Carta de “81 gigantes da tecnologia” contra STF e governo Lula: o que é fato, o que é exagero

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

ITI e 81 empresas: o teor do documento que chegou ao USTR!

Entenda o que realmente foi enviado pelos representantes de big techs ao governo dos EUA, como isso envolve o STF, a Anatel e propostas do governo Lula — e o que Donald Trump disse de público.

Resumo rápido

  • É verdade no essencial: um conselho do setor de tecnologia dos EUA (ITI), que reúne dezenas de big techs e empresas de pagamentos, enviou comentários formais ao governo Trump, dentro de um processo oficial do USTR, criticando decisões do STF, regras da Anatel e propostas de nova tributação e regulação no Brasil.
  • Forma e destino: não foi uma “carta pessoal a Trump”, e sim uma submissão formal ao USTR (escritório de comércio dos EUA), aberta a comentários públicos, sob direção do governo Trump.
  • Contexto: isso acontece no âmbito de uma investigação da Seção 301 aberta em 15 de julho de 2025 contra práticas brasileiras — entre elas, digital trade, pagamentos eletrônicos e outras áreas.
  • Trump falou do tema: em 25–26 de agosto de 2025, Trump ameaçou tarifas adicionais e até restrições de exportação a países que, segundo ele, discriminem big techs americanas.

O que aconteceu, exatamente?

O USTR (United States Trade Representative) abriu, em 15 de julho de 2025, uma investigação da Seção 301 sobre “atos, políticas e práticas” do Brasil em áreas como comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, entre outras. Esse tipo de processo convida empresas e associações a enviar comentários formais que embasam eventuais medidas comerciais dos EUA.

Nesse contexto, o Information Technology Industry Council (ITI) — conselho que reúne dezenas de grandes empresas de tecnologia e pagamentosprotocolou um documento criticando pontos do ambiente regulatório brasileiro. A imprensa brasileira reportou que o ITI reúne 81 membros (incluindo Amazon, Google, Apple, Microsoft, Meta, Visa, Mastercard, Dell, Intel, Nvidia, entre outros) e que o texto foi encaminhado ao USTR no âmbito da investigação.

Em termos práticos: é um documento setorial, dentro de um processo oficial, e não um “bilhete de bastidores” ao presidente.

Quais são as críticas das empresas?

Os pontos centrais destacados pela cobertura e pelos próprios pareceres do setor são:

  1. Decisão do STF sobre o Artigo 19 do Marco Civil (jun/2025)
    O STF declarou parcialmente inconstitucional o Art. 19, eliminando parte do “porto seguro” que blindava plataformas até ordem judicial específica; na prática, ampliou hipóteses de responsabilização por conteúdo de terceiros. O documento do ITI aponta que isso aumenta risco jurídico e pode estimular remoções preventivas.
  2. Regras da Anatel para marketplaces (ago/2025)
    A Anatel formalizou a responsabilidade solidária de marketplaces (Amazon, Mercado Livre, etc.) por anúncios de produtos de telecom não homologados, alterando o custo/risco operacional dessas plataformas. O ITI cita a mudança como parte do pacote de incertezas.
  3. Tributação e regulação em discussão no Brasil
    O material menciona propostas de taxação das big techs e regulação de IA (PL 2338/2023) como potenciais fontes de mais custo e imprevisibilidade. O pedido do ITI é que o governo dos EUA se engaje com o Brasil para buscar previsibilidade.

Além do ITI, outras entidades do setor — como CCIA e CTA — também protocolaram comentários formais no mesmo dossiê da Seção 301, reforçando as preocupações das empresas de tecnologia com o Brasil.

E o que Trump disse?

Foto de Donal Trump

Na noite de 25 de agosto (e repercutido em 26 de agosto de 2025), Donald Trump publicou que tarifará países que mantiverem “impostos, legislação e regulações de mercados digitais” consideradas discriminatórias contra a tecnologia americana; citou ainda possibilidade de restringir exportação de chips. Não citou o Brasil nominalmente, mas a fala dialoga diretamente com o momento da investigação sobre o país.

O governo brasileiro respondeu?

Sim. Em 18 de agosto de 2025, o governo do Brasil enviou resposta escrita ao USTR, rejeitando fortemente as acusações e afirmando que as políticas brasileiras não são “injustificáveis, irrazoáveis ou discriminatórias”. A nota pede que os EUA não imponham medidas unilaterais.

Isso é “contra Moraes e Lula”?

  • Contra o STF: o alvo central nas submissões setoriais é a decisão do STF que mudou o regime do Art. 19 — um ato institucional do Tribunal, não um ataque nominal a um ministro específico.
  • Contra o governo Lula: há críticas a políticas e propostas regulatórias do Executivo e de agências (como a Anatel), além de debates sobre tributação e IA — portanto, há fricção com a agenda do governo.

Em paralelo, a plataforma X (ex-Twitter) citou medidas judiciais envolvendo o ministro Alexandre de Moraes em seu próprio parecer ao USTR, como parte do argumento de insegurança jurídica. Isso ajuda a explicar por que manchetes nas redes falam em “contra Moraes”.

Por que isso importa?

  • Para o Brasil, o processo da Seção 301 pode desaguar em tarifas ou outras retaliações comerciais se o governo dos EUA concluir que há barreiras injustas — e as declarações de Trump sobem a temperatura.
  • Para as empresas, a combinação de responsabilização ampliada, novas regras setoriais e possível tributação pode elevar custos e reduzir previsibilidade — especialmente para plataformas digitais e marketplaces.

O que é fato vs. exagero nas manchetes virais

Verdadeiro (no essencial):

  • Houve um documento do ITI (associação com dezenas de gigantes de tecnologia e pagamentos) encaminhado ao USTR com críticas a decisões do STF, regras da Anatel e propostas do governo, pedindo ação diplomática dos EUA.

Exagerado/impreciso:

  • Dizer que foi “carta pessoal a Trump” ou que cita nominalmente ministros como Moraes. O procedimento correto é comentários ao USTR em uma investigação oficial; o foco é regulatório/institucional.

Linha do tempo essencial

  • 15 de julho de 2025 — USTR abre investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
  • 18 de agosto de 2025 — Governo brasileiro envia resposta formal ao USTR refutando as alegações.
  • 25–26 de agosto de 2025Trump ameaça tarifas adicionais e restrições a países com regulações digitais consideradas discriminatórias.

Box de contexto: o que é a Seção 301?

A Seção 301 é um instrumento da lei comercial dos EUA que autoriza investigações sobre práticas de outros países consideradas injustas ou discriminatórias. Se o governo dos EUA concluir que há violação, pode aplicar retaliações, como tarifas.

Por que isso importa para o leitor brasileiro?

  • Risco comercial: uma conclusão negativa da Seção 301 pode resultar em tarifas e tensões diplomáticas, afetando preços, cadeias de suprimento e investimentos.
  • Ambiente digital: mudanças em responsabilidade de plataforma, regras para marketplaces e novos tributos impactam moderadores, vendedores, criadores e consumidores.

Foi uma carta a Trump?

Não. Foi uma contribuição formal ao USTR dentro de um processo oficial.

As empresas citaram Alexandre de Moraes?

Nos documentos das associações setoriais, não. O foco é institucional (decisão do STF). Empresas individuais podem ter citado decisões específicas.

Quais empresas estão envolvidas?

O ITI reúne 81 grandes companhias (big techs e pagamentos). Além dele, outras entidades do setor também enviaram pareceres.

Trump atacou o STF ou Lula nominalmente?

Não. Ele falou genericamente sobre punir países com regulações “discriminatórias” contra empresas de tecnologia dos EUA.

O Brasil respondeu?

Sim. O governo negou violar regras internacionais e contestou medidas unilaterais.

Fontes principais em que baseamos a nossa investigação

  • USTR (processo oficial da Seção 301) — anúncio da abertura (15 jul 2025) e escopo do inquérito. (United States Trade Representative)
  • InfoMoney — reportagens detalhando o envio do documento do ITI (composição do conselho, críticas ao STF/Anatel/tributação/IA) e o parecer do X com menções a decisões judiciais no Brasil. (InfoMoney)
  • Decisão do STF sobre o Art. 19 (jun 2025) — páginas oficiais do STF e análises jurídicas. (Notícias STF)
  • Anatel/Minicom — mudanças que tornam marketplaces solidariamente responsáveis por produtos irregulares. (Serviços e Informações do Brasil)
  • CTA/CCIA — comentários setoriais adicionais ao USTR (18 ago 2025). (cta.tech, CCIA)
  • Resposta oficial do governo brasileiro ao USTR (18 ago 2025). (Poder360)
  • Declarações de Trump (25–26 ago 2025) — cobertura de CNN Brasil e Reuters. (CNN Brasil, Reuters)
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