CarPlay Ultra: Por que BMW, Toyota e outras recusam o sistema Apple?

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Entenda a briga entre Apple e montadoras pelo controle do painel do seu próximo carro.

O CarPlay Ultra, nova geração do sistema automotivo da Apple, foi apresentado com a promessa de transformar completamente a experiência dentro do carro. Diferente da versão anterior, que funcionava como um “espelhamento” do iPhone na central multimídia, o novo recurso se propõe a assumir controle total dos painéis de instrumentos, climatização, velocímetro, sistema de entretenimento e muito mais. Em outras palavras, não se trata mais de um simples aplicativo, mas de uma interface completa que redesenha o cockpit digital dos veículos.

No entanto, apesar da expectativa criada pela Apple, a realidade do mercado mostrou um cenário inesperado: uma lista crescente de grandes montadoras, incluindo BMW, Toyota, Volkswagen e Mercedes-Benz, está rejeitando a adoção do CarPlay Ultra. Enquanto algumas empresas menores ou mais abertas à parceria tecnológica abraçaram a novidade, os gigantes tradicionais do setor automotivo parecem estar traçando outro caminho.

Essa não é apenas uma disputa sobre qual software roda no carro: trata-se de uma batalha estratégica pelo controle da experiência do motorista, pela posse dos dados gerados pelos veículos e pelo futuro da mobilidade conectada. Neste artigo, vamos analisar por que tantas montadoras estão dizendo “não” ao CarPlay Ultra e o que isso significa para consumidores e para o setor automotivo como um todo.

CarPlay Ultra
Imagem: 9to5Mac

O que é o CarPlay Ultra e por que ele é tão diferente?

O CarPlay tradicional sempre funcionou como uma camada extra: o motorista conectava o iPhone ao carro e via na tela central uma interface simplificada com apps de navegação, música e chamadas. Era, essencialmente, um espelho do smartphone dentro do carro.

O CarPlay Ultra muda completamente essa lógica. A Apple agora oferece um sistema que substitui não apenas a central multimídia, mas também o painel de instrumentos, os mostradores de velocidade, consumo de combustível e até mesmo os controles de ar-condicionado.

Se antes a Apple era apenas um “passageiro” dentro da cabine, com o CarPlay Ultra ela quer ser o motorista digital da experiência automotiva. Essa ambição de controle total é exatamente o ponto que desperta desconfiança entre as montadoras.

A lista da resistência: as marcas que (por enquanto) estão fora

A resistência ao CarPlay Ultra não é pequena. Entre as montadoras que não adotaram a tecnologia estão:

  • BMW
  • Toyota
  • Volkswagen
  • Mercedes-Benz
  • Audi
  • Porsche

É importante destacar que muitas dessas marcas já oferecem o CarPlay tradicional em seus veículos. A recusa não está relacionada a limitações técnicas ou dificuldades de integração, mas sim a decisões estratégicas.

Além disso, há casos conhecidos como Tesla e Rivian, que nunca adotaram o sistema da Apple, preferindo desenvolver interfaces próprias e manter total controle da experiência digital.

A lista crescente de recusas mostra que o CarPlay Ultra enfrenta barreiras bem maiores do que a Apple poderia prever.

Os verdadeiros motivos por trás do ‘não’: muito além da tecnologia

A batalha pelo controle da experiência e da marca

As montadoras investem bilhões de dólares no design e na identidade de suas interfaces digitais. O painel de um BMW, por exemplo, não é apenas uma tela: é um reflexo do estilo da marca, pensado para transmitir esportividade e sofisticação.

Com o CarPlay Ultra, essa identidade pode ser diluída. Em vez de dirigir um carro com o DNA visual da BMW ou da Mercedes, o motorista passaria a ter uma experiência padronizada com a “cara da Apple”. Para muitas marcas, isso é inaceitável, pois reduz o valor de diferenciação que tanto prezam.

Dados são o novo petróleo: quem é o dono das informações do motorista?

Outro ponto crítico é o acesso aos dados. Carros modernos coletam uma quantidade gigantesca de informações: desde diagnósticos do motor até rotas de navegação, hábitos de direção e preferências pessoais.

Se o CarPlay Ultra controlar a maior parte desses sistemas, a Apple pode se tornar a principal detentora desses dados, abrindo margem para monetização via publicidade, integração com outros serviços e até desenvolvimento de novos produtos. Para as montadoras, isso representa um risco estratégico: perder o controle sobre informações valiosas que podem definir o futuro da indústria.

Ecossistemas próprios e a aposta em alternativas

Outro motivo da resistência é que muitas empresas já estão apostando em soluções próprias ou alternativas.

  • O Android Automotive, desenvolvido pelo Google, é um exemplo claro: ele não é apenas um “espelhamento” como o Android Auto, mas um sistema operacional completo para o carro, usado nativamente por marcas como Volvo, Polestar e General Motors.
  • Outras, como a BMW com o iDrive ou a Mercedes com o MBUX, estão investindo em seus próprios sistemas, que buscam oferecer a mesma sofisticação de um ecossistema tecnológico, mas preservando a identidade e o controle da montadora.

Essa estratégia mostra que as fabricantes querem evitar a dependência de uma Big Tech que possa ditar as regras dentro de seus produtos.

E o que isso significa para o consumidor?

Para o motorista comum, essa batalha pode ter impactos diretos.

Por um lado, a ausência do CarPlay Ultra em muitas marcas pode frustrar usuários fiéis da Apple, que esperavam uma experiência mais integrada em seus veículos.

Por outro lado, a diversidade de sistemas pode trazer mais opções e liberdade de escolha. O consumidor poderá decidir entre carros que apostam no ecossistema da Apple, no Android Automotive ou em soluções proprietárias.

No entanto, essa fragmentação pode gerar desafios:

  • Compatibilidade desigual: nem todos os sistemas terão os mesmos aplicativos ou recursos disponíveis.
  • Valor de revenda: veículos integrados a ecossistemas exclusivos podem se tornar menos atraentes no futuro, caso o software perca suporte ou popularidade.
  • Longevidade do software: enquanto smartphones recebem atualizações constantes, carros podem permanecer por 10 anos ou mais. Isso levanta dúvidas sobre o quanto a Apple ou outras empresas estarão dispostas a manter suporte de longo prazo.

Conclusão: uma disputa que está apenas começando

A recusa de montadoras tradicionais em adotar o CarPlay Ultra não é uma questão de incapacidade técnica. É uma decisão profundamente estratégica, baseada no desejo de proteger a identidade de marca, manter o controle sobre os dados e garantir independência tecnológica em um setor cada vez mais digitalizado.

A Apple vê no carro um novo território para expandir seu ecossistema, mas as montadoras não estão dispostas a abrir mão de um dos elementos mais valiosos de sua relação com o cliente: a experiência ao volante.

Essa disputa está longe de terminar. O futuro do carro conectado será definido não apenas pela inovação tecnológica, mas por acordos estratégicos, parcerias e pela capacidade das marcas em equilibrar poder, dados e experiência do usuário.

E para você, a presença do CarPlay Ultra seria um fator decisivo na compra do seu próximo carro? Deixe sua opinião nos comentários!

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Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista em Android, Apple, Cibersegurança e diversos outros temas do universo tecnológico. Seu foco é trazer análises aprofundadas, notícias e guias práticos sobre segurança digital, mobilidade, sistemas operacionais e as últimas inovações que moldam o cenário da tecnologia.