Saudades do Solaris? O CDE acabou de ganhar LMDB, GCC 15 e systemd em 2025

O desktop clássico do UNIX segue vivo em 2025 com LMDB, GCC 15 e integração com systemd.

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Se você já trabalhou em uma estação Sun, HP ou IBM nos anos 90, a silhueta do CDE (Common Desktop Environment) é instantaneamente reconhecível: o painel frontal, os ícones “quadrados”, o jeito muito próprio do Motif. Agora vem a melhor parte, o CDE continua respirando em 2025. A versão 2.5.3, lançada em 25 de novembro de 2025, não é só um pacote de correções: é um lembrete de que clássicos também podem receber manutenção séria.

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Vale lembrar por que isso chama atenção: o CDE (Common Desktop Environment) nasceu como o “padrão corporativo” do desktop UNIX nos anos 90, fruto de uma colaboração entre grandes fornecedores de estações de trabalho. Depois de uma longa vida como software proprietário, ele foi aberto como software livre em 2012, e desde então sobrevive justamente por essa combinação rara de preservação histórica com manutenção prática.

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Um clássico modernizado: LMDB e GCC 15

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O headline técnico desta CDE 2.5.3 release está “sob o capô”. O componente DtMmdb, responsável por partes do banco de dados e metadados usados por ferramentas do ambiente, trocou o antigo Berkeley DB pelo LMDB. Na prática, é como pegar um carro clássico que você ama pelo design e pela história, e substituir um motor temperamental por um conjunto moderno, mais previsível e eficiente: a carroceria continua a mesma, mas a confiabilidade muda de patamar.

A troca para LMDB também muda o perfil de confiabilidade: por usar banco “embutido” com arquivo mapeado em memória e transações bem definidas, ele tende a ser mais previsível em leitura pesada e mais simples de empacotar em sistemas atuais. Traduzindo: é o tipo de modernização que o usuário não “vê” na interface, mas sente no dia a dia em menos dor de cabeça com dependências antigas e em menos riscos de travamentos em operações comuns.

O LMDB é uma base chave-valor embutida que usa abordagem de memória mapeada, com foco em simplicidade e desempenho, especialmente em leituras concorrentes. Essa mudança importa porque reduz atrito de dependências antigas e também diminui a chance de o “coração de dados” do CDE virar uma peça de museu difícil de compilar, linkar e manter em sistemas atuais.

Na mesma linha de “não ficar preso no passado”, a versão 2.5.3 traz correções específicas para compilar com GCC 15. Isso é um sinal claro de manutenção ativa: não basta o código existir, ele precisa sobreviver às exigências de compiladores modernos, warnings mais agressivos e mudanças de toolchain que, ano após ano, quebram projetos que ficaram congelados no tempo.

O que há de novo na versão 2.5.3

Mesmo sendo descrita como uma versão “principalmente de bugfix”, a lista de mudanças mostra um cuidado amplo, do miolo até o polimento:

  • Compatibilidade e integração moderna: foi adicionado um arquivo de serviço do systemd para o dtlogin, o gerenciador de login. Isso facilita o encaixe do CDE em distribuições atuais, sem gambiarras de init scripts antigos.
  • Melhorias de usabilidade no dtwm: o gerenciador de janelas dtwm ganhou suporte a botões extras do mouse, algo pequeno no changelog, mas enorme no cotidiano, já que hardware atual quase sempre passa do “mouse de três botões”.
  • Correções de travamentos e robustez: ajustes para evitar potenciais segfaults, correções de crash no DtMmdb ao criar bookmark e melhorias de comportamento em janelas e pop-ups.
  • Higiene de código e segurança operacional: troca de mktemp por mkstemp, checagens de ponteiros antes de percorrer estruturas e correções que reduzem surpresas em tempo de execução.

O detalhe do systemd no dtlogin é mais importante do que parece. Em vez de depender só de scripts e integrações artesanais, o CDE passa a conversar melhor com o modelo de inicialização e supervisão de serviços que domina o Linux moderno. Para quem instala via distro, VM ou laboratório de retrocomputação, isso costuma ser a diferença entre “funciona com ajustes” e “funciona como pacote de verdade”.

E vale notar o aspecto comunitário: esta versão lista contribuições de gente como Chase, Dark Ayron, Jon Trulson, Patrick Georgi, hyousatsu, Nilton Perim Neto, Trung Lê, Paul Ward e rhubarb-geek-nz, entre outros. Não é “um desktop abandonado”, é um projeto que ainda recebe patches variados e úteis.

E o changelog entrega aquele tipo de cuidado que denuncia manutenção ativa: correções para 32-bit, ajustes para mudanças em FreeBSD, troca de chamadas inseguras como mktemp por mkstemp, além de uma coleção de fixes para warnings e segfaults. Não é glamour, mas é exatamente o tipo de trabalho que mantém um desktop clássico utilizável em 2025.

Um projeto de legado, não uma corrida contra GNOME ou KDE

Nada disso coloca o CDE como “concorrente” de desktops modernos. A importância aqui é outra: preservação com manutenção real. O CDE é um artefato vivo da história do UNIX, e esse tipo de manutenção em 2025 é o que separa nostalgia de vitrine de nostalgia que você consegue compilar, rodar, depurar e integrar com um sistema atual. Em outras palavras, não é só saudade, é continuidade.

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