Uma boa notícia para quem vive de Linux em produção: Linus Torvalds puxou um lote de hotfixes focados no gerenciamento de memória — o coração do kernel — que miram quedas evitáveis e arestas cortantes no dia a dia. No total, foram 20 correções enviadas por Andrew Morton; a maioria (15) foi marcada como stable, ou seja, deve chegar também aos kernels mantidos a longo prazo. Entre as mudanças, há consertos que evitam panes no DAMON e um ajuste importante no kexec, aquele recurso que permite dar boot num novo kernel sem reiniciar a máquina inteira. É a manutenção contínua que mantém o Linux de pé quando a carga aperta.
Correções importantes para kexec e DAMON

Começando pelo kexec: um bug de “uso de campo não inicializado” no kexec_buf
podia gerar comportamentos erráticos, especialmente em arquiteturas como arm64, s390 e RISC-V. O conjunto de patches agora garante a inicialização explícita dessa estrutura, reduzindo riscos durante a troca “a quente” de kernel — pense nisso como conferir o estepe antes de trocar a roda com o carro ainda em movimento. Resultado: reinícios via kexec mais previsíveis e confiáveis.
Já no DAMON — a ferramenta do kernel para observar e otimizar padrões de acesso à memória — havia cenários em que parâmetros mal ajustados podiam levar a “divisão por zero” e travamentos. As novas proteções validam intervalos e recusam configurações inválidas, blindando o subsistema contra erros operacionais. Em português claro: mesmo que alguém chute um parâmetro bizarro, o kernel não cai junto.
Outras melhorias de estabilidade no MM
Além dos destaques, o lote traz uma série de pequenos — porém valiosos — reparos no ecossistema de Linux memory management:
- Em KASAN/vmalloc, a rotina que povoa a shadow memory passa a respeitar o
gfp_mask
, evitando alocações fora do esperado em caminhos de baixa memória. Menos surpresas em cenários de pressão de memória, mais previsibilidade para quem depura. - Em hugetlb, entra um
hugetlb_lock
faltante e ajustes na desmontagem de páginas enormes, reduzindo janelas de corrida em operações delicadas. - No caminho de memory failure (páginas envenenadas por hardware), há correções para não contabilizar duas vezes estados já marcados e para tratar melhor páginas offline, diminuindo ruído operacional e logs alarmistas.
- O percpu recebe uma limitação de alertas com contador atômico — tradução: menos spam de warnings repetidos quando uma alocação falha sob pressão, o que ajuda a encontrar a causa real em vez de brigar com o barulho.
- Ajustes em mremap, memory hotplug, DAMON/sysfs e até um nit em
init/main.c
(ordem de inicialização de estruturas) reforçam a ideia de que estabilidade nasce dos detalhes.
Por que isso importa? Porque a parte de memória do kernel é o alicerce de tudo: de bancos de dados a containers, de edge a nuvem. Quando o MM fica mais robusto, sua pilha toda respira aliviada. E o selo stable em 15 das 20 correções indica que não estamos falando de ajustes cosméticos — são consertos que merecem retroporte e chegarão à sua distribuição com rapidez.