo.

A Apple afirma que esse mecanismo é essencial para proteger usuários e garantir transparência. Segundo a empresa, informar claramente os riscos é uma obrigação com o consumidor. Já a Epic Games interpreta essas telas como uma estratégia de dissuasão, que cria medo e desestimula o uso de alternativas à App Store.

Esse tipo de aviso já foi alvo de críticas em outras regiões e agora se tornou um elemento central do debate no Japão, levantando dúvidas sobre onde termina a proteção legítima e onde começa a manipulação da percepção do usuário.

O impacto para os jogadores: o adeus temporário ao Fortnite

Para os jogadores japoneses, o resultado desse conflito é direto e frustrante. Fortnite continua indisponível no iOS, mesmo com a nova legislação em vigor. Tim Sweeney deixou claro que a Epic Games Store não será lançada no Japão enquanto as condições impostas pela Apple permanecerem inalteradas.

Isso significa que usuários de iPhone seguem excluídos de um dos jogos mais populares do mundo, enquanto jogadores de Android e consoles não enfrentam a mesma limitação. O caso evidencia como disputas regulatórias e comerciais acabam impactando diretamente o consumidor final.

Além disso, o cenário japonês levanta preocupações globais. Se taxas elevadas e barreiras indiretas forem aceitas pelos reguladores, outras jurisdições podem seguir o mesmo caminho, esvaziando o efeito prático de leis antitruste.

Conclusão: a batalha antitruste global ganha novos capítulos

O conflito entre Apple e Epic Games no Japão mostra que a simples criação de leis não garante, por si só, um mercado mais competitivo. A MSCA representa um avanço importante, mas sua aplicação prática ainda levanta questionamentos sobre eficácia e intenção.

Agora, a expectativa recai sobre a Comissão de Comércio Justo do Japão, que pode investigar se as taxas de 21% e 15%, além das telas de aviso, estão alinhadas com o espírito da lei. O desfecho desse caso pode influenciar decisões regulatórias em outros países e redefinir o equilíbrio entre segurança da plataforma e concorrência justa.

Enquanto isso, o impasse mantém Fortnite fora do iOS japonês e reforça um debate que está longe do fim. Na sua opinião, a Apple age corretamente ao priorizar segurança e controle, ou a Epic Games tem razão ao exigir mais liberdade para desenvolvedores e usuários? Deixe seu comentário e participe da discussão.

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