A ironia não poderia ser maior: uma empresa especializada em mitigação de ataques DDoS foi alvo de um dos maiores ataques de negação de serviço já registrados. A FastNetMon, reconhecida por fornecer soluções avançadas de proteção contra ameaças digitais, relatou a detecção e contenção de um ataque que atingiu a impressionante marca de 1,5 bilhão de pacotes por segundo (Bpps).
- O que torna este ataque DDoS tão significativo?
- Entendendo a métrica: Pacotes por segundo (Bpps) vs. bits por segundo (Tbps)
- A anatomia do ataque: Inundação UDP e o exército de dispositivos zumbis
- A ironia do alvo: Quando o caçador vira a caça
- Um problema de todos: A chamada por ação no nível do ISP
- Conclusão: A nova fronteira dos mega-ataques DDoS
Diferente de outros incidentes recentes — como o ataque em terabits por segundo (Tbps) reportado pela Cloudflare — este episódio mostra outra face igualmente devastadora dos ataques: a sobrecarga de recursos computacionais e de rede, causada pela enxurrada de pacotes enviados por uma botnet de dispositivos IoT e roteadores MikroTik comprometidos.
Neste artigo, vamos além da notícia. Explicaremos o que esses números significam, como funcionam os diferentes tipos de ataques de negação de serviço e por que a escalada dessas ofensivas representa um alerta urgente para toda a internet.

O que torna este ataque DDoS tão significativo?
Entendendo a métrica: Pacotes por segundo (Bpps) vs. bits por segundo (Tbps)
Quando se fala em ataque DDoS, é comum pensar em sobrecarga de largura de banda, medida em terabits por segundo (Tbps). Nesse tipo de ataque volumétrico, o objetivo é saturar a capacidade de tráfego da rede, impedindo que usuários legítimos tenham acesso.
Porém, há outra métrica crucial: pacotes por segundo (Bpps). Diferente da ênfase na largura de banda, o Bpps mede a quantidade de pacotes enviados para o alvo, cada um exigindo processamento individual por parte de servidores, roteadores e firewalls.
Um ataque de 1,5 Bpps não necessariamente consome a largura de banda máxima, mas pode paralisar a infraestrutura ao exigir que milhões de verificações de pacotes ocorram por segundo. Essa pressão sobre CPU e memória dos dispositivos de rede é suficiente para causar lentidão, quedas de conexão e até travamentos completos.
A anatomia do ataque: Inundação UDP e o exército de dispositivos zumbis
O ataque mitigado pela FastNetMon utilizou uma técnica clássica: a inundação UDP (UDP flood). Nesse tipo de ofensiva, milhares de dispositivos enviam pacotes aleatórios utilizando o protocolo UDP, que não requer resposta de conexão, tornando o ataque extremamente rápido e difícil de filtrar.
Os principais responsáveis pela força bruta desse ataque foram roteadores MikroTik mal configurados e dispositivos IoT inseguros — como câmeras de vigilância, smart TVs e outros aparelhos conectados à internet.
Esses equipamentos são frequentemente alvos de malwares que formam botnets, explorando falhas de segurança ou senhas padrão. Uma vez comprometidos, tornam-se “zumbis”, obedecendo cegamente às ordens de criminosos digitais que os utilizam para lançar ataques em escala global.
A ironia do alvo: Quando o caçador vira a caça
A FastNetMon não é uma empresa qualquer. Ela oferece serviços de DDoS scrubbing, ou seja, a filtragem e mitigação de tráfego malicioso em tempo real para proteger clientes corporativos e provedores de internet.
O fato de um ataque dessa magnitude ser direcionado a uma empresa especialista em defesa mostra tanto a ousadia dos atacantes quanto a complexidade crescente dessas ofensivas.
Apesar da agressividade do ataque, a FastNetMon conseguiu mitigar a ameaça em tempo real, demonstrando a importância de sistemas automatizados capazes de detectar e neutralizar picos abruptos de tráfego malicioso. Esse episódio reforça que até os gigantes da defesa digital estão constantemente sob prova
Um problema de todos: A chamada por ação no nível do ISP
Em comunicado, Pavel Odintsov, fundador da FastNetMon, destacou que apenas a ação coordenada em nível de Provedor de Serviço de Internet (ISP) pode conter definitivamente essa onda de ataques.
Um dos mecanismos mais importantes é o egress filtering, técnica que impede que pacotes maliciosos saiam da rede de origem. Se implementada corretamente, ela poderia reduzir drasticamente o número de dispositivos que participam de botnets.
Contudo, muitos provedores ainda relutam em adotar tais práticas, seja por custo, seja por falta de regulamentação. Esse vácuo de responsabilidade facilita a proliferação de ataques e coloca a infraestrutura global em risco.
Conclusão: A nova fronteira dos mega-ataques DDoS
O ataque de 1,5 Bpps contra a FastNetMon é mais do que um evento isolado: é um alerta para a crescente militarização de dispositivos IoT e roteadores vulneráveis.
Com ataques cada vez mais sofisticados, a segurança digital deixa de ser uma preocupação exclusiva de empresas especializadas e passa a ser uma responsabilidade compartilhada. Usuários devem atualizar e proteger seus dispositivos, administradores de rede precisam auditar seus equipamentos, e os provedores de internet têm de adotar medidas firmes para bloquear tráfego malicioso em suas origens.
Se a internet é um ecossistema interconectado, basta um elo fraco para abrir espaço a ofensivas capazes de impactar milhões. A escalada dos ataques DDoS mostra que a próxima fronteira da cibersegurança não será vencida apenas por tecnologia, mas também por colaboração global.