Estudo Apple na App Store Brasil: Crescimento econômico ou defesa?

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Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Uma análise aprofundada sobre o estudo da Apple sobre a App Store no Brasil e como ele se encaixa na batalha regulatória da empresa com o CADE.

A Apple divulgou recentemente um estudo sobre a App Store Brasil, conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que aponta que desenvolvedores brasileiros geraram R$ 63,8 milhões através da plataforma no último ano. Porém, o timing desta divulgação não é meramente informativo: ela ocorre em meio à crescente pressão regulatória do CADE, que investiga práticas da Apple consideradas potencialmente anticompetitivas. Este artigo vai além dos números, contextualizando o estudo dentro da disputa regulatória e analisando o que ele realmente significa para o mercado brasileiro.

Enquanto o estudo destaca a contribuição econômica da App Store para desenvolvedores e empreendedores digitais, a disputa com o CADE coloca em evidência questões como sideloading e métodos de pagamento alternativos — pontos que podem redefinir o modelo de negócios da Apple no Brasil. Entender esses elementos é essencial para desenvolvedores, empreendedores e profissionais de tecnologia que navegam no ecossistema iOS.

O que está em jogo vai muito além de simples taxas ou comissões: trata-se do futuro da distribuição de aplicativos, da competitividade do mercado digital e da sustentabilidade de um modelo que moldou o ecossistema iOS por mais de uma década.

App Store

Os números otimistas da Apple: o que o estudo revela

De acordo com o estudo da FGV, os desenvolvedores brasileiros atingiram 570 milhões de downloads de aplicativos na App Store Brasil, com a receita total chegando a R$ 63,8 milhões. A Apple ressalta que 90% dessa receita é isenta de comissão, pois se enquadra no Programa para Pequenas Empresas da App Store, que cobra 15% ou menos sobre as vendas de produtos e serviços digitais.

O estudo também destaca casos de sucesso como o aplicativo Moisés, voltado para músicos, e iniciativas como as Apple Developer Academies, que funcionam como verdadeiros polos de formação e inovação, reforçando a narrativa de que a App Store é uma plataforma de lançamento de oportunidades para desenvolvedores brasileiros.

Além disso, a Apple enfatiza que o ecossistema não apenas gera receita direta, mas também fomenta oportunidades indiretas, incluindo desenvolvimento de habilidades técnicas, geração de empregos e crescimento do mercado de aplicativos no país.

Por trás dos números: o contexto da batalha regulatória no Brasil

A queixa do Mercado Livre e a pressão do CADE

O processo que envolve a Apple no Brasil começou em 2022, quando o Mercado Livre apresentou uma queixa formal ao CADE acusando a Apple de práticas anticompetitivas, especialmente em relação à imposição de taxas de comissão e à restrição de métodos de pagamento alternativos. O CADE, órgão regulador da concorrência no país, está avaliando se a Apple viola princípios de mercado justo, com prazo final de decisão previsto para outubro.

Sideloading e pagamentos alternativos: o que está em jogo

O termo sideloading refere-se à instalação de aplicativos fora da App Store, prática que a Apple historicamente restringe. A exigência de permitir pagamentos alternativos — fora do sistema de cobrança oficial da Apple — é outro ponto crítico. Se o CADE determinar que a Apple deve abrir essas portas, isso poderia alterar profundamente o modelo de negócios da empresa no Brasil, afetando desde a arrecadação de comissões até o controle de segurança da plataforma.

Um estudo oportuno: estratégia de relações públicas?

A divulgação do estudo da Apple pode ser vista como uma jogada estratégica, oferecendo dados positivos sobre a economia da App Store exatamente quando a pressão regulatória se intensifica. Ao mostrar que a plataforma impulsiona receitas significativas e oportunidades de inovação, a Apple busca influenciar reguladores e opinião pública, reforçando a ideia de que seu modelo beneficia desenvolvedores e empreendedores.

A “economia da App Store”: uma análise crítica da receita

Um dado crucial do estudo revela que 79% da receita na App Store Brasil se refere a produtos e serviços físicos, 12% à publicidade dentro do aplicativo e apenas 10% a produtos e serviços digitais. Essa distinção é fundamental, pois a comissão da Apple de 15% a 30% incide principalmente sobre os 10% de bens digitais.

Ao apresentar os números dessa forma, a Apple argumenta que o impacto de suas taxas é limitado dentro do ecossistema total, tentando minimizar críticas e reforçando a narrativa de que a App Store cria valor sem sufocar desenvolvedores.

O futuro da App Store no Brasil e o paralelo internacional

O prazo de outubro estabelecido pelo CADE será determinante. Caso a Apple seja obrigada a permitir sideloading ou métodos de pagamento alternativos, o mercado brasileiro poderá testemunhar uma transformação significativa, aproximando-se de modelos já adotados em outras regiões.

Na União Europeia, o Digital Markets Act (DMA) já forçou a Apple a permitir lojas de aplicativos de terceiros e sideloading, mostrando uma tendência global de regulamentação que busca equilibrar controle de ecossistema e competição aberta. O Brasil, nesse contexto, não está isolado, e a decisão do CADE pode definir precedentes importantes para a política digital e regulatória do país.

Conclusão: um ecossistema em disputa, da inovação ao controle

O estudo da Apple sobre a App Store Brasil apresenta dados legítimos, mas cuidadosamente selecionados para fortalecer sua narrativa de benefício econômico e inovação para desenvolvedores. A disputa regulatória em curso não é apenas uma questão local: é um capítulo de um debate global sobre o equilíbrio entre segurança, controle e abertura de mercados digitais.

A decisão do CADE poderá redefinir como aplicativos são distribuídos e pagos no Brasil, impactando desenvolvedores, consumidores e o próprio ecossistema iOS.

O que você acha? A Apple está realmente fomentando a economia local ou apenas protegendo seu monopólio? Deixe sua opinião nos comentários.

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