A espera acabou: a EndeavourOS lançou em 29 de novembro de 2025 a nova ISO Ganymede, encerrando um hiato que alimentou rumores e, para alguns, até a suspeita de que o projeto teria “morrido”. A boa notícia é dupla. Primeiro, a equipe fez questão de afirmar, logo de cara, que o projeto segue ativo e não vai a lugar nenhum. Segundo, a ISO volta com melhorias muito práticas no processo de instalação, especialmente para quem tem hardware NVIDIA ou Wi-Fi Broadcom.
Antes de qualquer coisa, vale a distinção crucial: a EndeavourOS é uma distribuição rolling release. Isso muda completamente o significado de uma “nova ISO”. Se você já usa EndeavourOS, respire tranquilo: você não precisa reinstalar nem “atualizar para Ganymede”. Basta rodar o update de sempre:
sudo pacman -SyuA ISO Ganymede é, principalmente, uma ISO refresh para novas instalações. A melhor analogia é a de uma loja: o sistema rolling release é o estoque sendo renovado todo dia; a ISO refresh é a reforma da fachada, da vitrine e do balcão de atendimento, isto é, o Live environment e o instalador. Quem já está dentro da loja comprando (usuário atual) já recebe os produtos novos continuamente.
Prova de vida: o fim dos rumores e o recado sobre burnout em FOSS

O anúncio oficial não tentou dourar a pílula. Ele reconhece que demorou, e usa esse espaço para “matar” o boato de uma vez: a EndeavourOS continua viva. O motivo do ritmo mais lento não foi falta de interesse, foi escolha consciente. A equipe descreve uma postura saudável para evitar FOSS burnout, decidindo colocar “a vida e os entes queridos em primeiro lugar” quando o dia a dia aperta.
Esse tipo de transparência importa porque projetos de código aberto não são fábricas com turnos infinitos. Eles dependem de pessoas, e pessoas têm limites. A mensagem, no fundo, é um compromisso de longo prazo: melhor reduzir a cadência de releases do que empurrar voluntários e mantenedores para exaustão e, aí sim, arriscar uma quebra real do projeto.
O texto também dá contexto do porquê “não foi só preguiça”. Houve contratempos upstream no Arch Linux ao longo do ano, incluindo problemas ligados à infraestrutura sob ataque, além de dificuldades específicas do time para destravar alguns pontos. Somado a isso, o anúncio menciona a rotina corrida da equipe, incluindo estudos do desenvolvedor líder, Joe, buscando certificação e fortalecimento técnico. Em vez de prometer velocidade a qualquer custo, eles escolheram sustentabilidade.
ISO refresh não é “versão nova” do sistema, e o que realmente envelhece com o tempo
O anúncio explica algo que muita gente percebe na prática: mesmo quando uma distro mantém o instalador online funcionando, o que tende a ficar datado é o Live environment e o offline installer. A EndeavourOS afirma que a ISO vinha recebendo atualizações necessárias para o instalador online seguir rodando ao longo do tempo, mas a sessão Live e o caminho offline, que dependem do que está “congelado” dentro da imagem, inevitavelmente envelhecem.
É por isso que a Ganymede é relevante para quem vai instalar do zero hoje. Ela atualiza o conjunto “de entrada” do sistema, isto é, a experiência de boot da ISO e o Calamares, reduzindo atrito logo na primeira impressão.
Base atualizada na ISO: kernel, Mesa e Firefox recentes
A ISO Ganymede já chega com um conjunto de pacotes do ambiente Live e do instalador alinhado com o estado moderno do ecossistema, incluindo:
- Calamares 25.11.1.9-1
- Firefox 145.0.1-1
- Linux 6.17.8.arch1-1
- Mesa 1:25.2.7-1
- xorg-server 21.1.20-1 (xorg)
- nvidia-utils 580.105.08-4
Para quem quer instalar em hardware recente, isso importa. Um kernel mais novo e uma Mesa nova costumam significar melhor suporte a GPUs, correções de regressões e compatibilidade com placas, firmwares e chips que simplesmente não existiam em ISOs mais antigas.
Instalação inteligente para NVIDIA: acabou a adivinhação entre driver proprietário e open
A maior evolução desta ISO está em NVIDIA. Antes, a ISO incluía o pacote padrão nvidia por default. Isso podia funcionar, mas também colocava o usuário em um caminho com mais escolhas manuais e mais chance de cair no driver “errado” para o seu caso de uso naquele momento.
Na Ganymede, a EndeavourOS implementou detecção automática de GPU durante o boot da ISO, escolhendo e instalando o driver correto: nvidia ou nvidia-open.
Na prática, isso significa:
nvidiaé o driver proprietário tradicional, historicamente o caminho mais comum para alto desempenho e compatibilidade ampla no ecossistema NVIDIA no Linux.nvidia-openusa os módulos abertos quando compatível com a família da GPU, permitindo um caminho mais alinhado à abertura do stack de kernel modules em alguns cenários.
O ponto mais importante é que você não precisa saber, de memória, qual se aplica ao seu hardware. A detecção faz esse trabalho e garante que os módulos adequados sejam carregados já na sessão Live e instalados no sistema final.
O anúncio também enfatiza que esse fluxo está amarrado ao boot da ISO com a opção voltada para NVIDIA, garantindo que o Live environment suba com os módulos certos e que o destino receba exatamente a mesma decisão. Para quem joga, usa GPU para trabalho, ou só quer que o vídeo funcione de primeira, isso é o tipo de “pequena grande mudança” que reduz suporte em fórum e melhora a taxa de sucesso da instalação.
Broadcom Wi-Fi: driver sob demanda para evitar conflitos e dores de cabeça
O segundo ajuste relevante de compatibilidade é em chips Broadcom. O driver broadcom-wl não vem mais habilitado por padrão na ISO. O motivo é bem pé no chão: ele pode causar mau funcionamento em outros dispositivos de rede e, em alguns casos, gerar problemas no sistema.
A solução adotada é bem mais segura para o usuário médio. Se a ISO detectar um dispositivo Broadcom que realmente precise do broadcom-wl, ela exibe um pop-up perguntando se você deseja habilitar o driver. Se você habilitar no Live environment, o Calamares entende essa escolha e instala o driver automaticamente no sistema de destino.
O resultado é um equilíbrio bom: quem precisa, consegue habilitar sem “caça ao pacote”; quem não precisa, não corre o risco de ter a rede afetada por um driver que não deveria entrar em jogo.
Ajustes gerais e melhorias por desktop
A ISO também traz correções de “acabamento” que evitam pequenos quebramentos durante o pós-instalação. Um exemplo é o EOS-qogir-icons, que recebeu ajustes de nomenclatura upstream para impedir tema quebrado em instalações com DEs e WMs baseados em GTK.
Há ainda melhorias específicas por desktop:
- Plasma: o teclado virtual Maliit foi trocado pelo teclado virtual Qt6 no SDDM; libappindicator-gtk3 foi substituída por libappindicator.
- GNOME: gnome-screenshot foi removido dos pacotes padrão do install.
- LXDE: remoção de postfixos GTK3 em nomes de pacotes, substituição do obconf por lxappearance-obconf-gtk3, e renome do pacmanfm-gtk3 para pacmanfm.
- i3-WM: xbacklight foi substituído por brightnessctl.
São mudanças que, isoladamente, parecem pequenas. Juntas, elas apontam para uma ISO mais “redondinha” para quem instala hoje, com menos surpresas no primeiro boot do sistema instalado.
Boas práticas rápidas: download e verificação
Como esta é uma ISO voltada para instalação do zero, é sempre saudável reforçar o básico: depois de baixar, verifique checksum e, quando aplicável, assinaturas, especialmente se você vai instalar em uma máquina que fará dual-boot, trabalho ou uso diário. Não é paranoia, é higiene digital.
Problema conhecido com Windows 11 em dual-boot com systemd-boot (discos separados)
Nem tudo é festa, e o anúncio foi direto sobre o “open issue” que ainda não foi resolvido. Mudanças upstream no systemd-boot estão causando um comportamento em que o Windows 11 pode não bootar quando instalado em um disco separado, em alguns cenários.
O quadro resumido fica assim:
- Com GRUB, funciona.
- Quando EndeavourOS e Windows estão no mesmo disco, não há problema.
- O caso problemático é dual-boot em discos separados usando systemd-boot.
A recomendação oficial é seguir um procedimento específico para adicionar a entrada do Windows no menu do systemd-boot nesses casos.
Comunidade e agradecimentos: quem segura a maratona
O anúncio fecha com agradecimentos que também servem como sinal de vitalidade: o grupo de testes da ISO recebeu um reconhecimento pelo trabalho “meticuloso” nos releases candidates, a comunidade foi elogiada por reportar bugs e ajudar na solução, e há um crédito especial para a contribuição do wallpaper da Ganymede. Pode soar simbólico, mas esse tipo de detalhe, test group ativo, RCs testadas por meses, contribuições de arte, costuma ser justamente o que projetos “mortos” deixam de ter.
