EUA e aliados derrubam a E-Note, corretora ligada à lavagem de dinheiro de ransomware

Operação internacional expõe como a E-Note sustentava financeiramente ataques de ransomware.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A queda de uma das peças-chave no financiamento do cibercrime global foi confirmada após uma ampla operação internacional liderada pelos Estados Unidos em parceria com autoridades da Europa. O alvo foi a corretora de criptomoedas E-Note, acusada de operar como um dos principais canais de lavagem de dinheiro ligado a ataques de ransomware, facilitando a conversão de ativos digitais em moeda tradicional para grupos criminosos.

A ação resultou na apreensão de domínios, servidores e aplicativos móveis, além do bloqueio imediato das operações da plataforma. Segundo investigadores, a E-Note vinha sendo utilizada há anos como infraestrutura financeira paralela para criminosos digitais, permitindo o escoamento silencioso de valores obtidos por meio de extorsão, fraudes e invasões cibernéticas.

O impacto da operação vai além do fechamento de um serviço ilegal. A cooperação entre o FBI, autoridades da Finlândia e da Alemanha representa um avanço estratégico no combate ao uso abusivo de criptomoedas, especialmente no contexto de E-Note ransomware, onde o anonimato financeiro sempre foi um dos maiores obstáculos para investigações globais.

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Entenda o esquema da E-Note: de 2017 aos dias atuais

A E-Note ransomware funcionava como uma corretora informal de criptomoedas, oferecendo serviços que iam muito além de simples trocas de ativos digitais. Na prática, a plataforma operava como um hub financeiro clandestino, especializado em ocultar a origem de fundos provenientes de crimes digitais, especialmente ataques de ransomware contra empresas, hospitais e órgãos públicos.

Desde pelo menos 2017, a E-Note passou a atrair grupos especializados em lavagem de dinheiro com criptomoedas, oferecendo rapidez, baixa exigência de verificação de identidade e integração com uma rede de intermediários humanos. Esse modelo permitia que valores extorquidos fossem rapidamente fragmentados, redistribuídos e convertidos, reduzindo drasticamente as chances de rastreamento.

As autoridades estimam que mais de US$ 70 milhões em transações ilícitas tenham passado pela plataforma ao longo dos anos, consolidando a E-Note como uma engrenagem crítica no ecossistema financeiro do cibercrime internacional.

O papel das mulas de dinheiro na conversão de cripto para moeda fiduciária

Um dos pilares do esquema era o uso extensivo de mulas de dinheiro, pessoas ou contas intermediárias responsáveis por receber criptomoedas e transformá-las em moeda fiduciária. Essas mulas atuavam como camadas adicionais de anonimato, dificultando a identificação dos beneficiários finais.

Na prática, os fundos eram enviados para diversas carteiras e contas bancárias em pequenas quantias, criando uma trilha financeira fragmentada. Esse método é amplamente utilizado em esquemas de lavagem de dinheiro em criptomoedas, pois explora lacunas regulatórias e a lentidão da cooperação internacional em casos transnacionais.

A E-Note oferecia a infraestrutura técnica necessária para coordenar esse fluxo, funcionando como uma central de distribuição financeira para grupos de ransomware e outras organizações criminosas digitais.

A infraestrutura técnica e a investigação

A operação internacional resultou na apreensão de domínios estratégicos como e-note.com e jabb.mn, além da desativação completa dos aplicativos móveis vinculados à corretora. Com isso, a infraestrutura digital que sustentava o serviço foi interrompida de forma imediata.

O sucesso da ação foi possível graças à colaboração entre múltiplas agências, incluindo forças policiais europeias e unidades especializadas em operação FBI cibercrime. Essa cooperação permitiu mapear servidores, identificar fluxos financeiros e executar apreensões simultâneas em diferentes países.

Além do impacto operacional, a apreensão dos servidores garantiu acesso a um volume significativo de dados internos, considerados essenciais para o avanço das investigações.

A acusação contra o operador russo Mykhalio Petrovich Chudnovets

As autoridades também anunciaram acusações formais contra Mykhalio Petrovich Chudnovets, cidadão russo apontado como operador e facilitador central do esquema. De acordo com a investigação, ele teria atuado por mais de uma década oferecendo serviços de lavagem de dinheiro para criminosos digitais.

A partir de 2017, suas atividades teriam sido ampliadas com a estrutura da E-Note, transformando um serviço manual em uma plataforma escalável, voltada especificamente para atender grupos de ransomware e fraudes online. Caso condenado, Chudnovets pode enfrentar penas severas sob a legislação dos Estados Unidos, reforçando o cerco jurídico contra operadores desse tipo de serviço.

O impacto futuro: o banco de dados apreendido

Por que a cópia dos registros de transações é o maior pesadelo dos criminosos agora

O elemento mais sensível da operação não foi apenas o fechamento da plataforma, mas a apreensão completa do banco de dados de transações e clientes da E-Note. Esses registros permitem reconstruir fluxos financeiros, identificar carteiras digitais e correlacionar pagamentos com ataques específicos de ransomware.

Para investigadores, esse material representa uma oportunidade inédita de mapear redes criminosas, identificar cúmplices e até recuperar parte dos valores desviados. Para os criminosos, por outro lado, significa a perda definitiva do anonimato que sustentava suas operações.

Esse tipo de apreensão reforça a tendência de que o uso de criptomoedas para crimes digitais está se tornando cada vez menos seguro, especialmente diante do avanço das ferramentas de análise e da cooperação internacional.

Visão geral: o cerco fechando para o anonimato no cibercrime

A derrubada da E-Note mostra que o anonimato no cibercrime está sob pressão crescente. Embora tecnologias de criptomoedas continuem legítimas e amplamente utilizadas, seu uso em esquemas de lavagem de dinheiro tem atraído atenção prioritária de autoridades globais.

Para investidores, profissionais de segurança digital e entusiastas de tecnologia, o caso serve como alerta sobre os riscos de plataformas não regulamentadas e sobre a importância da conformidade legal no ecossistema cripto.

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