Botnet ShadowV2: como se proteger do novo malware Mirai

Nova botnet Mirai, ShadowV2, ataca D-Link e TP-Link com foco em dispositivos EoL.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A botnet ShadowV2 está emergindo como uma das ameaças mais preocupantes do momento na segurança de dispositivos IoT. Detectada pela Fortinet durante a recente interrupção da AWS, a nova operação criminosa aproveitou o caos momentâneo dos serviços em nuvem para testar ataques e expandir seu alcance. O episódio revelou uma evolução agressiva do ecossistema Mirai, agora direcionada principalmente a equipamentos em fim de vida útil (EoL), como roteadores e câmeras antigas, que permanecem amplamente expostos na internet.

Este artigo explica o que é a ShadowV2, como ela opera, quais dispositivos estão na mira e traz um guia prático e acessível para proteger sua rede doméstica e corporativa. A ameaça das botnets IoT nunca foi tão relevante, especialmente porque milhares de equipamentos abandonados pelos fabricantes continuam ativos, vulneráveis e conectados, tornando-se alvos perfeitos para esse tipo de ataque.

O que é ShadowV2 e como ele se conecta ao Mirai

A ShadowV2 é uma nova variante da família Mirai, um dos malwares mais conhecidos e persistentes da história da segurança cibernética. Assim como o Mirai original, o malware ShadowV2 se especializa em recrutar dispositivos IoT vulneráveis e transformá-los em nós dentro de uma botnet global capaz de lançar ataques de DDoS massivos. Sua arquitetura lembra a estrutura observada em ameaças como LZRD, mantendo um design modular que facilita a adição de novos exploits e funcionalidades.

A infraestrutura de comando e controle (C2) é distribuída e resiliente, permitindo que operadores atualizem o malware, dispararem ataques coordenados e controlem milhares de dispositivos sequestrados com rapidez. Entre as capacidades de ataque, a ShadowV2 realiza inundações UDP, TCP e HTTP, permitindo sobrecarregar servidores, APIs, aplicações ou serviços online com tráfego malicioso. Isso torna a botnet versátil e perigosa tanto para alvos corporativos quanto para serviços críticos de internet.

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Imagem: TechLog260

As vulnerabilidades e os alvos: D-Link, TP-Link e o perigo do EoL

A exploração de CVEs em dispositivos EoL

O avanço da botnet ShadowV2 está diretamente ligado ao seu foco em explorar dispositivos IoT antigos, especialmente modelos da D-Link que já atingiram o status de fim de vida útil (EoL). As falhas CVE-2024-10914 e CVE-2024-10915, ambas críticas, afetam roteadores D-Link que não receberão patches, já que o fabricante declarou oficialmente que esses produtos não terão mais suporte.

O termo EoL significa que o equipamento deixou de receber atualizações de segurança, correções de bugs e melhorias de firmware, tornando-se permanentemente vulnerável. Isso transforma esses aparelhos em alvos fáceis para varreduras automatizadas e exploração massiva, permitindo que botnets como a ShadowV2 ampliem rapidamente sua infraestrutura. A falta de atualização dificulta qualquer defesa nativa e aumenta o risco de exposição de redes domésticas, pequenas empresas e até ISPs que ainda usam equipamentos antigos.

Outros dispositivos e a abrangência global do ataque

Embora os roteadores D-Link sejam o foco inicial do malware ShadowV2, a ameaça não se limita a uma única marca. Pesquisadores identificaram tentativas de exploração envolvendo dispositivos TP-Link, DVRs antigos, servidores NAS desatualizados e câmeras IP de baixa manutenção. Em muitos casos, esses aparelhos seguem conectados à internet sem monitoramento, criando uma base enorme e vulnerável para expansão da botnet.

A abrangência global da operação atinge redes residenciais, empresas, provedores regionais de internet e até organizações governamentais. Setores de telecomunicações e infraestruturas críticas tornam-se especialmente sensíveis quando equipamentos descontinuados permanecem online, representando riscos que vão além do sequestro de dispositivos, podendo resultar em interrupções ou falhas em serviços importantes.

Como se proteger do ShadowV2 e de futuras ameaças Mirai

Verifique seus dispositivos e o firmware

O primeiro passo para se proteger contra o malware ShadowV2 é identificar quais dispositivos podem estar vulneráveis. Verifique os roteadores, câmeras, switches, hubs e qualquer outro equipamento IoT presente na rede, prestando atenção ao modelo e ao status de atualização. Acesse o painel de administração e confirme qual versão de firmware está instalada.

Depois, compare com o site do fabricante para saber se o dispositivo ainda recebe suporte ou se foi classificado como EoL. Caso o fabricante tenha interrompido as atualizações, o ideal é programar a substituição do equipamento o quanto antes. Enquanto isso não acontece, recomenda-se desabilitar serviços expostos na internet, como UPnP, administração remota e portas abertas desnecessárias. Essas pequenas ações reduzem significativamente a superfície de ataque da botnet.

Segmentação de rede (a importância de uma rede convidada)

Uma das estratégias mais eficazes para reduzir o impacto de qualquer invasão é adotar a segmentação de rede. Ao separar dispositivos IoT em uma rede convidada, você isola aparelhos vulneráveis do restante dos equipamentos principais, como computadores de trabalho, notebooks corporativos e servidores internos. Dessa forma, mesmo que um dispositivo seja comprometido pela botnet ShadowV2, ele não terá acesso direto ao restante da rede.

Quase todos os roteadores modernos oferecem suporte a múltiplas redes ou VLANs simples. Configure sua rede IoT com restrições de acesso e limite a comunicação entre dispositivos. Essa prática é amplamente recomendada por especialistas e reduz drasticamente o risco de propagação lateral de malware dentro de estruturas domésticas e empresariais.

Conclusão/impacto: a lição do ShadowV2

A ShadowV2 deixa claro que o ecossistema Mirai está longe de desaparecer. A cada ano surgem novas variantes mais agressivas, com técnicas aprimoradas de explosão e maior foco em dispositivos abandonados pelos fabricantes. O risco trazido por equipamentos EoL se tornou uma ameaça real para usuários comuns e organizações, reforçando a necessidade de atenção contínua com dispositivos IoT.

A principal lição é que segurança não termina na compra do equipamento. É fundamental manter uma rotina de verificação de firmware, revisar permissões, eliminar exposição desnecessária e substituir aparelhos que não recebem mais suporte. Quanto mais rápido esse ciclo de manutenção se torna um hábito, menor é a chance de que botnets como o malware ShadowV2 encontrem oportunidades para se expandir.

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