Inovação que floresce no Brejo Paraibano: como Arduino e Raspberry Pi transformam vidas no interior da Paraíba

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Alunos da EMEF José Menino de Oliveira, em Solânea, quebram barreiras tecnológicas e conquistam medalhas com a ajuda de professores e da comunidade, provando o poder da educação mão na massa.

No coração do Brejo Paraibano, na cidade de Solânea, uma revolução silenciosa e tecnológica está em pleno vapor. Longe dos grandes centros urbanos, a EMEF José Menino de Oliveira e a EMEFM Celso Cirne estão se destacando ao introduzir tecnologia de ponta no aprendizado de seus alunos, utilizando ferramentas como Arduino e Raspberry Pi para criar projetos inovadores. Essa iniciativa, impulsionada por professores engajados e com o apoio de bolsistas do CNPq, já levou estudantes a conquistar medalhas em eventos importantes, evidenciando o potencial transformador da educação em tecnologia e robótica. Para esta matéria conversamos com o professor Alan Oliveira, que informou ao SU sobre os detalhes do uso da robótica dentro da escola.

Segundo o professor Alan, o projeto nasceu de uma visão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus III, através da iniciativa do professor Lauro Xavier. O objetivo era capacitar graduandos e, principalmente, professores da região para que pudessem levar o conhecimento em robótica educacional diretamente para suas salas de aula. A necessidade era clara: muitos colégios já possuíam kits de robótica, mas eles permaneciam inutilizados por falta de formação adequada dos educadores.

Desafios superados e a metodologia que inspira

Introduzir tecnologia de ponta em escolas do interior, como a EMEF José Menino de Oliveira e a EMEFM Celso Cirne no Brejo Paraibano, não é tarefa fácil. Os desafios iniciais incluíram a escassez de material, principalmente kits de robótica mais atualizados, a falta de uma internet de qualidade e a ausência de salas destinadas para essas atividades. No entanto, a visão do projeto foi amplamente abraçada por discentes, pais e pela gestão escolar, que viram o projeto com bons olhos e o ajudaram a melhorar a cada ano. No início, escolas estaduais já dispunham de alguns kits, enquanto alunos de municípios vizinhos utilizavam os equipamentos da UFPB.

A metodologia de ensino é focada na experiência prática. As aulas de robótica são concebidas para serem um preparativo contínuo para os grandes eventos e competições, pois as aulas já são voltadas para estes eventos. Isso significa que os estudantes estão constantemente envolvidos em projetos “mão na massa”, transformando a teoria em aprendizado real e interativo.

O projeto atende alunos do ensino fundamental ao ensino médio, com uma faixa etária média entre 11 e 17 anos. A complexidade dos projetos é cuidadosamente adaptada ao nível de conhecimento e ao ano de estudo de cada aluno. Hoje, há um professor de cada escola que participa ativamente do projeto e há a possibilidade de incluir todas num processo interdisciplinar.

Projetos que fazem a diferença

Um dos projetos que mais se destacou em 2023 foi um joguinho interativo que ensinava sobre a coleta seletiva. Através dele, os discentes aprendiam sobre a coleta de uma forma interativa e divertida. Esses projetos demonstram como o Arduino e o Raspberry Pi são ferramentas poderosas para tornar conceitos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) mais práticos e tangíveis, indo além do abstrato da teoria. É essencial hoje em dia para preparar os alunos para os desafios do mundo contemporâneo, trabalhando o pensamento crítico, resolução de problemas, colaboração, comunicação digital, criatividade e inovação.

O caminho das medalhas: dedicação e apoio comunitário

Mostra Nacional de Robótica – São Paulo 2022 – EMEFM Celso Cirne – Imagem: Professor Alan Oliveira

A paixão pela robótica levou os alunos da EMEFM Celso Cirne a palcos nacionais. Em 2022, um grupo de estudantes e professores embarcou para São Paulo para a Mostra Nacional de Robótica (MNR), o maior evento do gênero na América Latina. Lá, eles apresentaram seus projetos de Robótica Educacional. A jornada se repetiu em 2023, com duas escolas da mesma região, a EMEFM Celso Cirne e EMEF José Menino de Oliveira com o evento em Salvador, Bahia, e em 2024, em Goiânia, Goiás. O próximo grande destino em 2025 é Vitória, no Espírito Santo, a “cidade da inovação”.

Estudante, professores e discentes de Solânea e Bananeiras em Salvador – Bahia para Mostra Nacional de Robótica – EMEFM Celso Cirne e EMEF José Menino de Oliveira – Imagem: Professor Alan Oliveira

As conquistas são notáveis: a escola já participou da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), e ano passado (2024), dois discentes ganharam medalhas. Além disso, em 2023, um dos projetos apresentados nas Mostras Nacionais de Robótica foi contemplado com uma bolsa para melhoria do projeto.

Mostra Nacional de Robótica – Goiânia – Goiás- 2024 – EMEFM Celso Cirne e EMEF José Menino de Oliveira – Imagem: Professor Alan Oliveira

A sensação de competir e, principalmente, de conquistar medalhas, é um poderoso motor de motivação. O professor relata que essas competições “aguçam a vontade de estudar e se empenhar cada vez mais nos projetos”.

Um dos momentos mais emocionantes e inusitados, que demonstra a força da comunidade de Solânea e do Brejo Paraibano, ocorreu em 2022 e 2023. Conseguiram levar muitos alunos e professores através da venda de rifas e apoio do comércio local. “Foi muito bonito de ver muita gente de mãos dadas em prol de uma educação de qualidade”, afirma o professor. A sociedade vem abraçando o projeto como um todo, e o poder público municipal de Solânea também contribuiu desde sempre e o espaço chegou para fortalecer o apoio em 2024.

Transformando vidas e o futuro do Brejo Paraibano

A experiência com tecnologia vai muito além dos muros da escola. Ao criar projetos com Arduino e Raspberry Pi, os alunos aprendem a resolver problemas do cotidiano por conta própria, como automatizar tarefas domésticas ou construir ferramentas úteis. Desenvolvem confiança para aprender e experimentar novas tecnologias sozinhos, fora do ambiente escolar.

O impacto na vida dos estudantes é profundo. Com o projeto de aulas de robótica na EMEF José Menino de Oliveira e na EMEFM Celso Cirne, os discentes começaram a ter acesso a um mundo que antes estava muito distante para eles e hoje está presente em seu cotidiano. Hoje, eles percebem que há muitas possibilidades a serem exploradas. O professor observa que “Vemos muitos discentes empolgados e estimulados para produzir e aprender cada vez mais”. Essa transformação é a verdadeira medalha de ouro do projeto.

O futuro do projeto é ambicioso: o plano maior é poder estendê-lo para um número maior de discentes e que possam ter mais formações para professores, assim, o trabalho interdisciplinar pode se fortalecer cada vez mais.

Para outras escolas do interior que hesitam em iniciar um projeto similar, a mensagem é clara e inspiradora: “A tecnologia não é mais o futuro, mas o presente e os discentes amam quando ela está presente nas aulas”. É fundamental buscar formações e projetos que disponibilizam bolsas para discentes e professores, pois isso serve de incentivo para engajar cada vez mais neste mundo da robótica educacional. A história da EMEF José Menino de Oliveira e da EMEFM Celso Cirne em Solânea, no Brejo Paraibano, é a prova de que, com paixão, colaboração e visão, a inovação pode florescer em qualquer lugar.

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