Desafios da monetização de IA no setor de software

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Você já se perguntou como as empresas podem integrar Inteligência Artificial sem comprometer seus orçamentos? Com os desafios crescentes na adoção de IA, muitos fornecedores se veem diante de um dilema: como monetizar essas soluções sem apresentar benefícios claros. Vamos refletir sobre os impactos e as soluções potenciais nesse cenário em constante mudança.

Aumento dos custos com IA

A implementação de inteligência artificial não é barata, e esse é um dos maiores desafios que as empresas de software enfrentam hoje. Diferente de outras atualizações, a IA exige um investimento pesado que vai muito além do desenvolvimento do código. Pense nos custos de infraestrutura: os modelos de IA mais avançados precisam de um poder de processamento imenso, o que nos leva diretamente ao hardware.

O custo do hardware e do talento

O principal vilão aqui são as Unidades de Processamento Gráfico (GPUs), como as da Nvidia, que se tornaram essenciais para treinar e rodar modelos de IA. A demanda por esses componentes é tão alta que os preços dispararam, e consegui-los se tornou uma verdadeira corrida. Além do hardware, há o custo humano. Profissionais especializados em IA, como cientistas de dados e engenheiros de machine learning, são raros e, consequentemente, muito caros de contratar e manter.

Esses dois fatores, hardware e talento, criam uma barreira financeira significativa. Os fornecedores de software precisam absorver esses custos iniciais, que são muito mais altos do que os de um desenvolvimento de software tradicional. Naturalmente, esse investimento precisa ser recuperado, o que significa que os preços para os clientes finais acabam subindo. Não é apenas uma nova funcionalidade; é uma nova estrutura de custos que precisa ser gerenciada com cuidado.

Retorno sobre investimento de IA

Investir uma fortuna em recursos de inteligência artificial é apenas o primeiro passo. O verdadeiro desafio para os fornecedores de software é provar que esse investimento vale a pena para o cliente. Afinal, por que alguém pagaria mais por um produto se não consegue ver um benefício claro e mensurável? É aqui que a conversa sobre o retorno sobre o investimento (ROI) se torna crucial.

Os clientes não querem apenas ouvir sobre funcionalidades inovadoras; eles precisam entender como a IA vai impactar seus resultados. Isso significa traduzir a tecnologia em valor tangível: quanto tempo será economizado? A produtividade da equipe vai aumentar em quantos por cento? Haverá uma redução de custos operacionais? Sem respostas concretas para essas perguntas, a proposta de valor da IA parece vaga e arriscada.

A dificuldade de medir o valor

O problema é que nem sempre é fácil quantificar esses benefícios. Diferente de uma máquina que produz mais peças por hora, o impacto da IA pode ser mais sutil. Por exemplo, como medir exatamente o ganho de produtividade de um desenvolvedor que usa um assistente de código baseado em IA? Ele pode escrever código mais rápido ou com menos erros, mas transformar isso em um número exato é complicado. Essa incerteza faz com que muitos clientes hesitem em adotar e pagar mais por essas novas ferramentas, criando um grande obstáculo para a monetização da IA.

Desafios da adoção de IA

Mesmo que uma empresa decida investir em inteligência artificial, a jornada está longe de ser fácil. A adoção de IA vai muito além de simplesmente comprar e instalar um novo software. É uma mudança cultural e operacional que mexe com a estrutura da empresa inteira, e é aí que muitos dos maiores obstáculos aparecem.

A barreira humana e a complexidade técnica

Um dos principais desafios é o fator humano. Muitas vezes, os funcionários sentem-se ameaçados pela nova tecnologia, com medo de que seus empregos sejam substituídos. Essa resistência, natural ou não, pode sabotar a implementação antes mesmo de ela começar. É preciso investir tempo e recursos em treinamento, comunicação e gestão de mudanças para que todos entendam que a IA é uma ferramenta para ajudar, e não para substituir.

Além disso, há a complexidade técnica. Integrar uma solução de IA com os sistemas legados que a empresa já utiliza pode ser um verdadeiro pesadelo. Não é um simples “plug-and-play”. E tem mais: a IA precisa de dados de alta qualidade para funcionar bem. Se os dados da empresa são desorganizados, incompletos ou inconsistentes — o que é muito comum —, a ferramenta de IA será ineficaz. É como ter o carro de corrida mais rápido do mundo, mas tentar abastecê-lo com água em vez de gasolina. Simplesmente não vai funcionar como deveria.

Mudanças nas estruturas de preços

Com a chegada da inteligência artificial, a forma como o software é vendido está passando por uma verdadeira revolução. Os modelos de preço tradicionais, como a famosa cobrança por usuário por mês, simplesmente não funcionam mais. Por quê? Porque os custos para rodar a IA não são fixos. Eles variam drasticamente dependendo do quanto a tecnologia é usada.

Pense nisso como a sua conta de luz. Você não paga um valor fixo todo mês; você paga pelo que consome. A IA funciona de maneira parecida. Cada vez que um usuário faz uma consulta ou usa uma funcionalidade de IA, isso consome poder de processamento, principalmente das caras GPUs. Para os fornecedores de software, repassar esse custo variável é essencial para não terem prejuízo.

Novos modelos de cobrança

É por isso que estamos vendo o surgimento de novas estruturas de preços. Modelos baseados em consumo, onde o cliente paga pelo uso real, ou sistemas de créditos, onde se compra um pacote de “unidades de IA” para gastar, estão se tornando comuns. Essa mudança, no entanto, cria um novo desafio: a previsibilidade de custos. Para os clientes, fica muito mais difícil planejar o orçamento, já que a fatura pode variar muito de um mês para o outro. Encontrar um equilíbrio que seja justo para o fornecedor e previsível para o cliente é um dos maiores quebra-cabeças do mercado de software atualmente.

A necessidade de gestão de mudanças

Você pode ter a melhor tecnologia de inteligência artificial do mundo, mas se as pessoas que precisam usá-la não a aceitarem, seu projeto está fadado ao fracasso. É por isso que a gestão de mudanças não é apenas um detalhe, mas sim uma parte essencial de qualquer estratégia de adoção de IA. A tecnologia por si só não resolve problemas; são as pessoas que a utilizam que geram valor.

A resistência à mudança é algo natural do ser humano. Funcionários podem se sentir inseguros, com medo de que a IA torne seus trabalhos obsoletos ou que a nova ferramenta seja complicada demais para aprender. Ignorar esses medos é um erro grave. Uma boa gestão de mudanças aborda essas preocupações de frente, com comunicação clara e transparente. É preciso explicar o “porquê” por trás da mudança: como a IA vai facilitar o trabalho, eliminar tarefas repetitivas e permitir que a equipe se concentre em atividades mais estratégicas e criativas.

Construindo a ponte para a aceitação

Isso envolve mais do que apenas um e-mail informativo. Estamos falando de sessões de treinamento prático, workshops e a criação de um ambiente seguro onde as pessoas possam fazer perguntas e expressar suas preocupações sem medo. Envolver os futuros usuários desde o início do processo, pedindo feedback e fazendo com que se sintam parte da decisão, também ajuda a criar um sentimento de propriedade e a diminuir a resistência. No fim das contas, o sucesso da IA depende menos do código e mais da cultura da empresa.

O papel das empresas na mudança de compras

Antigamente, comprar software era uma tarefa relativamente simples. O departamento de TI ou uma área de negócio específica identificava uma necessidade, escolhia uma ferramenta e pronto. Mas a inteligência artificial virou esse processo de cabeça para baixo. A decisão de compra não é mais isolada; tornou-se uma conversa que envolve a empresa inteira.

Como a IA tem um impacto tão amplo, afetando desde a produtividade individual até a estratégia de negócios, a decisão de adotá-la precisa ser muito mais cuidadosa e colaborativa. Não se trata mais de comprar uma licença, mas de fazer um investimento estratégico. Isso significa que o poder de decisão saiu das mãos de uma única pessoa e passou para um comitê.

O comitê de compras da nova era

Hoje, é comum ver um grupo diversificado de líderes envolvidos na escolha de uma solução de IA. O diretor financeiro (CFO) está na mesa para analisar a imprevisibilidade dos custos baseados em consumo. O chefe de operações (COO) quer entender como a ferramenta vai se integrar aos fluxos de trabalho existentes e qual será o ganho real de eficiência. E, claro, o chefe de tecnologia (CTO) avalia a complexidade técnica e a segurança. Para os fornecedores, isso significa que o processo de venda ficou mais longo e complexo. Eles precisam provar o valor de sua solução para diferentes públicos, cada um com suas próprias preocupações e métricas de sucesso.

Evolução do mercado de software

Estamos testemunhando uma das maiores transformações na história do software, e a inteligência artificial é o motor por trás dela. O mercado está se redefinindo completamente, e as regras do jogo estão sendo reescritas em tempo real. Não se trata mais apenas de adicionar uma nova funcionalidade; a IA está mudando a própria essência de como o software é criado, vendido e utilizado.

A principal mudança é a transição da venda de ferramentas para a venda de resultados. Antes, uma empresa comprava um software para executar uma tarefa. Agora, ela investe em uma solução de IA que promete entregar um resultado específico, como aumentar as vendas em 10% ou reduzir o tempo de resposta ao cliente pela metade. Isso eleva a aposta para os fornecedores, que precisam ir além da tecnologia e atuar como verdadeiros parceiros estratégicos de seus clientes.

O futuro do mercado: consolidação ou especialização?

Uma grande questão no ar é como o mercado vai se organizar. Veremos os gigantes da tecnologia, com seus vastos recursos, integrarem IA em todas as suas plataformas, consolidando o poder? Ou haverá espaço para o surgimento de empresas menores e ágeis, especializadas em resolver problemas muito específicos com IA de ponta? Provavelmente veremos um pouco dos dois, criando um cenário competitivo e dinâmico. O que é certo é que as empresas que não se adaptarem a essa nova realidade, focada em valor e resultados, correm o risco de se tornarem obsoletas muito rapidamente.

Conclusão

Em resumo, a jornada para monetizar a Inteligência Artificial no setor de software é complexa e cheia de novos desafios. Vimos que os altos custos iniciais, a dificuldade em provar o retorno sobre o investimento e a mudança para modelos de preços imprevisíveis são obstáculos reais tanto para fornecedores quanto para clientes.

Além disso, o sucesso da IA não depende apenas da tecnologia, mas também da capacidade de gerenciar a mudança cultural e preparar as equipes para essa nova realidade. As empresas que se destacarem serão aquelas que conseguirem comunicar o valor da IA de forma clara, transformando-se de meros fornecedores em verdadeiros parceiros estratégicos. O futuro pertence a quem souber equilibrar inovação com resultados práticos e mensuráveis.

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Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre GNU/Linux, Software Livre e Código Aberto, dedica-se a descomplicar o universo tecnológico para entusiastas e profissionais. Seu foco é em notícias, tutoriais e análises aprofundadas, promovendo o conhecimento e a liberdade digital no Brasil.