Eff condena agência dos eua por usar “manobra corporativa” para comprar spyware com histórico de abuso

EFF denuncia “manobra corporativa” da ICE para reativar contrato de spyware!

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

A EFF (Electronic Frontier Foundation) publicou, em 3 de setembro de 2025, uma declaração contundente contra a reativação de um contrato de US$ 2 milhões entre a ICE (agência de imigração dos EUA) e a Paragon Solutions, fabricante do spyware Graphite. A organização acusa o governo de usar um “atalho corporativo” para driblar a Ordem Executiva 14093, que restringe a compra de spyware controlado por governos ou pessoas estrangeiras. O gatilho, segundo a EFF, foi a mudança societária: o braço americano da Paragon foi adquirido pela AE Industrial Partners e fundido à empresa de cibersegurança REDLattice — operação que, na prática, “ignora o espírito da regra”.

Um histórico de abuso na itália

A importância deste caso não é abstrata. Pesquisadores do Citizen Lab apresentaram a primeira confirmação forense do Graphite em iPhones de jornalistas europeus em 2025, detalhando como o malware comprometeu dispositivos atualizados e exfiltrou dados sensíveis. Em paralelo, reportagens indicaram uso do spyware na Itália contra jornalistas e atores da sociedade civil, incluindo trabalhadores humanitários — um retrato nítido de como ferramentas “para combater o crime” acabam, na prática, se voltando contra a imprensa e ativistas. É esse software que uma agência do governo dos EUA está novamente adquirindo.

A Paragon, por sua vez, tem se vendido como uma alternativa “mais ética” no mercado, mas organizações de direitos digitais apontam que o histórico recente contradiz essa narrativa e exige transparência sobre governança e salvaguardas.

O “subterfúgio” para contornar a lei

No centro da denúncia está a engenharia societária. Conforme a EFF, a reativação do contrato teria sido viabilizada porque a AE Industrial Partners (private equity com foco em defesa) comprou a operação da Paragon e a agregou à REDLattice, com sede na Virgínia. Com essa reconfiguração, a ICE se valeria de um artifício formal: a fornecedora passa a parecer “doméstica”, reduzindo o atrito com a Ordem Executiva 14093 — mas, na visão da EFF, sem mitigar riscos de abuso e ameaças internas (insider threats).

Convém lembrar o que diz a Ordem Executiva 14093, assinada em 27 de março de 2023: o governo dos EUA não deve fazer uso operacional de spyware comercial que represente riscos significativos de contrainteligência, segurança ou uso indevido por governos ou pessoas estrangeiras. É essa proteção — já considerada limitada por especialistas — que estaria sendo “driblada” pela manobra corporativa.

A trajetória societária também foi noticiada por veículos independentes: a compra da Paragon pela AE Industrial (com planos de fusão com a REDLattice) foi reportada no fim de 2024, e, em 2025, o jornalista Jack Poulson revelou que o contrato da ICE havia sido reativado após a reestruturação.

Por que isso importa agora

Quando governos acessam ferramentas como o Graphite, a linha entre investigação legítima e vigilância abusiva fica por um fio. A EFF alerta que o “atalho corporativo” não cria barreiras técnicas ou jurídicas para impedir o mau uso — seja contra jornalistas, defensores de direitos ou até em disputas pessoais de agentes estatais. Em vez de fortalecer salvaguardas, a operação societária desloca o debate para formalidades de propriedade, enquanto o risco sistêmico permanece. (Electronic Frontier Foundation)

Como se proteger (recomendações práticas da eff)

A EFF é taxativa: o Graphite “não é mágico” — continua sendo malware e, para infectar um celular atualizado, depende de zero-days caros. O melhor contra-ataque é higiene digital rigorosa. Em resumo, as recomendações incluem: manter o sistema sempre atualizado; ativar o Lockdown Mode no iPhone; usar o recurso equivalente de proteção avançada no Android; e ligar mensagens temporárias (disappearing messages) — assim, se alguém na sua rede for comprometido, você não entrega todo o histórico de conversas. Para guias detalhados, consulte o Surveillance Self-Defense da EFF, com tutoriais de configuração e estratégias de risco.

Quer um passo-a-passo rápido? Nos apps que você usa (Signal, WhatsApp etc.), ative mensagens que desaparecem e combine janelas curtas para conversas sensíveis. A EFF mantém tutoriais atualizados para Signal e WhatsApp, e lembra que o recurso tem limitações: não impede capturas de tela nem garante destruição total — ele ajuda a reduzir a superfície de exposição e a normalizar acordos de retenção entre interlocutores.

Nota de transparência: este texto reporta a posição pública da EFF sobre a reativação do contrato ICE–Paragon e incorpora pesquisa do Citizen Lab sobre o uso do Graphite na Itália. A acusação de “manobra corporativa” é atribuída à EFF; vínculos societários e marcos legais foram corroborados por documentos oficiais e reportagens independentes. Termos e nomes próprios aparecem no original (EFF, ICE, Paragon Solutions, Graphite, Citizen Lab, Executive Order 14093, AE Industrial Partners, REDLattice, Lockdown Mode, Advanced Protection Mode). O termo de foco “ICE Paragon spyware” foi usado de forma contextual e natural.

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